Análise: Hilda Hilst parece mais viva do que muitos poetas vivos

Escritora não se iludia a respeito da brutalidade das palavras e foi contra a estupidez e o escárnio que sempre escreveu

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Por José Castello

Se queremos saber o que é a poesia, nada melhor do que dar atenção à voz dos próprios poetas: “Porque imperfeito és carne e perecível/ E o que eu desejo é luz e imaterial”, responde Hilda Hilst no canto II de Da Noite, um dos livros incluídos em Do Desejo, de 1992. Muitos se perguntam a razão do crescente sucesso da poesia de Hilda, que se expande desde sua morte, em 2004, em um percurso paralelo à difusão da internet. Pois a resposta está aí. Esses dois frágeis, mas belos, versos nos trazem uma pista importante: o objeto que nos atrai, e que ao mesmo tempo nos escapa, é o impalpável de que fala Hilda. Não o que não existe, mas o que está ali e, no entanto, não se pode tocar. Tudo o que fica além da matéria, mas, apesar disso, constitui o presente também.

Estrelas. Hilda (E) e Lygia Fagundes Telles se encontraram na Faculdade de Direito e seguiram amigas a vida toda Foto: Acervo Hilda Hilst

* JOSÉ CASTELLO É ESCRITOR, JORNALISTA E CRÍTICO LITERÁRIO, AUTOR DE 'RIBAMAR' E 'O INVENTÁRIO DAS SOMBRAS', ENTRE OUTROS

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