‘Humor que ofende não é humor’, defende Pequena Lô, rainha dos vídeos de comédia nas redes sociais

Ao ‘Estadão’, influenciadora fala sobre o lançamento do primeiro livro, o humor na era digital e o seu projeto de fazer piadas de situações cotidianas sem precisar atacar ninguém

PUBLICIDADE

Por Ana Luiza Antunes
Atualização:
Foto: Divulgação/Pequena Lo
Entrevista comPequena LoInfluenciadora digital

Lorrane Silva, a Pequena Lô, se tornou um fenômeno na internet ao usar de um humor leve e divertido para reproduzir as situações comuns do dia a dia. O que cativou o público e os seus mais de 10 milhões de seguidores acumulados nas redes sociais foi a sua autenticidade e o seu compromisso com o alívio cômico. Para Lô, o respeito é o principal ingrediente para dar boas risadas.

“Cada pessoa tem a sua maneira de fazer humor. Na minha opinião, o humor tem um limite. A partir do momento que ele passa desse limite e começa a ofender o outro, para mim, não é humor. É uma maneira de criticar usando a graça para ficar mais leve”, pontuou. “Cada um trabalha da maneira que acha que tem que trabalhar. O meu humor é algo que não precisa ofender ninguém”, destacou.

Em mais uma grande passo na sua carreira, a influenciadora digital lança o seu primeiro livro nesta terça-feira, 5, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Ao Estadão, ela falou sobre o processo de escrita da obra, a conexão entre a Lorrane e a Pequena Lô e a sua visão sobre as discussões em torno do humor nos últimos anos.

Pequena Lo lança o seu primeiro livro nesta terça-feira, 5, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro Foto: Divulgação/Pequena Lo

Na dúvida, escolha ser feliz traz detalhes da intimidade da jovem natural de Araxá, em Minas Gerais, que começou a carreira na internet como um hobby, em 2015 - e se tornou um fenômeno da sua geração.

Publicidade

“[O processo de escrita do livro] foi bem desafiador porque foi algo que eu nunca tinha feito [...] Demandou bastante tempo para eu realmente eu olhar, ler e falar: ‘Está a minha cara’. Quem ler vai saber que eu realmente fiz parte da escrita e pensei com muito carinho. Queria uma coisa que não fosse tão formal porque não é assim que eu converso com o meu público”, pontuou.

Psicóloga de formação, Lô avalia como um diferencial no seu trabalho “não só para produção [de conteúdo], mas para escrever o livro, dar uma palestra e até mesmo conversar com um seguidor”, diz. “Temos um olhar diferente para tudo o que acontece. É uma análise mais profunda. Até mesmo nos vídeos.”

‘As pessoas nem sempre estão prontas’

Quando o vídeo do humorista Leo Lins -em que ele faz piadas com PCDs, dentre outras falas- foi retirado do Youtube por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo, Lô preferiu não se pronunciar. “Eu acompanhei tudo e eu preferi não [me pronunciar] porque as pessoas acham [que] porque fazemos humor, temos sempre que falar sobre [isso]”, frisou.

Ele [Leo Lins] acha que o correto é assim. Eu não concordo, mas respeito porque cada um trabalha do seu jeito

Pequena Lo, influenciadora digital

“Eu não gosto de me posicionar porque eu sei que as pessoas nem sempre estão prontas para entender a nossa opinião. O difícil de você dar uma opinião na internet é isso: as pessoas não concordam e acham que podem ofender a gente”, explicou ao dizer que prefere compartilhar publicações de outros humoristas sobre o assunto. “Se eu compartilho, já estou falando que a minha opinião é contra o que a pessoa acha que é certo.”

Publicidade

A Lô que ninguém vê

No livro, apesar de relatar o seu crescimento na internet, o carinho que recebe dos fãs e o apoio crucial da família nesse processo, Lô se debruça sobre a sua jornada, logo cedo, nas salas de cirurgia. É um lado da sua história pouco explorado por ela nos seus vídeos, mas que mostra o seu enfrentamento contras as crises de ansiedade e o medo recorrente da morte.

Lô é portadora de displasia óssea, uma condição que afeta a mobilidade e o desenvolvimento dos ossos. A primeira intervenção aconteceu quando a jovem ainda tinha 7 anos. Desde então, foram mais quatro cirurgias até os 11 anos, quando descobriu que não conseguiria mais andar. A última possibilitou que Lô usasse as muletas e a motinha, sua fiel companheira.

Eu não conseguia ser vulnerável [...] Foi um processo muito longo [de] terapia [para] que eu aprendesse. Eu não chorava, não gostava de abraço, não gostava de demonstrar fragilidade.

Pequena Lo, influenciadora digital

Em meio ao avanço da pandemia em 2020, a influenciadora se viu diante dos mesmos sentimentos -misturados, ainda, com a fama repentina. “Eu tive uma crise de pânico muito forte em 2020, e também a síndrome do impostor”, declarou.

“Crise de ansiedade, síndrome do pânico... tudo de uma vez. Foi muito rápido. Eu acho que, por conta das coisas que eu vivi lá atrás [de não ter me dado] a liberdade de ser vulnerável, junta algumas coisas depois de anos, mesmo sendo antigas”, disse.

Publicidade

Multifacetada

Falar sobre as cirurgias permitiu que a humorista colocasse a Lorrane no comando da história. No entanto, ela reafirma que a Pequena Lô não é uma personagem, mas uma faceta sua que sempre esteve presente. Só precisava ser encontrada.

“A Pequena Lô sempre existiu, desde quando eu era criança. Só que não tinha esse nome. Por trás das câmeras eu sou igual à Pequena Lô, não é um personagem. Claro que, muitas coisas eu não conto porque eu acho que não vale, é muito pessoal. Mas em relação às vivências e o jeito de ser, são as mesmas pessoas. Não tem separação”, esclarece.

Lo fala sobre o lançamento do primeiro livro, os limites do humor na era digital e qual a história da pessoa por trás da comediante nas redes sociais Foto: Divulgação/Pequena Lo

O talento, portanto, nasceu com a influenciadora. E foi difícil digerir que a fama tinha batido na sua porta. Para ela, a notoriedade ainda é algo que a assusta. “É tudo muito novo para mim ainda. Só tem três anos que tudo aconteceu, mas parece que eu já vivi dez”, admite. “Ainda tem situações que eu demoro um pouco a assimilar porque é novo, te pega de surpresa. A gente se prepara, mas, ao mesmo tempo, não está preparado.”

Hoje, Lô afirma que 100% da sua renda provém do seu trabalho na internet. Para ela, o dinheiro é importante, mas a imagem está acima disso. “Se a gente não tem a imagem, a gente não vai ter o dinheiro”, conta.

Publicidade

Lô não poupa palavras ao dizer que o futuro é incerto e aposta em outros projetos. “Amanhã tudo pode mudar, a internet pode deixar de existir. [A gente olha] não só o dinheiro, mas também outras áreas, [como] palestras e televisão”, afirma. “Temos que abrir o leque de oportunidades para estarmos prontos para qualquer coisa.”

Influência

Ao falar sobre o seu alcance na internet, Lô se orgulha em ser um exemplo não só para outros PCDs, mas para todos que desejam investir na carreira no ambiente digital.

“Eu não tenho noção da quantidade de pessoas que eu consigo alcançar, mas eu fico muito feliz de outras pessoas que possuem alguma deficiência estarem também na internet”, fala. Lô comenta que não teve a mesma referência quando começou e que acredita que os vídeos auxiliam outras pessoas a buscar por essa autonomia.

“Isso para mim é muito gratificante. Acho que é a principal parte da fama e do sucesso é você realmente conseguir ajudar e conseguir alcançar esses objetivos de forma positiva [...] Eu quis levar essa mensagem de nós, pessoas com deficiência, [de] que podemos ter a nossa autonomia e a nossa independência.”

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.