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‘Desolada’ com o estado do mundo, mas otimista, Patti Smith fala sobre resistência e literatura

Madrinha do punk e escritora best-seller, ela se prepara para lançar novos livros e fala sobre seu amor pela escrita e o diálogo com as novas gerações

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Por Bob Chiarito
Atualização:

AFP - Sua condição icônica de madrinha do punk a converteu em um nome conhecido para muitos no universo da música, mas é escrevendo que Patti Smith encontra sua verdadeira voz artística.

Além de suas atividades musicais e literárias, Patti Smith é pintora e fotógrafa. Mas, e se precisasse escolher apenas uma forma de expressão?

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“Eu escolheria escrever”, ela responde.

“A escrita é a minha forma de expressão mais essencial”, disse a artista à AFP, em Chicago, onde ganhou recentemente o prestigioso Prêmio Ruth Lilly de Poesia.

Smith, que entrou para o Hall da Fama do Rock em 2007, é mais conhecida pelo seu disco Horses. Mas a poesia foi um amor anterior, e Horses começa com versos de um poema que ela mesma escreveu.

“Declamar poesia, ler poesia, era uma coisa muito forte na Nova York do final dos anos 1960 e início dos anos 1970″, ela diz. “Mas eu tinha tanta energia e era de fato uma filha do rock em roll que estar ali, lendo um poema, nunca foi suficiente para mim.”

Patti Smith durante show em Sevilla, na Espanha, em setembro Foto: Cristina Quicler/AFP

“Eu rapidamente fundi meus poemas com alguns acordes como algo para me empurrar para improvisar mais poesia, e isso evoluiu para uma banda de rock and roll”, conta.

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Embora o álbum de Patti Smith e sua banda tenha sido aclamado pela crítica, sua escrita lírica sempre foi sua espinha dorsal, ela disse, citando a música Redondo Beach, que inicialmente era um poema, como exemplo.

“Em todos os meus álbuns e até na prosa que escrevo, a poesia segue sendo um fio condutor”, diz.

Horses é considerado um dos maiores álbuns de todos os tempos, mas, para Smith, o maior sucesso de sua vida foi Só Garotos, livro de memórias que ela publicou em 2010 conforme prometido para o seu amigo, o fotógrafo Robert Mapplethorpe, horas antes de ele morrer.

“Eu nunca tinha escrito um livro de não ficção, mas ele me perguntou se eu escreveria nossa história.” Mapplethorpe, que morreu aos 42 anos, manteve com Patti Smith uma profunda amizade, romance e um vínculo criativo por toda a sua vida.

“Meu maior êxito da vida foi o livro que ele me pediu para escrever e quase me fez chorar. Robert realizou seu desejo e eu cumpri minha promessa e escrevi o livro da melhor forma que consegui”, confessa.

A cantora e escritor Patti Smith e o fotógrafo Robert Mapplethorpe Foto: Reprodução Só Garotos

Só Garotos ganhou o Prêmio Nacional do Livro, um dos mais prestigiosos dos Estados Unidos, e apresentou Patti Smith a uma geração de fãs completamente nova, enquanto o livro vendia mais do que todos os seus discos.

A artista contou que os jovens costumavam dizer que Horses havia mudado a vida deles, mas que o posto foi roubado por Só Garotos.

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“Acredito que ele realmente me abriu muitas portas. Agora, nos nossos shows, é maravilhoso subir ao palco e ver um mar de gente com menos de 30 anos, menos de 25 até.”

“Ver todos esses jovens que estão interessados em seu trabalho e emanando sua energia... fico muito grata por isso”, diz, satisfeita.

Os novos projetos de Patti Smith

Patti Smith, que faz 76 anos em dezembro, comenta que não tem planos de desacelerar sua produção. Ela está prestes a lançar A Book of Days no final deste mês, um livro baseado em suas reflexões no Instagram.

Ela também está considerando lançar um livro chamado The Melting, baseado nas publicações de sua conta do Substack. E disse que mantém uma prolífica produção durante anos, mas que “as coisas não são necessariamente fáceis”. “Precisei desconectar toda a minha vida.”

Patti Smith se considera otimista, mas está “profundamente preocupada e desolada” com o estado do mundo neste momento - por toda a crise global, a ascensão do nacionalismo em todo o mundo e a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Há tanta coisa acontecendo neste momento, é muito pesado. Mas tenho filhos, então sempre busco em minha mente formas de fazer com que o mundo seja melhor para eles”, explica.

Patti Smith acredita que resistir significa escrever diariamente e fazer o possível para se ajudar e ajudar o próximo. “Só temos que seguir fazendo o nosso trabalho e encontrar uma maneira de nos mantermos saudáveis e de nos ajudarmos uns aos outros. Parece tão elementar, mas é necessário.”

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E ela conta que está escrevendo uma nova música inspirada nas mulheres que protestam no Irã e acredita que, como em uma de suas canções mais famosas (People have the power), que as pessoas têm o poder.

“Acredito absolutamente nisso. Basta escolhermos usá-lo ou não. É isso o que as mulheres do Irã estão fazendo. Essa é a única ferramenta que temos.”

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