Livraria Cultura foi pioneira no atendimento individualizado e em grandes eventos com autores

De Rita Lee a José Saramago, longas filas eram comuns nos lançamentos no espaço, cujos funcionários conheciam bem as obras indicadas

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Foto do author Ubiratan Brasil

O fechamento definitivo das portas da Livraria Cultura significa o fim de um sonho de uma imigrante, Eva Herz, que fundou o espaço em 1969. O que começou como uma biblioteca caseira se transformou em uma grande rede de livrarias (esteve presente em 16 cidades no Brasil) até que anos de prejuízos financeiros levaram a um pedido de recuperação judicial. Com os problemas ainda avolumados, a empresa teve falência decretada pela Justiça na quinta, 9, com dívidas declaradas de R$ 285,4 milhões.

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Filha de imigrantes judeus da Alemanha, Eva Herz montou, em 1947, em sua casa na Alameda Lorena, um serviço de aluguel de livros que chamou de Biblioteca Circulante. Inicialmente utilizava livros importados da Europa e atendia principalmente imigrantes.

Em 1969, com o serviço tendo se popularizado, Eva Herz inaugurou a Livraria Cultura em uma das lojas do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Seu filho Pedro tornou-se sócio da empresa.


O cineasta David Lynch durante evento e sessão de autógrafos, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional Foto: Marcelo Ximenez/ Estadão - 7/8/2008

Aos poucos, o espaço ganhou relevância, especialmente por incentivar o encontro de escritores como Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles e Marcos Rey, entre outros, que se reuniam na porta da livraria aos sábados de manhã. Também o atendimento tornou-se especializado, com funcionários com alto grau de conhecimento literário e aptos a indicar os livros segundo o interesse dos clientes.

O sucesso incentivou Pedro Herz a renovar a identidade visual da livraria e também a tornar sua visão como empresa mais ambiciosa. Em 2007, a Cultura mudou de espaço no Conjunto Nacional, passando a ocupar a grande área onde antes funcionou o Cine Astor, tornando-se sua sede.

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Logo, surgiram lojas segmentadas por assunto ou em associação com grandes editoras (como Companhia das Letras e Record) foram abertas.

A Livraria Cultura tornou-se referência desse negócio no País e, além de clientes, atraía grandes eventos, como concorridas noites de autógrafo - Rita Lee, Jô Soares, José Saramago e David Lynch foram alguns artistas cujas noites de autógrafos movimentaram enormes filas.


Rita Lee e Laerte em lançamento na Livraria Cultura da Paulista Foto: Paulo Giandalia/ Estadão - 26/4/2014


Também na loja do Conjunto Nacional foi aberto o Teatro Eva Herz, cuja programação disputava as principais peças que estreavam em São Paulo

Em julho de 2017, a livraria adquiriu a operação da Fnac no Brasil sem revelar os valores. No final do mesmo ano, foi adquirido o marketplace de livros Estante Virtual.

A expansão também se espalhou pelo Brasil, com lojas abertas em Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Salvador, além de várias outras em São Paulo, como nos shoppings Villa-Lobos, Bourbon e Iguatemi.

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Os investimentos, porém, logo se revelaram audaciosos demais, a ponto de, em outubro de 2018, a Cultura entrar com um pedido de recuperação judicial, após fechar lojas, reduzir o quadro de funcionários e encerrar as atividades da Fnac no Brasil.


Claudia Mello e Denise Fraga no espetáculo Chorinho, no teatro Eva Herz na Livraria Cultura do Conjunto Nacional Foto: Daniel Teixeira/ Estadão - 5/10/2012

Em abril de 2019, os credores aceitaram um plano de reestruturação das dívidas da empresa, descontando 70% do montante e dando um prazo de 12 anos para a quitação da dívida. Na época, a Cultura tinha 5 lojas, além da loja virtual. A partir de 2022, começou o processo de fechamento das lojas que ainda estavam abertas, ficando apenas a de São Paulo e Porto Alegre.

Até que, na quinta, 9 de fevereiro, a 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Justiça de São Paulo decretou a falência e o bloqueio de ativos da Livraria Cultura e sua holding, a 3H Participações. No pedido de recuperação judicial, a empresa declarou ter R$ 285,4 milhões em dívidas.

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