Jorge Luis Borges: futuro dos direitos da obra é incerto

Os direitos sobre as obras do escritor argentino caíram no limbo porque sua viúva Maria Kodama morreu no mês passado sem deixar testamento

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Por Daniel Politi
Atualização:

AP - Os direitos sobre as obras do falecido Jorge Luis Borges, considerado o autor argentino de maior relevância internacional do século 20, caíram no limbo porque sua viúva morreu no mês passado sem deixar um testamento.

A revelação feita nesta semana surpreendeu os círculos literários do país, porque a esposa de Borges, Maria Kodama, dedicou grande parte de sua vida a proteger ferozmente seu legado. Ela montou uma fundação com o nome do escritor, mas não detalhou os planos do que deveria acontecer depois que ela morresse, mesmo lutando contra um câncer de mama.

Foto do dia 10 de maio de 2018 mostra a autora e tradutora Maria Kodama, viúva de Jorge Luis Borges  Foto: Carlos Díaz / EFE

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“Se realmente não há um testamento, é surpreendente”, disse Santiago Llach, escritor especialista na obra de Borges. Segundo ele, o anúncio do advogado de Kodama, Fernando Soto, de que não havia testamento “gerou burburinho nas redes sociais e em outros lugares”.

Borges morreu em 1986 aos 86 anos e deixou Kodama, uma tradutora e escritora com quem se casou no início daquele ano, como sua única herdeira. Eles nunca tiveram filhos. Kodama morreu em 26 de março, também com 86 anos.

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Um dia depois de Soto fazer seu anúncio, cinco sobrinhos de Kodama foram ao tribunal na terça-feira, 4, para se declararem seus herdeiros, buscando obter a propriedade de todas as suas posses, incluindo os direitos das obras de Borges e o que se acredita serem vários manuscritos valiosos.

Soto disse desconhecer que Kodama não havia providenciado a redação de um testamento. “É incrível”, disse ele. “Ela não gostava de falar sobre essas questões, não falava sobre sua morte.”

Reprodução de original de Jorge Luis Borges, que consta no livro A Magia do Manuscrito, de Pedro Corrêa do Lago Foto: Acervo Pedro Corrêa do Lago

Soto disse ainda que certa vez perguntou a Kodama sobre o que aconteceria com os direitos de Borges após sua morte e “ela me disse que tinha tudo arranjado e que seria ‘alguém mais rigoroso do que eu’”.

Ele lembrou que Kodama disse que chamaria universidades no Japão e nos Estados Unidos para “cuidar das obras”, mas não disse quais escolas ela tinha em mente. Soto observou que ela costumava dar palestras na Universidade de Harvard e na Universidade do Texas.

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A viúva de Borges levava uma vida distante da família. “Ela sempre negou a existência de familiares”, disse Llach. “Tenho amigos escritores que conheciam seus sobrinhos e perguntaram sobre eles e ela negou a existência deles. Foi bem marcante.”

Soto disse que ficou “surpreso ao descobrir que ela tinha sobrinhos”, acrescentando que “foi um grande alívio porque não queria que o Estado ficasse com tudo”.

Segundo a lei argentina, se não houver testamento nem herdeiros naturais, o patrimônio de uma pessoa é assumido pelo Estado.

Algumas pessoas levantaram a possibilidade de que um testamento de Kodama possa ser encontrado assim que um inventário de todos os seus bens for realizado, mas Soto considera isso “absolutamente impossível”.

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“Ela nunca teria feito isso, jamais teria escrito um testamento por conta própria”, disse Llach para quem, se de fato não há testamento, a questão é se “foi apenas um simples descuido, um gesto punk de ‘eu não dou a mínima para tudo isso’, ou talvez também uma forma de ressaltar a falta de relacionamento com seus sobrinhos e família”.

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