Como ler livros - novos, bons, best-sellers - online, gratuitamente e sem pirataria

BibliON, BiblioSP e Skeelo são opções para quem quer ler mais sem gastar dinheiro com livro; veja como funcionam as plataformas

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Foto do author Leonardo Neto
Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Leonardo Neto e Maria Fernanda Rodrigues

Quando Mariana Afonso, compradora de 35 anos que vive em Campinas, fez a portabilidade para a Claro, descobriu que um dos benefícios da operadora era o acesso à plataforma Skeelo que lhe daria, todo mês, um livro digital. Desde pequena, ela gosta de livros. Mais velha, ela raramente comprava um - por questões financeiras, ela justifica. “Quando o vendedor me falou sobre esse aplicativo, eu baixei meio sem pretensão, achando que ia ser alguma coisa bem boba, com livros nada a ver. E descobri que tinha livros conhecidos e bons, livros que todo mundo estava comentando”, conta.

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Desde 2022, ela já leu nada menos do que 38 livros. A média de leitura do brasileiro é de 3,96 livros por ano, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.

“Eu sempre tenho algum livro no aplicativo para ir lendo para o trabalho, para ler numa espera. Sem contar que não precisamos ficar carregando sempre um livro na bolsa, o que facilita muito. É muito legal. Qualquer pessoa pode receber livros sem ter que gastar dinheiro e faz bastante diferença para evitar a pirataria”, finaliza.

Bibliotecas públicas oferecem e-books para leitura gratuita Foto: Monika Wisniewska/Adobe Stock

Julianny Santos da Silva, de São Paulo, também é adepta da leitura digital. Na pandemia, ela encontrou refúgio nos livros e na panificação. Entre fornadas de pães caseiros e o isolamento forçado, a engenheira de materiais de 31 anos viu o influenciador Paulo Ratz falar sobre a Skeelo. “Descobri que era só baixar o app e usar meu plano de celular. Hoje, leio uns 90 livros por ano”, conta.

A experiência de Julianny, que pirateava livros na época da faculdade por falta de alternativas acessíveis, reflete um grande desafio do Brasil: tornar o hábito de leitura acessível e atrativo em um país onde 53% da população não leu nenhum livro nos últimos três meses, segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.

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O levantamento, divulgado nesta semana, revelou que o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos. Pela primeira vez, a proporção de não-leitores superou a de leitores no país. Desde 2007, quando a pesquisa começou, nunca houve uma proporção tão alta de brasileiros desconectados dos livros.

A Skeelo funciona por meio de parcerias com mais de 110 empresas, incluindo operadoras como Vivo e Claro. Clientes dessas empresas têm direito a um livro digital gratuito por mês, além de audiolivros e minibooks. “Em 2024, nossos usuários já consumiram mais de 200 milhões de minutos de leitura. Sempre dizemos que no universo Skeelo o brasileiro lê sim, e muito!”, afirma André Palme, diretor de marketing da plataforma.

Mariana Afonso passou a ler mais livros online - já são 38 desde que começou a ler no celular Foto: Mariana Afonso/Acervo pessoal

Para o executivo, a plataforma é ainda um chamariz importante para não-leitores. “Nossos minibooks, por exemplo, têm uma taxa de leitura de mais de 74% (ou seja, 7 em cada 10 pessoas leem ou ouvem até o final) e sabemos que esse formato é uma grande porta de entrada para a criação de uma jornada leitora”, complementa Palme.

A Skeelo não é a única plataforma que permite a leitura digital sem incorrer na pirataria. Leitores paulistas e paulistanos têm acesso à BibliON e à BiblioSP, que também oferecem acesso gratuito e legal a livros.

Biblioteca digital

A BibliON, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerida pela SP Leituras, oferece gratuitamente títulos de autores como Margaret Atwood, Dostoiévski e Conceição Evaristo. Até o final de 2024 o total investido no mercado editorial para a compra de conteúdos digitais será de mais de R$ 4,6 milhões, garantindo a remuneração da cadeia do livro.

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“Somos mediados por uma empresa agregadora de conteúdo, responsável pelos contratos e suas respectivas modalidades de compra com os distribuidores das obras”, explica Joaquim Matusse, coordenador do projeto. “Mesmo os títulos estando disponíveis para empréstimo gratuitamente, todos os acessos dos materiais disponibilizados são pagos e estão de acordo com as leis de direitos autorais vigentes, mantendo a obra e a pessoa escritora resguardadas, bem como garantindo a idoneidade do projeto”, completa.

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Mais nova, a BiblioSP é mantida pela Secretaria de Cultura do município de São Paulo e oferece 17 mil títulos como A Cidade Sitiada, de Clarice Lispector, Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, e Ensinando Pensamento Crítico, de Bell Hooks. Ela é operada pela Árvore, um ecossistema que promete letramento digital para uma geração hiperconectada, com um acervo total de mais de 100 mil livros e audiolivros, além de artigos de jornais e revistas.

O acesso é simples. Primeiro o usuário precisa se cadastrar no Sistema Municipal de Bibliotecas, oferecendo informações básicas, como nome, endereço e data de nascimento. Depois é só logar no ambiente da Árvore e acessar os 17 mil títulos disponíveis.

A plataforma oferece uma curadoria por temas, como “Novembro Negro”, em celebração ao Dia da Consciência Negra, “Prêmio Jabuti 2024″, com os semifinalistas do prestigiado prêmio literário, ou “Os Booktoks estão aqui”, com títulos que fazem sucesso no TikTok.

O impacto da pirataria

Para Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), a pirataria de livros representa um desafio significativo para o mercado editorial brasileiro. “Embora a quantificação exata seja complexa, a pesquisa Panorama do Consumo de Livros no Brasil, de 2023, fornece informações valiosas - como o fato de que 12,8% das pessoas que se dizem não compradoras de livros tiveram acesso a arquivos PDF gratuitos, o que nos leva a crer que boa parte dos livros em pdf não são conteúdos autorizados”, diz a editora.

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Ela explica ainda que as perdas vão além do financeiro. “A pirataria afeta não apenas as vendas, mas também a percepção de valor dos livros, impactando negativamente autores, editores e toda a cadeia produtiva do setor e desestimula a produção intelectual.” E reconhece o desafio que é combatê-la. “Sempre foi, mas piorou quando ela deixou de ser concentrada em sites, que iam mudando de domínio para despistar as autoridades”.

Dalton Morato, da Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), lembra que boa parte da pirataria vem de grupos em redes sociais e em aplicativos de mensagens instantâneas. O executivo cita ações impetradas pela ABDR contra as plataformas que hospedam esses grupos de pirataria. “Esses grupos tinham em média dois arquivos de livros piratas por membro, ou seja, um grupo de 406 mil membros tinha ‘subido’ arquivos de 812 mil livros piratas”, disse ao Estadão.

Para ele, a pirataria de livros prejudica os seus autores, a cadeia de produção e comércio de livros, e o poder público que não consegue cobrar tributos das obras piratas que são comercializadas. Segundo levantamento da ABDR, a pirataria de livro causou prejuízo de R$ 1,26 bilhões no ano passado. “É correto afirmar que os prejuízos causados pela pirataria equivalem a, pelo menos 50%, do valor total dos valores de vendas de livros”, avalia.

BibliON

  • Pode ser acessada pelo site e está disponível no Google Play e na App Store. Para ler os livros, é necessário fazer um cadastro prévio

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BiblioSP

  • Para acessar é preciso ter cadastro no Sistema Municipal de Bibliotecas, que pode ser feito na própria plataforma

Skeelo

  • Disponível no Google Play e na App Store. Usuários de planos de telefonia e outros serviços selecionados têm direito a baixar um e-book por mês, sem custos adicionais. Outras informações no site
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