O Dia Mundial da Poesia é comemorado em 21 de março. A data foi escolhida durante a 30ª Conferência Geral da Unesco, em 1999, com o objetivo de, entre outras coisas, facilitar o intercâmbio cultural, promover a diversidade das línguas e ajudar os jovens a redescobrir valores essenciais e a refletir sobre si mesmos.
Neste Dia Mundial da Poesia, o Estadão selecionou três poetas contemporâneas. Duas brasileiras - Luiza Romão, de 31 anos, a grande vencedora do Prêmio Jabuti 2022, e a slammer Mel Duarte, de 34 anos, e a polonesa Krystyna Dabrowska, de 44 anos, que teve seu primeiro livro publicado no Brasil no ano passado.
Luiza Romão
Nascida em Ribeirão preto em 1992, Luiza Romão já tinha publicado os livros Sangria (2017) e Coquetel Motolove (2014), pelo selo doburro, e Nadime (2022), uma história de detetive feminista narrada em versos, quando se consagrou no Prêmio Jabuti no ano passado. Seu livro Também Aqui Guardamos Pedras (Nós), o melhor na categoria poesia, foi também o Livro do Ano da tradicional premiação. Releitura da Ilíada do ponto de vista feminista, a obra se volta à guerra de Tróia para demonstrar como a literatura ocidental foi erguida sobre a violência, em especial, contra a mulher.
Também Guardamos Pedras Aqui (Editora Nós; 128 págs.; R$ 60; R$ 42 o e-book)
Mel Duarte
Escritora, poeta, slammer e produtora cultural, Mel Duarte nasceu em 1988 em São Paulo e atua com literatura desde 2006. Ex-integrante dos coletivos Slam das Minas e Poetas Ambulantes, ela foi a primeira mulher a vencer o campeonato de poesia falada Rio Poetry Slam e a primeira slammer negra brasileira a lançar um disco de poesia falada - Mormaço: Entre Outras Formas de Calor está disponível nas plataformas musicais. Mel publicou os livros Fragmentos Dispersos (2013); Negra Nua Crua (2016, Editora Ijumaa), que foi depois traduzido para o espanhol e publicado pelas Ediciones Ambulantes, de Madrid; Querem Nos Calar: Poemas Para Serem Lidos em Voz Alta (2019, Editora Planeta); e Colmeia: Poemas Reunidos (2021, Editora Philos). Este seu livro mais recente traz textos escritos de 2012 a 2020 organizados em três capítulos: Pólen, Favo e Néctar. A poeta lançou, ainda, os infantis As Bonecas da Vó Maria (2018) e A Descoberta de Adriel (2020), dentro do projeto Leia Para Uma Criança, do Itaú Social.
Colmeia: Poemas Reunidos (Philos; R$ 50)
Krystyna Dabrowska
A polonesa Krystyna Dabrowska (lê-se dombrofska) estreou na literatura em 2006, com Agência de Viagens, ganhou importantes prêmios em seu país, foi traduzida para 17 idiomas e só recentemente, em 2022, ela teve seus poemas publicados no Brasil. Poeta, ensaísta, tradutora e artista gráfica nascida em 1979, ela, nas palavras do tradutor Piotr Kilanowski, faz de seus poemas pequenas narrativas, escritas numa linguagem precisa e relativamente simples. Foi ele quem selecionou, de quatro livros da autora, os poemas que integram o volume Agência de Viagens (Ayiné). Kilanowski destaca ainda, no prefácio, que “as meditações líricas sobre o mundo ao seu redor são repletas de observações minuciosas e surpreendentes”, e fala sobre a qualidade fotográfica de seus poemas e sobre a preocupação de expressar o ponto de vista feminino.
O Caminho das Abelhas
A morte é uma puta no palco, escreve para mim
uma poeta portuguesa na resposta
à minha mensagem sobre o enterro da avó.
Na verdade ela escreve: é uma curva na estrada,
mas, como é sabido, a estrada de uma língua
para a outra está cheia de curvas.
Uma vez lhe contei – em inglês –
um poema de Leśmian, no qual as abelhas por engano,
fizeram uma curva para o mundo, ou desmundo, dos mortos.
Ela tentava pronunciar a palavra abelha – pszczoła.
Chegou perto: falou pessoa.
É do Pessoa a citação: A morte é uma curva na estrada.
Eu a prefiro na errada tradução polonesa.
E você, o que diria, vovozinha?
Ouça a seguir a poeta declamando um de seus textos em polonês
Agência de Viagens (Âyiné, 156 págs.; R$ 69,90)
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