BOLONHA - Foram meses muito difíceis, mas para quem entra agora na Livraria Giannino Stoppani, no histórico Palácio Re Enzo, no coração de Bolonha, parece que nada aconteceu. Ela está lá, firme e forte, finalmente de portas totalmente abertas depois que um incêndio quase a destruiu por completo, com seu vasto acervo de livros para crianças.
Bolonha tem uma relação estreita com a literatura infantil. Há 60 anos, a cidade é ponto de encontro de editores, autores e ilustradores de todo o mundo, que se reúnem na Feira do Livro Infantil de Bolonha. E há 40 anos, ela conta com esta ‘libreria per ragazzi’, que vem ajudando na formação de leitores da região. Por isso, quando a notícia do incêndio se espalhou, a solidariedade veio de todos os cantos.
O incêndio
Era uma sexta-feira, 20 de maio de 2022, quando o fogo começou. Havia dois funcionários e um cliente na loja, e eles logo chamaram os bombeiros. O incêndio se alastrou pelo mezanino, queimou uma importante coleção formada por livros que ao longo dos anos concorreram ao prêmio Bologna Ragazzi, desceu para o térreo e destruiu completamente 9 mil livros e mobiliário. Ninguém se feriu.
Segundo Silvana Sola, uma das sócias, os bombeiros não puderam identificar a causa. “Eles disseram que foi um incêndio mágico”, ela contou.
O que não foi destruído precisou ser higienizado. “Mandamos 28.700 exemplares para serem recuperados por uma empresa sueca que tem sede em Florença. Para fazer isso, gastamos € 70 mil. E mais € 100 mil para o resto. Arcamos com uma parte e a prefeitura, que é dona do imóvel, assumiu a reconstrução.”
Silvana relutou em fazer um crowdfunding, mas quando percebeu a extensão dos dados e entendeu que ficaria cerca de sete meses de portas fechadas, sem receita, aceitou pedir ajuda. “Para mim, foi muito difícil fazer um financiamento coletivo, mas fizemos. E as pessoas foram muito solidárias emotiva e financeiramente”, disse. A campanha arrecadou mais de € 40 mil.
No final de outubro de 2022, uma parte da livraria foi reaberta. Em dezembro, outro espaço foi liberado. No dia 6 de março, coincidindo com a abertura da feira, houve um brinde para celebrar a retomada total dos negócios.
Reencontro com o público
“Foi emocionante desde o primeiro momento. Realmente emocionante, porque a livraria tinha um muro, portanto era um lugar absolutamente restrito. Mas as pessoas começaram a chegar e cada uma delas tinha vontade de dizer algo. Depois vieram crianças com seus desenhos. E, assim, a cidade entrou. E, depois, comprou livros. Foi um renascimento, e as pessoas ajudaram a reocupar o lugar.”
Mesmo que o fogo não tenha sido causado por nenhuma falha de manutenção, toda a parte elétrica foi refeita e um moderno sistema anti-incêndio foi instalado. O espaço também ganhou um elevador de vidro, e toda a mobília foi reconstruída tal qual era. “Conseguimos recuperar o que era a nossa história, o nosso modo de ser. Sabemos que não vamos ter de volta o que foi investido na reconstrução, mas o que nos interessa é poder seguir adiante.”
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