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Opinião | João Guilherme Ripper é exonerado da Sala Cecília Meireles. E qual a surpresa?

Saída do compositor de uma das principais salas de concerto do país é mais um capítulo em uma história antiga de trocas políticas que têm interferido na vida cultural do Rio de Janeiro

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Foto do author João Luiz Sampaio

Surpresa, surpresa, não é. Da mesma forma que se sabe há décadas que a continuidade é fundamental na construção de um projeto cultural sólido, também sabemos que as trocas políticas costumam passar como trator por qualquer tentativa de desenvolvimento de um projeto consistente.

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O Rio de Janeiro tem sido um excelente exemplo. O Theatro Municipal do Rio de Janeiro teve, nos últimos dez anos, onze diretores artísticos, regentes titulares ou presidentes diferentes. Houve momentos melhores e outros (bem) piores, mas, para além de casos isolados, não é possível imaginar voos altos para um teatro que está em constante "renascimento".

Aconteceu de novo, agora na Sala Cecília Meireles. O Diário Oficial trouxe hoje a informação de que João Guilherme Ripper foi exonerado do cargo de diretor. Em seu lugar, assume Aldo Mussi - movimento de acomodação política, como já acontecera, envolvendo o mesmo personagem, no início do curto governo Wilson Witzel.

O compositor João Guilherme Ripper [Ana Branco/Divulgação]  

Ripper passa a atuar agora como assessor especial da Fundação de Artes do Rio de Janeiro, a Funarj, que tem em sua estrutura instituições como a própria sala. E continuará à frente do Programa Gestores, iniciativa que nos últimos anos se propôs, a partir da sala, a refletir sobre a gestão de projetos culturais e formar novos gestores.

Este ano o projeto vai mudar de nome, passará a ser Programa Gestores em Movimento, ampliando seu alcance para diferentes cidades e instituições do país. É prova de seu sucesso. E da ironia sublime de se tirar da gestão de um dos principais espaços culturais do país um gestor cuja experiência tem ajudado justamente a formar uma nova geração de profissionais. E cujo trabalho tem articulado orquestras e teatros Brasil afora (para não falar, claro, da qualidade em si de programação da sala).

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De novo: surpresa, surpresa, não é. E à avidez política por cargos há de se somar também um modelo de gestão que precisa ser repensado. Falar no assunto no Rio de Janeiro é arriscado, pois qualquer possibilidade de mudança de gestão que profissionalize processos e proteja, por pouco que seja, as instituições é recebida com enorme violência. Mas a realidade tem essa mania chata de se intrometer em nossas fantasias. Por quanto tempo ainda será que continuaremos capazes de fingir que, da maneira como está, tudo funciona maravilhosamente bem?

Opinião por João Luiz Sampaio

É editor do Estadão, crítico musical e autor de 'Ópera à Brasileira', 'Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção' e 'Guiomar Novas do Brasil', entre outros livros

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