Por que está fazendo tanto calor? De que forma os eventos climáticos são potencializados pela ação do homem? O que é aquecimento global? Como será o mundo em que nossos filhos vão viver? O que ainda podemos fazer para garantir a sobrevivência das espécies - e um futuro para a humanidade?
Em seu livro Nós Somos o Clima, o escritor americano Jonathan Safran Foer, um reconhecido romancista (Tudo se Ilumina, que ganhou adaptação para o cinema) preocupado com o futuro, tenta nos convencer de que o tempo está acabando e que se fizermos, pessoalmente, algum esforço, o futuro do planeta será menos catastrófico.
Mas o que podemos fazer? E o que ainda podemos aprender? O Estadão selecionou alguns livros que mostram a atual situação do mundo, apontam erros e caminhos e convocam as pessoas à ação. Há, na lista, opções também de livros para falar sobre o meio ambiente com as crianças e livros de ficção que imaginam um novo mundo pós-colapso.
O Pensamento Ecológico e Maneiras de Ser
É costume reduzir a ecologia – campo que contempla os estudos sobre a mudança climática no planeta Terra, questão central do nosso tempo – à relação entre humanos, animais, plantas e sistemas climáticos. Dois livros lançados no início do ano para reinventam esse pensamento sobre o mundo natural e nosso impacto sobre ele: O Pensamento Ecológico (Quina, 256 págs.; R$ 68), de Timothy Morton, e Maneiras de Ser (Todavia, 496 págs.; R$ 104,90), de James Bridle.
O primeiro propõe uma ecologia progressista, detida em uma dimensão macro da nossa concepção de meio ambiente – e não pequena, como concebemos o cuidado com o mundo natural durante muito tempo, restringindo-o a uma ingênua atuação individual (lugares-comuns como fazer xixi no banho, fechar torneiras, não atirar lixo na natureza etc.).
O segundo está repleto de referências às artes e à cultura pop. Blade Runner, The Cure e Percy Shelley vêm à tona para falar, em termos filosóficos, de consciência ambiental. Dessa forma, o discurso de Morton se torna mais acessível mesmo para quem não está acostumado à leitura de filosofia, e talvez esteja aí a maior força do livro. LEIA MAIS SOBRE OS DOIS LIVROS
Ideias para Adiar o Fim do Mundo e outros
Livros do líder indígena Ailton Krenak, mais recente imortal da Academia Brasileira de Letras, como Ideias para Adiar o Fim do Mundo, A Vida Não é Útil e O Amanhã Não Está à Venda (Companhia das Letras), têm o mérito de introduzir o leitor a uma série de questões fundamentais para a vida na Terra. O autor acredita que a humanidade deve se educar “para desacelerar nosso uso de recursos naturais, diminuir o gasto excessivo de tudo”, mas que “não é inventando o mito da sustentabilidade que vamos avançar”.
Ele acrescenta: “Vamos apenas nos enganar, mais uma vez, como quando inventamos as religiões (...). O capitalismo sofreu uma transformação tão grande que virou necrocapitalismo – diz Suely Rolnik em Esferas da Insurreição; que esse capitalismo nem precisa mais da materialidade das coisas, pode transformar tudo numa fantasia financeira e fazer de conta que o mundo está operante, ativo, mesmo quando tudo estiver entrando pelo cano ( ...) é uma distopia: em vez de imaginar mundos, a gente os consome”. LEIA MAIS SOBRE AS IDEIAS DE KRENAK E SEUS LIVROS BEST-SELLERS
Nós Somos o Clima
Jonathan Safran Foer costura várias várias histórias para mostrar que a crise climática é uma crise nossa, ou seja, que ela já está acontecendo; que é fácil entender sua gravidade, mas é mesmo difícil se deixar tocar já que o aquecimento global não vai nos matar; que é preciso algum sacrifício individual e uma ação coletiva, mais do que política, para que as próximas gerações tenham alguma chance - até de existir. Ele já adota algumas medidas para minimizar seu impacto sobre o meio ambiente - por exemplo, ele evita aviões -, e apresenta, neste tocante livro, uma sugestão um tanto factível que poderia ter um efeito positivo - e, principalmente, um efeito em cadeia.
Sua proposta, em Nós Somos o Clima (Rocco, 288 págs;. R$ 59,90; R$ 29,90 0 e-book) é que ninguém coma nenhuma proteína animal até o jantar - basicamente porque, como ele coloca, se as vacas fossem um país elas estariam atrás apenas da China e dos Estados Unidos na emissão de gases de efeito estufa. LEIA A ENTREVISTA
A Terra Inabitável: Uma História do Futuro
Jornalista de ciência da revista New York e do jornal The Guardian especializado em aquecimento global, David Wallace-Wells abre A Terra Inabitável: Uma História do Futuro (Companhia das Letras, 384 págs.; R$ 67,90; R$ 11,37 o e-book e R$ 46,99 o audiolivro) com uma frase assustadora: “É muito pior do que você imagina”. Seu livro é fruto de anos de investigação sobre o clima somados a entrevistas com dezenas de especialistas e centenas de artigos científicos. Mas o autor adverte: essa obra não é sobre a ciência do aquecimento global; é sobre as alterações radicais dos modos de vida no planeta que ele deve produzir, a curto e médio prazos. LEIA A RESENHA
Diante de Gaia e Onde Aterrar
Dois livros de Bruno Latour: Diante de Gaia: Oito Conferências sobre a Natureza no Antropoceno (Ubu, 408 págs; R$ 99; R$ 39,90 o e-book) e Onde Aterrar? Como se Orientar Politicamente no Antropoceno (Bazar do Tempo, 170 págs.; R$ 72). Os livros abordam um mesmo conceito matricial: o Antropoceno. Este seria a nova (ceno) época da Terra sob a dominação do humano (anthropos). Há grandes reivindicações da comunidade científica internacional para essa redefinição do momento em que vivemos. Estaríamos saindo do Holoceno, época baseada na integração (holos) de todas as formas de vida e no equilíbrio climático, e cuja origem remonta há cerca de 12 mil anos.
Para Latour, a humanidade está perplexa porque os discursos que nos orientaram até agora não funcionam mais. Essa alteração atual é fruto de três fatores que começaram nos anos 1990: a globalização, o aumento das desigualdades sociais e as mutações climáticas. E, segundo ele, nada no mundo vai mudar se não tivermos uma visão unificada destes três fenômenos ou se continuarmos a isolá-los, como se estivessem desconectados. LEIA A RESENHA COMPLETA
Obras de ficção
Quer ler sobre o colapso global de uma outra forma? Experimente o romance A Extinção das Abelhas (Companhia das Letras, 312 págs.; R$ 72,90; R$ 39,90) , da brasileira Natália Borges Polesso. Em entrevista ao Estadão, ela disse: ‘O fim do mundo é se dar conta de que esse fim não é a morte’. CONFIRA A ENTREVISTA
E também Nova York 2140 (Planeta; 496 págs.; R$ 39,90), do americano Kim Stanley Robinson. Na obra, onde economia e ecologia se entrelaçam, o derretimento das calotas polares provoca um aumento de 15 metros nos mares. Com isso, cidades costeiras ficaram parcialmente submersas. Nesta ficção, os desastres ambientais são tratados como desdobramentos inevitáveis de práticas financeiras predatórias. Um dos protagonistas, Franklin Garr, é operador da bolsa de valores, e ganhou muito dinheiro ao encarar o aquecimento global como uma espécie de destruição criativa — da mesma maneira como o mundo financeiro tratou o colapso econômico em 2008. LEIA A RESENHA
Livros infantis
Obras sobre meio ambiente para ler com as crianças? Uma dica é Além da Chuva (FTD, 48 págs.; R$ 66), do escritor e ilustrador Fernando Vilela e do arquiteto Michel Gorski, que traz um pouco de esperança e uma crença de que a nova geração terá condição de fazer alguma coisa. ”As crianças de hoje podem mudar o mundo e reinventar o futuro. Essa geração já nasceu com uma outra cabeça de sustentabilidade e tem um engajamento enorme”, disse Vilela em entrevista ao Estadão, na época do lançamento da obra. Há muitos outros livros. VEJA OUTRAS DICAS E LEIA ENTREVISTAS COM SEUS AUTORES
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