Jorginho Guinle morre no Rio

Ao saber que estava com um aneurisma na aorta abdominal, o maior playboy brasileiro pediu para deixar o hospital e foi morrer no Copacabana Palace Veja a galeria de fotos

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Por Agencia Estado
Atualização:

Morreu às 4h30 da manhã, aos 88 anos, Jorginho Guinle, no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, onde estava hospedado desde ontem. Ele foi internado na sexta-feita, num hospital em Ipanema, com aneurisma na aorta abdominal, que estava em expansão. Morrer no hotel foi o último desejo daquele que era considerado o último playboy brasileiro. Para deixar o hospital Guinleo assinou um termo de responsabilidade se recusando a ser submetido a uma cirurgia. Guinle vinha da família responsável pela construção do Hotel Copacabana Palace, um dos mais luxuosos do Rio de Janeiro. Além de ter sido um dos playboys mais famosos da história, Jorginho era um grande estudioso de jazz e, em 1953, publicou Jazz Panorama, o primeiro livro sobre jazz escrito no Brasil. Reeditado pela José Olympio, o livro está nas livrarias. Anos depois, em 1997, publicou Um século de boa vida, contendo suas memórias, mas está esgotado. Em vida, ele se gabava de ter seduzido as atrizes Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Romy Schneider. Ao morrer, ele estava acompanhado de enfermeiros e funcionários, e morreu dormindo. O corpo será velado no cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde será enterrado. Um carro da Santa Casa de Misericórdia estava no hotel para o transportar seu corpo até o cemitério. Seus filhos Georgiana e Gabriel permaneceram ao lado de seu corpo. A ex-mulher dele, Maria Helena, foi ao hotel mas deixou o Copacabana Palace ainda pela manhã. Jorginho Guinle morreu na suíte 153, que foi cedida a ele pelo hotel, atendendo ao seu último desejo. Durante muito tempo Jorginho morou no Copacabana Palace. Símbolo do playboy culto, requintado e bem relacionado - O ex-milionário Jorginho Guinle foi um símbolo do refinamento e um dos primeiros divulgadores do Rio no exterior. O homem mais incensado pela sociedade carioca, especialmente nas décadas de 30, 40 e 50, calculava ter gasto cerca de US$ 20 milhões em viagens, festas e presentes para belas mulheres e para as atrizes mais cobiçadas de Hollywood. Era considerado um playboy na melhor essência do termo, ou seja, um homem culto, requintado, bem relacionado e que se orgulhava de nunca ter trabalhado na vida. No Copacabana Palace, hotel que o seu tio construiu, em 1923, e que freqüentava desde os 7 anos de idade, ele chegou por volta das 14 horas de quinta-feira, para sua última estadia. Foi recebido com flores e frutas e um milk-shake de baunilha com calda de caramelo, especialidade que ele costumava pedir ao maitre Ronaldo. Foi hospedado em uma suíte de frente para a piscina, no anexo do hotel, cuja diária custa R$ 1.300,00. Segundo a relações-públicas do hotel, Cláudia Fialho, amiga dele há 20 anos, Jorginho estava sem muito apetite. Ainda assim, almoçou estrogonofe de frango e depois comeu sorvete de framboesa. À noite, foi servido um chá, em louça inglesa. Ele assistiu a um documentário sobre o jazzista Benny Goodman e, mais tarde, à novela Chocolate com Pimenta. Ao sair do hospital e saber que ia para o hotel, disse: "agora eu vou para o céu. Vou para o Copacabana Palace". O amigo Mariozinho de Oliveira contou que o amigo sabia que a morte estava próxima. ?Os médicos disseram que a chance dele sobreviver à cirurgia era de apenas 1%. Ele estava muito mal. Sabia que ia morrer e queria morrer?. Há dois meses, ele havia passado por uma operação de urgência para colocar uma prótese na aorta. ?Desde então, ele estava abatido, se alimentando e bebendo pouco?, contou Mariozinho, que fazia parte do Clube dos Cafajestes, grupo de playboys dos anos 50 que reuniu nomes como João Saldanha, Fernando Lobo, Paulo Soledade e Carlinhos Niemeyer. Seu primo Eduardo Guinle, disse que ele fez um trabalho fundamental: divulgou a imagem do Rio no exterior. ?O Jorge foi um dos grandes responsáveis pela internacionalização da cidade, pois viajava muito e convidava muitos artistas para vir aqui?, disse ontem Guinle, observando que, com a morte do primo, morre também uma parte importante da cidade. ?Ele foi um dos últimos símbolos de charme, elegância e educação de um Rio mais tranqüilo, mais civilizado. Ele amou o Rio tanto quanto as mulheres que teve?. Eduardo contou que o fato de ter gasto toda a sua fortuna e viver, nos últimos ano, de favor na casa de amigos não incomodou Jorginho. ?Ele nunca conjugou o verbo trabalhar. Mas isso não o incomodava. Tinha muitos amigos e continuava almoçando e jantando no Copacabana Palace, a convite da administração do hotel. Ele soube aproveitar muito bem a vida e teve uma vida tranqüila no final?, contou, acrescentando que, atualmente, ele estava morando na casa da terceira mulher, Maria Helena Guinle, em Copacabana. No ano passado, passou três meses hospedado na casa da socialite Ruth de Almeida Prado. Muito resfriada, ela não pôde ir ao enterro por causa do risco de uma pneumonia e falou pouco sobre o amigo. ?Ele já dizia que preferia morrer. Por isso não quis operar. Acho que para ele foi a melhor solução, pois os riscos eram muito grandes. Além disso, tem uma hora que você já está cansado mesmo. Ele adorava muito a vida, mas não tinha nada contra a morte?, revelou ontem Ruth. Ele contava com a solidariedade também de Olavo Monteiro de Carvalho, do grupo Monteiro Aranha. ?A família Monteiro de Carvalho perde um grande amigo, o mais antigo e próximo de meu tio Baby. E com ele se perde uma das últimas lembranças da vida do Rio como uma capital internacional do charme, da classe e do glamour que ele ajudava a promover em torno do Copacabana Palace, do Cassino da Urca e de toda vida cultural e artística da cidade de sua época?, disse Carvalho.

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