Ainda que apontado como iniciador da literatura policial no Brasil, Luiz Lopes Coelho não tem essa primazia – embora figure como um dos principais nomes em um gênero ainda escasso de nomes no País.
O primeiro romance policial brasileiro recebeu o título de O Mistério e foi escrito por três autores – Coelho Neto, Afrânio Peixoto e Medeiros e Albuquerque –, publicado em forma de folhetim, em 1920. Medeiros e Albuquerque, aliás, destacou-se como autor do gênero, graças aos contos O Assassinato do General (1926) e Se Eu Fosse Sherlock Holmes (1932).
Os anos 1950 e 60 foram dominados pelos contos de Lopes Coelho, cuja tiragem chegou a atingir fabulosos 50 mil exemplares. O advogado logo recebeu a alcunha de Agatha Christie brasileiro, embora preferisse ser comparado ao belga Georges Simenon.
A chegada de Rubem Fonseca, porém, introduziu o policial brasileiro na época contemporânea. Obras como Feliz Ano Novo (1975) e Bufo & Spallanzani (1985) revelam o estilo seco, direto, capaz de construir uma narrativa eficiente e afiada. A desconfiança sempre ronda os personagens de Fonseca: o advogado não confia nos clientes, o juiz não acredita em nenhum dos dois, as amantes desconfiam do advogado que, por sua vez, aceita as evidências contra elas. Não é de se estranhar, portanto, que o crime seja o resultado natural da impossibilidade de convivência entre eles.
Fonseca inspirou a obra de outros autores como Patrícia Melo, Joaquim Nogueira, Tony Bellotto e, principalmente, Luiz Alfredo Garcia-Roza, um dos grandes nomes da atualidade. Mesmo assim, o gênero busca cristalizar no Brasil. Para a estudiosa Sandra Reimão, o caráter não muito zeloso da polícia brasileira dificulta a verossimilhança de muitos enredos policiais em livros que têm o Brasil como cenário.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.