AFP - As tensões que um país enfrenta podem ser descritas através de suas famílias? O escritor americano Jonathan Franzen prefere ir passo a passo e prepara uma trilogia após publicar Encruzilhadas no ano passado.
Encruzilhadas conta a história dos Hildebrandt, uma família à beira da implosão em uma América que entra na turbulenta década de 1970, marcada pelas drogas e revolução sexual.
O pai, Russ, é um pastor em crise e tentado pela infidelidade. Sua esposa, Marion, arrasta um passado sombrio do qual não consegue se livrar. E de seus quatro filhos, três enfrentam como podem os demônios da adolescência.
“Em 1971 nos perguntávamos: quando vamos sair do Vietnã? E no mundo de Encruzilhadas, a principal questão é se Becky (filha do casal Hildebrandt) irá ao show de Natal de braço dado com Tanner Evans (seu noivo)” explicou Franzen à AFP em entrevista concedida em Paris, depois de participar de um festival literário.
Encruzilhadas voltou a conquistar a crítica e o público, para risco do próprio autor, que teve a imprudência de reconhecer que o volume de 700 páginas fazia parte de algo maior.
“Sim, isso é o que eu disse”, reconhece. “Mas a questão é que eu não gosto de ser lembrado com tanta frequência. ‘Mal posso esperar pelo volume dois’. E eles dizem isso de forma educada, eu sei.”
“Mas a próxima parte não vai chegar rapidamente. Então (...) próxima pergunta, por favor”, responde com um sorriso.
Seria Jonathan Franzen o Balzac dos Estados Unidos, o escritor que, sem ter essa intenção, está retratando partes inteiras de sua sociedade e de seu passado? “Bom, invejo a rapidez com que Balzac escreveu seus livros, e quantos escreveu. E se ao final isso é parte do resultado, melhor ainda.”
“Mas o que eu queria, acima de tudo, era criar cinco personagens, o que significava criar cinco histórias, e mesclá-las entre si”, acrescenta.
Franzen venceu o National Book Award em 2001 por As Correções (Companhia das Letras), e se consolidou como um dos maiores cronista do país com Liberdade, uma década depois.
Ele nasceu em 1959 em uma família de classe média em West Springs, Illinois, filho de pai sueco e mãe americana. Afirma que não teme a expressão “privilégio branco”.
“Fui para uma boa universidade, onde aprendi a escrever. E outra coisa que aprendi, porque era um estudante preguiçoso, foi como fingir que sabia muito sobre algo que sabia muito pouco”, afirma. ”E acho que para a geração mais jovem, especialmente nestes tempos altamente politizados, sou culpado até que se prove o contrário.”
“Tive o privilégio de ter uma boa saúde. E de ter pais que realmente cuidavam dos filhos. E a lista nunca acaba. Mas não me arrependo disso”, conclui.
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