PARATY - Foi como se um furacão tivesse passado por Paraty, mas cujos ventos plantaram ideias ao invés de destruir. Lázaro Ramos chegou à cidade fluminense, na quarta-feira, 26, na condição de um dos autores participantes da 15.ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, encerrada ontem, e se foi, no sábado, aclamado como pop star ou, mais conveniente, um best-seller, depois de todas suas participações no evento terem arrastado pequenas multidões. “Fiquei realmente surpreso com essa recepção, foi muito além do que eu esperava”, disse ele ao Estado, poucos minutos antes de voltar ao Rio de Janeiro. “Mas não acho que o jogo está ganho, há muito ainda o que se fazer.”
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Por conta de seu livro recém-lançado, Na Minha Pele(Objetiva), no qual estabelece um diálogo franco com os leitores sobre pluralidade cultural, racial, étnica e social, Lázaro foi convidado pela Flip. Afinal, ao criar um caldeirão de ideias, no qual se misturam autobiografia e diário, costurados por uma escrita sincera, ele se aproxima das grandes temáticas defendidas por Lima Barreto, o escritor homenageado desta edição. E, como a sessão de abertura, na quarta, previa uma palestra proferida pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz, autora de um dos mais importantes livros do ano (Lima Barreto: Triste Visionário, pela Companhia das Letras), nada mais natural que uma participação de Lázaro, que dramatizou textos do homenageado. Mesmo com pouco ensaio, a dupla impressionou pela química e, quando os dois foram para a Praça da Matriz, onde havia mais de mil pessoas, aconteceu a primeira apoteose: uma estridente ovação.
“Sempre busquei me comunicar com as pessoas da forma mais útil, especialmente na época atual, em que enfrentamos dificuldades de aproximação, de se estabelecer pontos de contato”, observa. De fato, o simples fato de ouvir com atenção fez enorme diferença. Na manhã de sexta-feira, 28, por exemplo, quando conversou com a jornalista Joana Gorjão Henriques sob o tema A Pele Que Habito, Lázaro e a plateia foram às lágrimas com discurso de uma professora aposentada, Diva Guimarães, e seu relato sobre como sempre enfrentou o racismo com a educação e a cultura. “Ela falou durante 12 minutos, tempo que ninguém costuma ter em palestras, mas, além de nos emocionar, dona Diva revelou ser um exemplo do nosso caráter histórico e esperava apenas por um gesto de aproximação.”
Terminada a palestra, Lázaro fez questão de abraçá-la e de oferecer seu livro. Ainda ao Estado, o ator/autor fez questão de lembrar que sua obra literária é uma extensão de seu trabalho artístico. “É a possibilidade de estabelecer diálogos que norteia minhas escolhas no cinema, teatro e TV. Não sou escritor e esse carinho veio de uma forma muito forte.” Para a autora Conceição Evaristo, Lázaro conquistou Paraty pela franqueza. “Ao ler Lima Barreto, ele parecia personificar o escritor, tamanha a verdade de suas palavras”, disse.
É a imagem do artista preocupado com questões da sociedade que explica a repercussão na Flip – na manhã de sábado, sua participação em um evento promovido pelo jornal Folha de S. Paulo provocou a formação de uma imensa fila, com a maioria das pessoas escutando suas palavras do lado de fora. Mesmo com o sucesso, Lázaro sabe que ainda há muito o que fazer. “Quero acreditar que todos aqui tenham se transformado em embaixadores da luta contra o preconceito”, disse ao Estado.
Os destaques da Flip 2017, que homenageia Lima Barreto
1 / 43Os destaques da Flip 2017, que homenageia Lima Barreto
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A Festa Literária Internacional de Paraty, Flip, de 2017 já foi aberta. Lázaro Ramos deu o pontapé inicial do evento com um tributo a Lima Barreto na ... Foto: Walter CraveiroMais
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Sessão de abertura, 'Lima Barreto: triste visionário', teve Lázaro Ramos num tributo ao escritor, com direção de cena deFelipe Hirsch. Foto: Walter Craveiro
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Biógrafa de Barreto, a escritoraLilia Schwarcz também participou da abertura. Foto: Walter Craveiro
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Lázaro Ramos interpreta os textos de Lima Barreto em meio ao público. Foto: Walter Craveiro
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Público participa da sessão de abertura do evento. Foto: Walter Craveiro
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Igreja da Matriz é palco para o evento deste ano. Foto: Walter Craveiro
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Público espera do lado de fora da Igreja da Matriz. Foto: Walter Craveiro
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Inspirado no mundo de Policarpo Quaresma, o pianista, arranjador e compositor André Mehmari apresenta uma suíte inédita na abertura da Flip. Foto: Walter Craveiro
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"Central Flipinha" é espaço de leitura para crianças no evento. Foto: Walter Craveiro
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Crianças se divertem com livros no espaço infantil do evento. Foto: Walter Craveiro
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Garota com livro na Central Flipinha. Foto: Walter Craveiro
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Família lê junta no evento. Foto: Walter Craveiro
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Carroça passa em frente ao espaço da Flip em Paraty. Foto: Walter Craveiro
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Com mediação de Luciana Araujo Marques, a mesa 'Arqueologia de um autor' teve a presença deBeatriz Resende, Edimilson de Almeida Pereira e Felipe Bote... Foto: Walter CraveiroMais
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Público acompanha a segunda mesa da Flip, 'Arqueologia de um autor', na Igreja da Matriz Foto: Walter Craveiro
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A escritora Djaimilia Pereira de Almeida fala durante a mesa 'Pontos de fuga', na Flip 2017, que tem Carol Rodrigues, Natalia Borges Polesso e Josely ... Foto: Walter CraveiroMais
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O mediador Leonardo Tonus e a escritora Carol Rodrigues durante a mesa 3 da Flip, 'Pontos de Fuga' Foto: Walter Craveiro
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Ana Weiss medeia debate com Jacques Fux e Julián Fuks sobre autoficção, imigração, vanguarda e outros temas Foto: Walter Craveiro
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Público acompanha pelo telão a mesa 'Fuks & Fux', na Flip 2017 Foto: Walter Craveiro
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Grace Passô compõe a mesa 'Odi Et Amo', da Flip 2017, que analisa a literatura medieval e a tradição greco-latina Foto: Walter Craveiro
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Os tradutores Frederico Lourenço e Guilherme Gontijo Flores falam sobre mitos, narrativas e história relacionada à tradução greco-latina, com mediação... Foto: Walter CraveiroMais
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A ruandesa Scholastique Mukasonga, que perdeu a família em um genocício, e a brasileira Noemi Jaffe, filha de uma sobrevivente de Auschwitz, na mesa '... Foto: Walter CraveiroMais
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Público acompanhaa mesa deScholastique Mukasonga e Noemi Jaffe, com mediaçã de Anabela Mota Ribeiro Foto: Walter Craveiro
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A jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques e o ator brasileiro Lázaro Ramos debatem preconceito racial nos países de língua lusófona Foto: Iberê Perissé
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Público participa do debate 'A pele que habito' Foto: Iberê Perissé
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Lázaro Ramos tira 'selfie' com a plateia após a mesa 'A pele que habito' Foto: Iberê Perissé
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O escritor Julián Fuks promove cortejo literário por Paraty na Flip 2017 Foto: Iberê Perissé
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Antonio Arnoni Prado e Luciana Hidalgo discutem a modernidade de Lima Barreto, que antecedeu o movimento modernista no Brasil Foto: Walter Craveiro
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Público lota a Igreja da Matriz em Paraty durante a mesa 'Moderno antes dos modernistas' Foto: Walter Craveiro
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Beatriz Resende,Luiz Antonio Simas e Prisca Agustoni falam sobre locais frequentados por Lima Barreto e seus personagens, traçando um perfil poético e... Foto: Walter CraveiroMais
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Na Flip, Pilar del Rio palestra sobre resistência feminina na cultura Foto: Walter Craveiro
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O escritor Ricardo Aleixo antecede a mesa 'A contrapelo' na Flip Foto: Walter Craveiro
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A conversa entre aescritora chilena Diamela Eltit e o documentarista brasileiro Carlos Nader foi mediadapor João Bandeira Foto: Walter Craveiro
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'Por que escrevo' é o mote da mesa que conta com a autora Deborah Levy e o jornalista William Finnegan, mediada por Ángel Gurría-Quintana Foto: Walter Craveiro
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Edmilson de Almeida Pereira e Prisca Augustoni conversam sobre poesia para crianças Foto: Iberê Perissé
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Público lota a Igreja da Matriz para ouvir sobre personagens singulares da literatura brasileira em mesa composta por Ana Miranda e João José dos Reis Foto: Walter Craveiro
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O rapper angolano Luaty Beirão participou de uma conversa com Maria Valéria Rezende sobre a escrita como forma de resistência Foto: Walter Craveiro
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Alberto Mussa e Sjón têm como pontos em comum a influência de Borges e a literatura mitológica Foto: Walter Craveiro
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A jornalista argentina Leila Guerriero explora, com Patrick Deville, os limites entre a ficção e a não ficção Foto: Walter Craveiro
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Patrick Deville, autor do romance'Viva!', fala sobre Trotski nas regiões tropicais Foto: Walter Craveiro
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Ana Miranda e Maria Valéria Rezende participam de conversa em frente ao telão da Flip Foto: Iberê Perissé
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Conceição Evaristo lê seu novo livro 'Becos da Memória' durante mesa da Flip Foto: Walter Craveiro
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Encerramento da Flip 2017 conta com Alberto Mussa,Ana Miranda,Djaimilia Pereira de Almeida,Patrick Deville,Paul Beatty,Scholastique Mukasonga e Willia... Foto: Walter CraveiroMais
“Lázaro é uma pessoa fundamental: sincero, humano, crítico, amoroso e dono de uma voz e um protagonismo potentes”, observa Lilia Schwarcz. “Se tem uma inserção diferente daquela que Lima Barreto conheceu, assim como o escritor de Todos os Santos, ele ‘descobriu’ sua cor a caminho da cidade grande e acabou porta-voz de questões inadiáveis de nossa agenda: a crítica ao feminicídio, à falta de inclusão social em nossa sociedade, a todas as formas de racismo. Ele é também defensor da solidariedade e do diálogo como forma de conversa e de entendimento. Isso sem esquecer sua defesa da educação e de uma compreensão da cultura de maneira mais ampla. Que inclua o que aprendemos das sociedade europeias, sem se esquecer das nossas tantas culturas vivas e que se recriam no Brasil, como as indígenas e as africanas. Esses são o livro e a pessoa na hora certa – e inadiável.”