É curioso notar que as figuras mais populares no Catolicismo não são padres. Teresinha de Lisieux (1873-1897) era uma freira carmelita. Francisco de Assis (1181/2-1226) era um frade leigo. Os dois não cursaram teologia. Nenhum deles foi à universidade; não eram notáveis intelectuais.
O dia de Teresinha foi celebrado em 1.º de outubro. O de Francisco ocorre neste dia 4, do mesmo mês. As datas, nos dois casos, são as seguintes à morte dela e dele. Santos simples ou, pelo menos, mais simples do que um Tomás de Aquino. Teresinha e Francisco amavam flores. Ela está associada a rosas. Ele apreciava os campos verdejantes da sua Úmbria natal.
Teresinha viveu enclausurada a maior parte da sua breve existência. Francisco viajou mais fora dos muros dos conventos. Ambos encontraram papas. A francesa projetou-se aos pés de Leão XIII e pediu a licença para ingressar no Carmelo antes da idade prevista. Francisco foi com companheiros pedir autorização a Inocêncio III.
Teresinha era atacada de grande secura espiritual: a “noite escura da alma”. Rezava, mortificava-se e sentia pouco prazer interno. Escreveu muito sobre isso. Francisco, em geral, recebia mais o que chamamos de “consolação”. Sua união mística com Cristo era muito intensa. O amor de Teresinha nem sempre pareceu receber retribuição imediata.
Alguém maldoso diria que Teresinha, afinal, era francesa; Francisco um italiano...Teresinha foi muito fotografada. O fato é surpreendente, considerando que estamos no século 19 e dentro de um Carmelo. Ela escreveu um diário e tornou-se doutora da Igreja. Francisco tem pouca coisa escrita atribuída a ele.
O mais famoso texto que as pessoas pensam ser da pena do frade, a Oração de São Francisco, é do século 19, setecentos anos após sua morte. Existem pontos de inflexão em ambos. Em Francisco, foi o dia em que se despiu das ricas roupas de burguês de Assis e devolveu-as ao pai. No caso de Teresinha, ela mesma descrevendo a Missa de Natal de 1886, quando houve uma “conversão completa”.
Estava com 13 anos e faria 14, poucos dias depois. Nos dois casos, era um “ponto sem volta”, uma forma radical de viver conforme aquilo em que acreditavam. Fui a Lisieux uma única vez. É um lugar bonito, de silêncio e de culto. Fui a Assis quatro vezes. Como tenho formação franciscana na origem, senti uma grande alegria em percorrer a basílica na cidade e o vale abaixo.
Os dois santos são fáceis de gostar. A dupla parece ser um tipo raro à época (e hoje): a perfeita combinação de católico com cristão. Ambos eram dotados de imensa esperança em um mundo melhor
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