‘A ficção é uma verdade que, às vezes, ainda não aconteceu’, diz autora de ‘Tudo é Rio’ na Flip

Escritora mineira participou com Silvana Tavano e Mariana Salomão Carrara da última mesa da Flip 2024; elas falaram sobre processos criativos, entre outras questões

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Foto do author Ubiratan Brasil
Carla Madeira, Silvana Tavano e Mariana Salomão Carrara participam de debate no último dia da Flip Foto: @WalterCraveiro/FLIP2024

Os diversos caminhos que levam à criação de um romance inspiraram a última mesa da 22ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, na manhã deste domingo, 13. Carla Madeira, Silvana Tavano e Mariana Salomão Carrara encontraram algumas semelhanças, mas muitas distinções em seus processos criativos.

”Começo sempre por uma fagulha, algo que vai me direcionar porque não penso em como será trama. Eu me transformo em um corpo que se coloca muitas perguntas”, comentou Madeira, atualmente o nome nacional com as maiores vendagens de livros.

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Pelo mesmo caminho segue Mariana, que é inspirada por uma frase que, por sua vez, inspira outra e o processo se desenvolve. “O curioso é que, para escrever, é preciso ser uma pessoa sincera até encontrar a verdade da história que, por ser ficção, não passa de uma mentira”, comentou. Silvana lembrou que o início pode vir de um sonho, de algo que alguém contou ou mesmo de um documentário - foi o que ocorreu com seu livro Ressuscitando Mamutes.

“Existe muita pesquisa genética sobre esse assunto apontando como uma das soluções para os problemas climáticos. Isso me intrigou porque, em minha obra, o tempo sempre me inquieta. É buscar no passado uma solução para o futuro.

Sobre o conceito de verdade que ronda a ficção, algo aparentemente improvável, as escritoras responderam com originalidade. “A ficção é uma verdade que, às vezes, ainda não aconteceu. Portanto, é algo que precisa ser contado”, ponderou Carla, cujo pensamento foi acompanhado por Mariana (“A linguagem serve para nos desarmar”) e também Silvana (“As palavras nomeiam o invisível”).

Outro tema levantado pela mediadora Adriana Couto foi a escolha dos narradores. Autora de A Árvore Mais Sozinha do Mundo, no qual a história é narrada por um casaco, um espelho, um carro e também por uma árvore, Mariana disse que opção surgiu ao decidir manter a narração em primeira pessoa, mas não a partir de seres humanos. “São objetos que apresentam um olhar muito particular de seus donos, algo que talvez uma pessoa não pudesse apresentar.

O espelho, por exemplo, é cínico, enquanto a árvore tem uma devoção ao ser humano”, disse. Já Carla Madeira aponta esse como maior desafio de um autor: qual voz escolher? “Busco personagens que, mesmo não tendo algo novo para contar, se apresentam com menos poeira na sua trajetória, o que lhe permitem ver as coisas com mais frescor. Afinal, é a palavra que vai permitir a construção de todo tipo de liberdade”, diz ela, seguida no mesmo raciocínio por Silvana, para quem o tempo é o principal aliado. “Como não é real, ,palpável, ele se transforma no principal personagem das minhas obras”, disse.

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