Uma das belezas da literatura é descobrir um novo autor favorito. Às vezes, lemos uma romance de estreia que chama a atenção logo de cara. Em outras, um escritor já conhecido lança uma história que te cativa e em breve você está buscando por todos os trabalhos do autor.
É difícil prever qual escritor ganhará destaque, afinal, são muitos livros inéditos lançados todos os anos, mas podemos escutar quem entende do assunto para fazer algumas apostas.
O Estadão já fez uma seleção de obras que devem ter destaque em 2025 e, agora, convidou editores e críticos literários para apontarem autores em quem vale a pena ficar de olho neste ano, seja por uma estreia promissora ou um livro aguardado. Confira:
Ana Lima indica Mayra S. Mayor
Ana Lima, editora executiva da Rocco, aponta a escritora Mayra S. Mayor como uma das apostas para 2025. Autora dos romances Meu Mar te Espera (Autopublicação, 2022) e Bordados Imperfeitos (Jaguatirica, 2020), ela lança neste ano Se Eu Soubesse Contar Infinitos, seu primeiro livro pela Rocco.
A trama acompanha uma família brasileira ao longo de décadas, com saltos de tempo para os anos 1960, 1980 e 2000. “É uma história tocante sobre três gerações de mulheres, avó, filha e neta, e também abandono, redenção, maternidade, passagem do tempo, trauma geracional e como a vida corre diferente do planejado”, diz Ana.
Leia também
André de Leones indica Ali Smith
O escritor e crítico literário André de Leones indica a escocesa Ali Smith e argumenta que a autora merece mais espaço nas editoras brasileiras. “Em 2025, [ela] lançará um díptico: Gliff e Glyph. É verdade que o mercado editorial brasileiro parece ter se esquecido dela. No Brasil, não foi lançado nem mesmo seu quarteto sazonal', uma série de quatro livros (Autumn, Winter, Spring e Summer) publicados entre 2016 e 2020."
“Neles, observamos como os descalabros do mundo (refugiados, Trump, Brexit etc.) afetam diretamente a vida de pessoas comuns, tudo isso com o humor e a inventividade típicos da autora. É torcer para que os editores nacionais se lembrem de Smith e voltem a publicar seus livros por aqui”, diz Leones.
No Brasil, Smith teve seis obras publicadas pela Companhia das Letras. A mais recente delas é Como Ser as Duas Coisas, de 2016, eleito um dos melhores livros do século 21 pelo The New York Times.
Marcelo Ferroni indica Vinícius Neves Mariano e Verena Cavalcante
Marcelo Ferroni, escritor e publisher dos selos Suma e Alfaguara, da Companhia das Letras, cita dois nomes para ficar de olho neste ano. O primeiro é Vinícius Neves Mariano, autor de Velhos Demais para Morrer (Malê, 2020), livro que venceu o Prêmio Malê de Literatura e foi finalista do Jabuti.
Ele lança pela Alfaguara o livro de contos A Pele em Flor. “É um livro incrível, que transita entre a realidade e o imaginado para falar de identidade, preconceito e dos traumas ainda presentes da escravidão. É um texto elaborado e acessível, emocionante”, diz Ferroni.
O segundo nome citado pelo editor é Verena Cavalcante, escritora e tradutora, autora de Inventário de Predadores Domésticos (Darkside, 2021). A Suma publica, em junho, o primeiro romance da autora, que Ferroni promete ser bom: “É um baita livro de terror, puro terror, que dialoga com escritoras latino-americanas contemporâneas, como Mariana Enríquez e Monica Ojeda, mas com um toque muito brasileiro, das bizarrices da cultura pop sensacionalista dos anos 1990.”
Juliana Rodrigues indica Marcelo Leite
Juliana Rodrigues, editora da Fósforo, chama a atenção para o próximo lançamento do jornalista Marcelo Leite, autor de Psiconautas (Fósforo, 2021). Em No Reino Encantado de Jurema: Raiz Psicodélica da Caatinga que Uniu Indígenas e Africanos na Resistência Anticolonial, ele retoma o tema das plantas com psicoativos e seu papel em comunidades ancestreais - neste caso, a jurema-preta, planta típica da região Nordeste.
“Neste livro, Marcelo Leite volta ao mundo dos psicodélicos para nos apresentar a jurema, que é planta, religião, entidade e bebida, e está envolvida diretamente na cultura brasileira à medida que faz parte de rituais negros e indígenas. Um livro sobre os poderes ancestrais da natureza e a experiência de um jornalista que viajou o Brasil para descobrir essa planta e entender o culto ao redor dela”, afirma.
Wilson Alves-Bezerra indica Ricardo Lísias e Prisca Agustoni
Poeta, tradutor e crítico literário, Wilson Alves-Bezerra indica uma obra de prosa e outra de poesia para se prestar atenção em 2025. A primeiro é Brasília, de Ricardo Lísias, que sai pela Alfaguara: “Romance de fôlego que parte da construção de Brasília e segue até o fatídico dia 8 de janeiro de 2022. O livro promete coroar as obras que tratam da política brasileira contemporânea, às quais o autor tem se dedicado na última década.” Lísias também é autor de Uma Dor Perfeita (Alfaguara, 2022) e Divórcio (Alfaguara, 2013), entre outros.
Na poesia, ele indica Quimera, novo livro da escritora, tradutora e professora suíço-brasileira Prisca Agustoni, que chega já em janeiro pelo Círculo de Poemas. Alves-Bezerra descreve a autora, vencedora do Prêmio Oceanos, como “uma voz aguda e multilíngue que transita entre o lírico e o político, como em seu premiado O Gosto Amargo dos Metais.”
Gustavo Faraon indica Izabella Cristo
Gustavo Faraon, cofundador da editora Dublinense, indica a paraense Izabella Cristo como uma das autores que merecem destaque neste ano. Ela foi a vencedora da primeira edição do Prêmio Caminhos de Literatura com o romance Mãezinha, em uma comissão avaliadora formada por Micheliny Verunschk e Marcelo Moutinho.
A obra conta a história de uma cirurgiã que enfrenta um parto prematuro, o que faz com que ela e o filho lutem pela vida na UTI, e será publicada em abril pela Dublinense. Faraon destaca que o lançamento será realizado durante a Flipoços, o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas, “onde a autora é convidada especial, além de já ter vários convites para festivais e festas literárias em 2025.″
Cassiano Elek Machado indica Neige Sinno, Maylis de Kerangal e Beatriz Serrano
Diretor editorial do Grupo Editorial Record, Cassiano Elek Machado aponta três nomes para ficar de olho em 2025: Neige Sinno, Maylis de Kerangal e Beatriz Serrano. A primeira, francesa de 47 anos, lança pelo selo Amarcord a autobiografia ensaística Triste Tigre, na qual uma mulher relata os traumas dos abusos sofridos do padrasto.
Kerangal, também francesa, vai lançar o romance Dia de Reação, finalista do Prêmio Goncourt, pela Record. No livro, que ele chama de “falso thriller,” a protagonista encontra um homem morto com um ingresso de cinema com seu telefone escrito, o que a leva a retornar à cidade onde cresceu e que não visita desde os 20 anos.
Já Serrano, espanhola, “irrompeu com enorme impacto na cena literária espanhola no ano passado com um romance sobre um tema pouco corrente na ficção contemporânea, os tédios e aborrecimentos da vida laboral corporativa”, diz Machado. No livro O Descontentamento, que chega ao Brasil pela Record, ela descreve o dia a dia de uma gestora de mídias sociais de uma agência de publicidade em Madrid.
Eloah Pina indica Tati Bernardi
Eloah Pina, editora da Fósforo, indica a escritora Tati Bernardi, que, em 2025, vai lançar um livro (ainda sem título) pela casa editorial. A obra faz parte da onda da autoficção e será ambientado em uma festa em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo, para comemorar os 40 anos da autora. Tudo corre bem, até que uma mensagem de uma amiga avisando que errou o endereço da festa dá início a uma crise de pânico na protagonista.
“Este romance de Tati Bernardi cutuca a ferida, torce o dedo dentro dela e depois o lambe, rindo. É autoficcional e também um retrato da elite brasileira. Com ele, a autora dá um passo adiante na tradição da autossociobiografia, acrescentando camadas de ironia e humor às narrativas de ascensão de classe. Ao se organizar, a raiva explode, grita ‘o rei está nu!’, vai aos poucos assentando, encontra seu lugar, ora ou outra veste o traje de piada, e nós, leitores, no final, resfolegamos e saímos do livro com o viço renovado”, diz Pina.
Bônus: Outros destaques da literatura em 2025, por Dirce Waltrick do Amarante
Ensaísta e crítica literária, Dirce Waltrick do Amarante faz apostas diversas para 2025. Leia:
“A obra de Oswald de Andrade cai em domínio público em 2025, talvez venham novas edições com novos estudos críticos. Essa seria a minha aposta brasileira para 2025. Aliás, talvez no próximo ano seja publicado um livro de ensaios sobre Oswald de autoria de Alexandre Nodari, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, pela editora Cultura e Barbárie, editora que irá também publicar o segundo romance, Aminabad, do escritor e pensador francês Maurice Blanchot, em tradução de Davi Andrade Pimentel. O livro é de 1941 e a personagem central sofre do mal de escrita, com frases e pensamentos labirínticos que não levam a personagem nem o leitor a um lugar específico. Compara-se o romance à prosa kafkiana, como o fez Sartre.
Seguindo nas apostas em clássicos mais ousados: a editora Iluminuras publicará Silvia e Bruno (1893), último romance de Lewis Carroll, livro com mais de seiscentas páginas e repleta de ilustrações, com destaque às invenções absurdas de um professor, tão absurdas quanto a “invenção” do Ocean Gate que levou à morte de seus tripulantes. A tradução é de Sérgio Medeiros.
Já a editora Temporal, especializada em publicações de textos teatrais, fechará a trilogia Eugène Ionesco (que começou com a publicação da peça Macbeth) com o lançamento em 2025 de Vítimas do Dever (1953), em tradução de Bruno Brandão Daniel, e A Cantora Careca (1950), na minha tradução. Nada mais atual do que o comportamento absurdo da sociedade retratada comicamente pelo dramaturgo, alienada de todos os problemas e centrada em coisas comezinhas.
A editora Jabuticaba vem com A Divina Mimesis, livro póstumo publicado em 1975 por Pier Paolo Pasolini, no qual ele conta seu périplo pelo inferno neocapitalista italiano dos anos 1960, a tradução é de Cláudia Alves. A editora também publicará uma antologia de poemas de Katherine Mansfield, em tradução de Katherine Funke, Laura Chagas, Lúcia Pais e Tatiany Guedes.
No mais, como diz a artista e ativista chilena Cecilia Vicuña, o que fica de fora talvez seja o mais importante."
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.