Mario Vargas Llosa diz que arte e literatura devem ter liberdade irrestrita

No lançamento de seu livro, em Madri, o escritor criticou a retirada de uma obra da feira internacional de arte Arco: ‘é um erro gravíssimo’

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Por Redação
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MADRI — Para o escritor Mario Vargas Llosa, arte e literatura devem primar pela liberdade “irrestrita”, mesmo que mostrem o pior da sociedade e que não deve haver mais limites à liberdade de expressão.

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Em entrevista, em Madri, quando divulgava seu novo livro La llamada de la tribu (ou O Chamado da Tribo), Llosa falou sobre a contestada retirada da feira internacional de arte contemporânea Arco, no final de fevereiro, da obra Presos Políticos da Espanha Contemporânea, do artista Santiago Sierra.

A decisão da entidade organizadora da feira, Ifema, duramente criticada, e que no final acabou se desculpando, converteu “em obra de arte algo que era um puro disparate”, disse o escritor, tendo sido comprada imediatamente depois por um particular defensor da independência catalã por 80 mil euros.

Mario Vargas Llosa. Em novo livro, faz autobiografia intelectual Foto: REUTERS/Susana Vera

Llosa, de 81 anos, também se referiu ao confisco, por ordem judicial, e a pedido de um dos protagonistas, do livro Fariña, obra na qual o jornalista espanhol Nacho Carretero se aprofunda na história do narcotráfico na região espanhola da Galícia nos anos 1980, e se tornou um sucesso de vendas.

“Não deve haver outros limites à liberdade de expressão além das leis, e são os tribunais que devem determinar se elas foram infringidas, não os governos”, afirmou ele.

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“É um erro gravíssimo”, ressaltou o escritor, que lembrou também que a função da arte é “tirar os demônios da jaula e deixá-los totalmente à vista”. 

“No caso da Arco, foi uma provocação de mau gosto, e ao proibir a obra deu a ela uma publicidade extraordinária”, afirmou.

Em seu novo livro, La llamada de la tribu, Vargas Llosa faz uma autobiografia intelectual e política através dos pensadores que mais o influenciaram, um livro em defesa do liberalismo e contra “as mentiras e calúnias” tecidas em torno dessa corrente de pensamento.

Um desses pensadores é José Ortega y Gasset (1883-1965), que Llosa diz ter sido profético ao afirmar que a tese independentista é a maior ameaça à democracia espanhola.

Em sua opinião, o nacionalismo catalão foi um “monstro artificialmente fabricado” por meio da educação.

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Llosa participou ativamente dos atos em favor da unidade da Espanha realizados em Barcelona dias após a frustrada declaração unilateral de independência da Catalunha, em 27 de outubro.

“Mas da mesma maneira que ela foi fabricada também pode desaparecer, e tenho a impressão de que esse processo já começou.”

“Há muitos catalães que hoje estão conscientes dos estragos causados pelo nacionalismo e vão voltar à razão e à sensatez”, afirmou Llosa, que tem esperança de que esse fenômeno “ficou para trás depois da terrível experiência”.

Quanto à intenção do ex-presidente regional catalão Carles Puidgemont de se candidatar à reeleição, sendo um fugitivo da justiça espanhola depois de fugir para a Bélgica, o escritor disse que “todos os nacionalismos são fonte de desatinos de caráter histórico, social, político, e não se deve esperar uma conduta que seja democrática, racional ou legal”.

“O nacionalismo é a negação de tudo isso, é parte de uma fraude do tipo ideológico de que pertencer a uma terra determinada tem um valor. E isso significa racismo dissimulado e violência, desprezo por quem não compartilha esse valor e, por isso, a história está repleta de cadáveres e de sangue”, disse ele, lembrando que “a loucura hitlerista foi uma loucura nacionalista”.

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O escritor referiu-se também ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como “a negação do liberalismo”: “Um senhor que quer erigir fronteiras e com uma política claramente discriminatória contra os imigrantes”.

Para ele, é um caso flagrante de populismo, e que achava que os Estados Unidos já estavam vacinados contra isso, o que se verificou também no Reino Unido, com o Brexit, a saída desse país do bloco europeu.

“Isso demonstra que não são sociedades totalmente vacinadas contra o populismo”, afirmou. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

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