Quem entra no BETC Havas Café, na rua Oscar Freire, em São Paulo, pode ficar um pouco confuso. É uma livraria? Uma cafeteria? Um bar? Um escritório? As revistas importadas ocupam a primeira parede, que logo se transforma em estantes cheias de livros. Na entrada, uma escada convidativa ao lado de um letreiro. No fundo, um balcão onde você pode pedir seu café, um lanche, um prato mais elaborado, um drinque ou até um vinho.
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Na verdade, o lugar é o resultado de uma parceria entre uma agência de publicidade, um restaurante e uma livraria. É também um dos estabelecimentos na capital paulista que combinam a gastronomia, a coquetelaria, a boêmia ou aquele cafezinho com a literatura. Afinal, que leitor não quer estar cercado por livros, independentemente de onde seja? Conheça histórias e lugares de São Paulo para amantes de livros.
BETC Havas Café
Durante a pandemia, a agência de publicidade BETC Havas abriu mão de dois andares de seu escritório próximo ao Shopping Cidade Jardim. Quando a coisa começou a voltar ao normal, foi mais difícil convencer os funcionários a voltarem ao trabalho presencial. Foi aí então que o sócio e CEO Erh Ray teve a ideia de construir um espaço mais descontraído para a empresa nessa retomada.
“Queríamos trazer de volta as pessoas em um ambiente mais criativo”, explica ele ao Estadão. Para Ray, um café seria um espaço ideal, pois é onde as boas ideias começam. Encontraram um prédio na Oscar Freire, a apenas uma quadra do metrô, e começaram a colocar o projeto em prática.
“Como é um espaço aberto para rua, achamos que seria legal que o piso térreo fosse aberto ao público e pudesse atrair pessoas que não têm nada a ver com a nossa indústria”, conta o publicitário. Assim nasceu o BETC Havas Café, que contrata o serviço de um restaurante para os clientes e funcionários.
E então a Prince Books entrou na história. Evane Oliveira, o fundador da livraria, tinha uma unidade na Oscar Freire antes da pandemia. Erh Ray, que já conhecia Oliveira, convidou o fundador para manter seu negócio dentro do prédio. O local foi inaugurado oficialmente em setembro de 2022.
“Ele fez o convite e, claro, aceitei na hora”, conta o livreiro. “As pessoas vêm tomar café aqui e há aqueles que vêm para eventos, e todos acabam vendo que é uma livraria diferente. Os livros são bonitos e de temas variados, como arte, arquitetura e design. E tem também romances e best-sellers.”
De forma orgânica, o estabelecimento acabou crescendo nas redes sociais. Já apareceu em vídeos no TikTok e acumula mais de 13 mil seguidores no Instagram. “Eu acho que a cidade tem uma carência de espaços como esse. Você vê grandes livrarias fechando ou diminuindo. Tem uma fome das pessoas de explorarem mais espaços culturais ou espaços que fomentem a criatividade”, diz Erh Ray.
- BETC Havas Café. Rua Oscar Freire, 1.128 - Cerqueira César, São Paulo. Aberto todos os dias. Segunda a sábado: 9h às 20h. Domingo: 9h às 18h30.
Lardo - Bar e Sebo
Em um canto um pouco escondido da Pompeia, na zona oeste de São Paulo, fica o Lardo - Bar e Sebo, um espaço que mistura a informalidade, a boa gastronomia e a literatura. Para além das mesas e quadros decorativos, longas prateleiras de livros ocupam as paredes do lugar.
Ricardo Sukys e dois amigos de infância, João Próspero e Diogo Bardal, todos na casa dos 36, 37 anos, sempre quiseram abrir um restaurante. O sonho começou a se realizar em 2020, mas foi logo interrompido pela pandemia de covid-19. Foram 18 meses parados antes de retomar a reforma do imóvel na rua Guiará e oficialmente abrir o lugar, em 2021.
“Nesse meio tempo, fui vendo meus acervos de livros, fiz uma mudança. Falei: ‘vou aproveitar e deixar uns livros em algum canto lá [no bar]’. Percebi que tinha bastante coisa. Comecei a ir atrás de sebos, pegar doações e fazer uma curadoria”, conta Sukys. E assim o Lardo virou, também, um sebo.
Para ele, os livros - cujo preço varia entre R$ 20 e R$ 80 - contribui para a “mise-en-scène” (expressão francesa relacionada à encenação ou composição de uma cena) do local. “Hoje temos um acervo pequeno, porém, bem curado, de literatura estrangeira, nacional, cinema, música, quadrinhos e história. Gosto de garimpar sebos e sempre procuro colocar coisas aqui que são legais”, explica.
O Lardo oferece um cardápio extenso de coquetéis, vinhos, cervejas, além de porções autorais por volta dos R$ 45. O público também aparece em peso, em especial nas sextas e sábados à noite. No Instagram, o bar já tem mais de 20,8 mil seguidores.
- Lardo - Bar e Sebo. R. Guiara, 376 - Pompeia, São Paulo. Quarta, quinta e sexta: 18h às 22h30. Sábado: 12h30 às 16h30 / 18h às 22h30.
Ria Livraria
Para os saudosos da Mercearia São Pedro, bar que foi reduto de escritores e artistas em São Paulo e fechou permanentemente em fevereiro, não há local melhor do que a Ria Livraria. Fundada por Marcos Benuthe, 66, um dos herdeiros da “Merça”, que deixou o negócio da família antes do fim, por causa de desentendimentos com o irmão, a Ria ocupa um espaço pequeno, mas charmoso, ao lado do metrô Vila Madalena.
Com todos os elementos de seu antecessor - os pôsteres de filmes, recados de escritores amigos nas paredes e muitos livros -, a Ria existe já há pouco mais de dois anos e faz a mesma junção entre boêmia e o cenário literário brasileiro. “No primeiro dia em que a gente abriu, já tivemos um lançamento”, lembra Marcos ao Estadão.
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“Em dois anos, já fizemos mais de 100 lançamentos. Temos vocação para ser um boteco e gostamos muito de literatura. Temos muitos livros de autores contemporâneos brasileiros. A nossa madrinha é a Morgana Kretzmann [vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura e que no dia 23 de março fará o lançamento de seu segundo romance, Água Turva, na Ria]”, completa.
Para Benuthe, o foco da Ria é criar essa comunidade entre clientes, amigos, escritores e pessoas do bairro. “A gente vende bastante. Não se compara a uma mega livraria, mas para o nosso tamanho [sim]. Aí, [soma] a ‘cervejinha’ e os petiscos, pelos quais somos conhecidos. Trouxemos as porções, os pastéis e os sanduíches desde a Mercearia São Pedro”, diz Marcos.
Neste ano, inclusive, a Ria terá seu próprio prêmio literário. Organizado pelo escritor Jorge Ialanji Filholini, que tem sido um “braço direito” de Marcos, a premiação terá três vencedores. Eles vão er seus livros publicados pelo Selo EditoRia, que estreou em 2023, e vão receber R$ 10 mil (primeiro colocado) R$ 6 mil (segundo) e R$ 4 mil (terceiro).
“Lançamos um edital e tivemos 2.520 projetos recebidos”, conta Marcos. O resultado da primeira fase, com 30 finalistas, será divulgado no dia 25 de março.
- Ria Livraria. R. Marinho Falcão, 58 - Sumarezinho. De segunda a sábado: 16h às 00h
Café com Quintal
Um casarão antigo, um quintal charmoso, comida boa e estantes com livros de todos os tipos: novos, antigos, ficção, não ficção, infantil, contos, poemas. A única regra é: não tem regra. Os clientes do Café com Quintal podem pegar livros emprestados, levar para casa, devolver (ou não) e, quando estiverem dispostos, doar novos exemplares para a coleção.
Próximo aos colégios Bandeirantes e Benjamin Constant, o espaço foi inaugurado em 2019 e ficava apenas na primeira sala de uma grande casa (as outras eram alugadas por outras empresas) na Vila Mariana. A pandemia veio, funcionários precisaram ser demitidos e os três sócios, os amigos Walter Torrado, Rai Teichimam e Gustavo Dermendjian, tiveram que “segurar as pontas”.
Até que o trabalho presencial voltou e as coisas começaram a mudar. “Foi crescendo, o pessoal que alugava não conseguiu ficar e tinha um espaço cultural lá no fundo [no quintal], onde a Rai dava aulas de teatro. Ficava a parte artística junto com a cafeteria, até que ela foi precisando de mais sala. Lá no fundo, hoje, alugamos para eventos e promovemos alguns programas culturais”, conta Walter.
O Café com Quintal serve diversos tipos de cafés, sucos, chás e até drinques, cervejas e vinhos. Os salgados, sanduíches, tortas e bolos, que ficam na faixa dos R$ 10 a R$ 25, são receitas tradicionais ou passadas por familiares e amigos. Quem visitar a casa também vai reparar que o espaço é todo decorado para lembrar um casarão antigo, da máquina de escrever ao telefone no canto da sala.
“A ideia inicial era que os livros fossem como a decoração de uma ‘casa de vó', mas aí percebemos que era uma coisa muito legal, que as pessoas vinham, pegavam, queriam ler. Então começamos a até pedir para as pessoas”, diz Walter. “O diferencial aqui é que não temos controle. Não é nada formal. É uma coisa muito leve. Achamos legal porque é cultura, vai passar de um para outro.”
- Café com Quintal. Rua Eça de Queiroz, 122 - Vila Mariana, São Paulo. Terça a sexta: 8h às 20h. Segunda, sábado e domingo: 8h às 18h.
Outros 4 bares e cafés em São Paulo para amantes de livros
- Yerba + Por um Punhado de Dólares. R. Pirineus, 86 - Campos Elíseos. Aberto todos os dias: 9h às 22h. Saiba mais.
- Patuscada - Livraria, bar & café. Rua Luís Murat, 40 - Vila Madalena. Terça, quinta e sexta: 11h às 22h. Sábado: 17h às 22h. Saiba mais.
- Barouche. Medeiros de Albuquerque, 401 - Vila Madalena. Terça a sábado: 15h às 23h. Saiba mais.
- Sebo Pura Poesia. Rua Costa Aguiar, 1112 - Ipiranga. Quarta a domingo: 11h às 19h. Saiba mais.
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