O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda recebeu, nesta segunda, 24, o Prêmio Camões que lhe foi conferido em 2019. A entrega aconteceu no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra, Portugal, em cerimônia da qual participaram o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do primeiro-ministro luso, António Costa. “Recebo esse prêmio mais como desagravo a tantos artistas brasileiros humilhados nesses quatro anos de estupidez e obscurantismo”, disse Chico.
A referência foi o período da presidência de Jair Bolsonaro que, em 2019, se recusou a cumprir o rito que o Camões exige e reconhecer o mérito de Buarque, assinando o diploma. “O ex-presidente teve a rara fineza de não sujar meu prêmio Camões, deixando o espaço em branco para o nosso presidente Lula assinar”, disse o escritor em seu discurso. “Foram quatro anos de um governo funesto, que duraram uma eternidade - o tempo parecia andar para trás.”
Chico começou o discurso emocionado ao se referir à sua atual mulher, Carol, que, na manhã desta segunda, comprou a gravata rosa que ele usou na cerimônia. “Essas coisas me emocionam muito.”
Ele também se lembrou do pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda. “Meu pai teria muito mais propriedade para receber esse prêmio”, disse ele, lembrando de que herdou alguns livros e o amor pela língua portuguesa da figura paterna.
Na cerimônia, que também contou com a presença da ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, Lula fez um paralelo com o governo de Bolsonaro e marcas de totalitarismo e ditadura no âmbito da cultura nacional. Ao citar a negação às artes, Lula disse corrigir, nesta segunda-feira, 24, um erro da gestão anterior contra a cultura brasileira.
“É uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura. O prêmio Camões deveria ter sido entregue a Chico Buarque em 2019 e não foi”, declarou Lula, em evento de entrega do Prêmio Camões de 2019 ao cantor e compositor Chico Buarque. Chico Buarque foi escolhido vencedor do prêmio por unanimidade dos jurados, mas ainda não havia recebido devido à recusa de Bolsonaro, então presidente, a assinar o diploma. À época da polêmica, o ex-chefe do Executivo afirmou, em tom irônico, que entregaria o prêmio ao cantor “até 31 de dezembro de 2026?, referindo-se a um possível segundo mandato, antes de ser derrotado nas urnas por Lula.
“O ataque à cultura foi dimensão importante do projeto que a extrema direita tentou implementar no Brasil”, disse. De acordo com Lula, se hoje ele pôde fazer esse “gesto de reparação e celebração” da obra do Chico, é “porque a democracia venceu no Brasil”.
No discurso, Lula destacou que o obscurantismo e negação das artes foram marca do totalitarismo e das ditaduras. “Esse prêmio é uma resposta do talento contra a censura, do engenho contra a força bruta”, disse.
Também presente no evento, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que Lula é “amigo de Portugal e dos portugueses.” / Sofia Aguiar, Cícero Cotrim e Ubiratan Brasil
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.