O que você teria perguntado para o seu autor favorito quando criança se pudesse? Foi com este pensamento que o Estadão convidou crianças e pré-adolescentes a enviarem perguntas para Jeff Kinney, nome por trás do fenômeno Diário de Um Banana - ele desembarca no Brasil para participar, no sábado, 14, da 27ª Internacional do Livro de São Paulo, no Distrito Anhembi.
Com cerca de 12 milhões de exemplares vendidos somente no País, a série de livros é sucesso enorme entre o público infantojuvenil. Dias antes de embarcar, Kinney, escritor e cartunista americano de 53 anos, respondeu às perguntas dos leitores mirins. Assista ao vídeo acima e veja as perguntas e respostas no final do reportagem.
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“Tenho um carinho enorme por meus leitores brasileiros. O Brasil foi um dos primeiros países fora dos Estados Unidos a se apaixonar por Greg, e sou muito grato por isso”, diz ele à reportagem, desta vez por e-mail. De fato, a aposta da VR Editora nas histórias do estudante de 12 anos, lá em 2008, foi certeira e ajudou no crescimento do grupo editorial argentino no País.
Desde então, foram outros 17 volumes, seis filmes (entre eles, duas animações) e até um musical - que Kinney espera trazer ao Brasil. Prestes a lançar Diário de um Banana 19: Baita Lambança, ele admite que, com o tempo, fica mais difícil manter a criatividade, mas afirma que gosta “do desafio de criar novas histórias e novas situações com os mesmos personagens.”
Diferentes gerações
Jeff Kinney recorda uma viagem pela América do Sul em 2023 (sem passagem pelo Brasil), quando centenas de jovens na faixa dos 20 anos foram conhecê-lo: “Fiquei muito emocionado com isso”. É o sinal de que, 17 anos após a publicação de seu primeiro livro, o autor atingiu uma geração de leitores que agora já chega à vida adulta.
“É empolgante pensar que tive um impacto sobre o senso de humor de toda uma gama de jovens. Mal posso esperar para ver como essa influência se manifesta em livros, quadrinhos e, talvez, até mesmo em comédia stand-up ou escrita para televisão. Estou entusiasmado com essa próxima onda de criadores”, comenta.
Com a primeira geração que o tornou um best-seller já crescida, ele teve o desafio de conquistar uma nova leva de crianças e pré-adolescentes, mas afirma não pensar muito sobre isso: “Quando estou escrevendo um livro do Banana, não estou pensando no público leitor. Estou pensando em como fazer uma piada ou contar uma boa história”.
Mesmo sem mudar sua abordagem, admite que há desafios: “A realidade é que os celulares fazem parte da vida cotidiana das crianças hoje em dia e, há 15 anos, isso não acontecia. Eu diria que vivemos em uma economia da atenção e, como autores, temos de escrever histórias que competem com as telas. Temos de nos certificar de que estamos escrevendo histórias envolventes e que merecem a atenção de nossos leitores.”
Eu diria que vivemos em uma economia da atenção e, como autores, temos de escrever histórias que competem com as telas.
Jeff Kinney
E como continuar fazendo isso? Kinney espera divertir seus leitores com as aventuras do protagonista Greg Heffley, inspirado pela própria infância do autor. O garoto sonha em ser rico e famoso, mas simplesmente não consegue se tornar popular na escola. É arrogante e cheio de defeitos, mas é daqueles anti-heróis que rapidamente conquistam o leitor.
“Acho que os personagens heroicos são importantes, porque são inspiradores. Mas, na comédia, um personagem inspirador pode ser um pouco chato. A comédia vem das falhas, e pode ser mais profunda quando vemos essas falhas em nós mesmos”, aponta o autor. E Kinney garante: mesmo que as crianças queiram saber o que acontece com Greg quando ele crescer - como demonstram suas perguntas -, ele permanecerá o mesmo.
“Acho que é natural que os leitores queiram ver Greg crescer. Mas, como personagem de desenho em quadrinhos, ele está parado no tempo. É assim que gostamos de nossos personagens de desenho - confiáveis. Eles são como um cobertor de segurança. Quem quer ler sobre um Pato Donald idoso?”, diz.
Jeff Kinney na Bienal do Livro e na Livraria da Vila
Jeff Kinney participa da Bienal do Livro de São Paulo no sábado, 14, em uma conversa na Arena Cultural, às 12h15, mediada por Lavínia Rocha. Depois, às 13h15, ele fará uma sessão de autógrafos no Salão Cultural - as senhas foram distribuídas antecipadamente e já estão esgotadas.
No domingo, 15, ele estará na Livraria da Vila do Shopping Center Norte, às 15h, para outra sessão de autógrafos. As senhas começaram a ser distribuídas na quinta, 12, no local. Até o fechamento deste texto, ainda haviam senhas disponíveis, mas vale ligar no estabelecimento para conferir: (11) 4210-1362.
Crianças entrevistam Jeff Kinney
- Você já teve a ideia ou quis fazer um livro em que o Greg fosse um adulto, tivesse filhos e um trabalho - um livro que contasse um pouco dessa fase adulta? (Maria Fernanda, 11 anos)
Eu já pensei no Greg ficando mais velho, mas acho que ele deve manter a mesma idade. O que é realmente divertido nos personagens de desenho é que eles permanecem os mesmos, são sempre de confiança. Portanto, o Greg vai ficar exatamente onde está, mesmo que você cresça.
- Um dia, quando os personagens do Banana crescerem e ficarem maiores, vai ter uma continuação com os filhos deles? (Isabel, 12 anos)
Ótima pergunta. Eu nunca vou deixar o Greg crescer. No entanto, às vezes imagino como seria para ele ter seus próprios filhos. E neste livro imagino o Rodrick tendo filhos e imagino o Greg tendo seus próprios filhos. Então, às vezes, eu faço isso na fantasia.
- No que você se inspirou para fazer ‘Diário de um Banana’? (Sophia, 11 anos)
Minha inspiração para escrever Diário de um Banana foi minha própria infância. Então, escrevi todas as coisas engraçadas que aconteceram comigo quando era criança e as coloquei em um só lugar, depois as coloquei no liquidificador da ficção e as misturei. Portanto, Diário de um Banana não é autobiográfico, mas tem elementos autobiográficos.
- Depois que uma criança lê todos os livros de ‘Diário de um Banana’, o que você sugere que ela leia? (Francisco, 7 anos)
Bem, como autor da série Diário de um Banana, é claro que eu recomendo que você comece do início e leia todos os livros novamente.
- Em quem ou em que você se inspirou para escrever Diário de um Banana e quantos livros ainda vêm por aí? (Felipe, 12 anos)
Minha inspiração para me tornar cartunista foi meu pai, que me apresentou os quadrinhos do Pato Donald e do Tio Patinhas quando eu era criança, e estou planejando escrever pelo menos 23 livros de Diário de um Banana, talvez mais.
- De onde você tira tanta inspiração para fazer 18 livros sobre o mesmo personagem? (Luiza, 11 anos)
É difícil continuar escrevendo mais e mais livros sobre o mesmo tema, mas acho que esse é um desafio muito divertido. E acabei de terminar, hoje, meu 19º livro e ele parece tão novo quanto o primeiro, então isso é muito bom.
- Como foi fazer o design dos personagens tantas vezes nos livros? (Felipe, 9 anos)
É engraçado redesenhar esses personagens de novo e de novo e de novo, mas há algo de divertido nisso também. É muito bom saber que crianças como vocês lerão os livros, o que me mantém motivado a continuar desenhando esses personagens.
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