George Orwell (1903-1950) não gostou de seu último romance, 1984. Disse aos seus editores que não esperassem boas vendas. E achava que se não estivesse doente, o resultado teria sido menos sinistro. Mas ele tinha uma mensagem, e o público entendeu. Publicado em 1949, sete meses antes da morte do autor, aos 46 anos, em decorrência de complicações de tuberculose, o livro vendeu bem logo de cara e seguiu assim ano após ano, tem sido adotado em escolas, teve alguns picos de venda, de acordo com o momento histórico e político e inspirou o nome de um dos mais longevos reality shows - o Big Brother. Até que, com Trump no poder, ele estourou. Isso tudo, às vésperas da entrada da obra do autor em domínio público, em 2021.
Selecionamos, a seguir, livros e textos que explicam 1984 e as ideias de Orwell, sua apropriação pela direita, o sucesso recente de vendas - sobretudo nos Estados Unidos, pós-Trump, e na Rússia, pós-invasão da Ucrânia, além de uma série de edições, adaptações e versões - como a recente releitura feminina, Julia, publicada nos Estados Unidos.
Mas, antes, a sinopse de 1984:
A história se passa em um futuro próximo. Winston Smith é o personagem que vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a personificação de um poder cínico e cruel e vazio de sentido histórico. A ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. Só o poder.
A obra está no catálogo da Companhia das Letras, de cuja edição foi extraída parte desta sinopse, da Antofágica, Tordesilhas, Darkside, Valentina, Aleph e de muitas outras. As edições trazem textos de apoio e prefácios exclusivos, além de diferentes traduções.
E o que ele tem a ver com o reality show Big Brother?
Politicamente, nada. Mas tanto no livro quanto no reality o Grande Irmão vigia a vida de pessoas comuns. O programa de televisão Big Brother foi criado em 1999 na Holanda, ganhou uma versão nos Estados Unidos e virou uma franquia. No Brasil, ele existe há 24 anos.
A proposta é que um grupo de pessoas viva confinado em uma casa por um período de tempo - três meses, no Brasil - sob forte vigilância de câmeras que são acompanhadas pelos produtores e pelo público de fora da casa. O programa vai ao ar à noite, na Globo, mas assinantes do Globoplay têm acesso às câmeras o tempo todo. Nesta edição, há uma novidade: o programa passa a contar com uma câmera exclusiva que segue o líder ininterruptamente - disponível para quem assina a plataforma de streaming do canal. PARA LER AS NOTÍCIAS DO BBB24, CLIQUE AQUI.
- Audiolivro
A versão em audiolivro de 1984 narrada pelo ator Otávio Muller dura 12 horas e 48 minutos e está disponível com exclusividade na Audible, da Amazon. Trata-se da edição da Ciranda Cultural, traduzida por Karla Lima. Já a da Companhia das Letras, com tradução de Heloisa Jahn e Alexandre Hubner e narração de Paulo Vinicius Justo Fernandes, tem pouco mais de 15 horas.
- Julia: A Retelling of George Orwell’s 1984
A distopia de Orwell a partir de outros olhos. Sandra Newman lançou, nos Estados Unidos, em 2023, o subversivo romance Julia. Com a aprovação do espólio de Orwell, trata-se de uma releitura de 1984 da perspectiva da amante de Winston Smith. O mundo que Julia descreve é totalmente familiar, mas sutilmente alterado em relação ao mundo em que Winston vive. Além de preencher a tragédia da adolescência de Julia, Newman introduz diversas reviravoltas engenhosas que permitem que a trama prossiga em grande parte como esperado, mas com implicações curiosamente diferentes. LEIA MAIS SOBRE A OBRA
- 1984 em graphic novel
O clássico de Orwell foi transformado em história em quadrinhos pelo cartunista brasileiro Fido Nesti. No lançamento da edição espanhola da obra lançada originalmente pela Quadrinhos na Cia, o artista disse: “Ela continua sendo muito urgente, porque agora estamos diante do retorno de vários regimes totalitários”. Nesti falou sobre o processo de adaptação da distopia. LEIA A ENTREVISTA
- Como a direita se apropriou da distopia ‘1984′?
Orwell suspeitava que 1984, seu derradeiro romance, seria explorado como arma de propaganda pela direita, que o reduziria a um panfletão antissoviético, antistalinista, escreveu o colunista Sérgio Augusto quando analisou o uso que a direita americana estava fazendo da obra no momento da disputa entre Trump e Biden à presidência americana. Ele cita, inclusive, uma declaração do senador Josh Hawley quando Trump, que ele apoiava, teve sua conta do Twitter suspensa: “A liberdade de expressão não existe mais na América. Estamos vivendo no 1984 de Orwell”. LEIA A COLUNA
- A verdade, por Orwell - e para além de 1984
George Orwell escreveu romances, reportagens, cartas e ensaios variados, mas em todos tratou, de formas distintas, da verdade. E, em uma época em que as fake news ameaçam democracias, vale a leitura de Sobre a Verdade, seleção inédita de escritos de Orwell. LEIA MAIS SOBRE O LIVRO
- Afinal, o que George Orwell de ‘1984′ acertou sobre o futuro?
No prefácio a 1984 escrito por Thomas Pynchon em 2003, incluído na edição da Penguin Companhia, o escritor americano faz uma rica análise do livro, inclusive relacionando pontos centrais da lógica impiedosa do sistema descrito no romance com a atualidade. “O Ministério da Paz promove a guerra, o Ministério da Verdade conta mentiras, o Ministério do Amor tortura e chega a matar aqueles que considera uma ameaça”, escreve Pynchon. “Se isso parece excessivamente perverso, lembre-se que nos Estados Unidos dos dias de hoje poucos veem problemas num aparato de guerra chamado ‘Departamento de Defesa.” Mas há outros pontos, como o uso de helicópteros para vigilância e como “forma de imposição da lei” e o versificador - uma máquina que produz literatura e música sem a interferência humana. LEIA O TEXTO COMPLETO
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.