Como Martinho da Vila, o jornalista e biógrafo (Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, Companhia das Letras) Mário Magalhães acompanhou as tramas e os traumas que marcaram os acontecimentos de 2018. Em Sobre Lutas e Lágrimas, ele utiliza seu habitual rigor jornalístico para, temperado com um olhar crítico, analisar um ano cuja complexidade impede “exame retrospectivo isento de incertezas relevantes”.
Justamente por ser um ano inconcluso, visto que suas consequências influenciam o País agora e no futuro, que Magalhães compara 2018 com 1968, que também foi personagem de livro graças à sua envergadura histórica (1968: O Ano Que Não Terminou, de Zuenir Ventura).
Ainda como Martinho, Magalhães escreveu seus relatos “a quente, no olho do torvelinho”. Mas, se não deixa de se posicionar em passagens que flertam com a crônica, Magalhães abastece o leitor com fatos devidamente checados, permitindo que a reação do leitor seja incentivada pelos dados e não apenas por seu olhar pessoal.
E, se transforma 2018 em personagem, o autor classifica seu livro como uma biografia, iniciada com a descrição do réveillon esperançosamente vivido pela vereadora Marielle Franco e encerrada com a proximidade da posse de Jair Bolsonaro na Presidência.
Entre um momento e outro, a trama histórica é tanto marcada por situações mirabolantes (a prisão de Lula) e surpreendentes (a facada em Bolsonaro) como por fatos desapontadores (a desclassificação do Brasil na Copa).
São tantos fatos incríveis (a proeminência do “kit gay” na eleição, o assassinato de macacos durante o surto de febre amarela, a intervenção militar no Rio) que 2018 torna-se, de fato, no “ano em que o Brasil flertou com o apocalipse”.
SOBRE LUTAS E LÁGRIMAS Autor: Mário Magalhães Editora: Record (330 pág., R$ 44,90). Lançamento. Liv. Cultura. Av. Paulista, 2.073. 3ª (11/6), 19h
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