Morre a autora Cleonice Berardinelli, membro da ABL e especialista em Pessoa e Camões, aos 106 anos

Dona Cleo, como era conhecida, foi a sexta ocupante da cadeira nº 8 na Academia Brasileira de Letras

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Por Redação
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Faleceu, nesta terça-feira, 31, a escritora Cleonice Berardinelli, sexta ocupante da cadeira nº 8 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Aos 106 anos, ela era considerada a integrante atual mais longeva da academia.

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Uma das mais importantes referências da Língua Portuguesa, Clarice foi eleita para a ABL em dezembro de 2009, na sucessão de Antônio Olinto. Durante a sua trajetória, se destacou pelos estudos das obras de Luís de Camões e Fernando Pessoa.

Entre os escritores contemporâneos, sua grande paixão era José Saramago, de quem foi amiga. Em um dos textos de seu blog, Saramago definiu assim a brasileira: “Ela faz parte da aristocracia do espírito, essa que sim é necessária para a evolução da sociedade”.

Dona Cleo, como ficou conhecida, nasceu no Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1916. Depois de se formar no Rio pelo Instituto Nacional de Música, mudou-se para São Paulo em 1938 para estudar Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP).

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Cleonice Berardinelli, especialista em literatura portuguesa do Brasil, foi eleita como imortal da Academia Brasileira de Letras em 2009. Ela faleceu nesta terça-feira, 31, aos 106 anos. Foto: Fabio Motta/Arquivo/Agência Estado Foto: Fabio Motta/Arquivo/Agência Estado

Em 1959, tornou-se doutora em Letras Clássicas e Vernáculas pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil e livre-docente de Literatura Portuguesa por concurso pela Faculdade Nacional de Filosofia.

Ela exerceu o magistério por mais de meio século, em instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Além disso, ministrou aulas na Universidade Católica de Petrópolis, no Instituto Rio Branco e foi professora convidada pelas Universidades da Califórnia, campus Sta. Barbara (1985), e de Lisboa (1987 e 1989).

Ela lembrava que, aos 7 anos, escreveu seu primeiro poema - definido por ela como “minúsculo e ridículo, naturalmente, próprio de 7 aninhos de idade”. Foi orientadora de pelo menos 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutorado. Era uma unanimidade. O escritor e jornalista Zuenir Ventura, um de seus ex-alunos, a apelidou de “divina Cleo”. E de Carlos Drummond de Andrade ganhou um poema, cujos versos dizem: “Até Fernando Pessoa, com respeitoso carinho/ trago pois, minha oferenda/ de bem humilde vizinho/ nesta ensancha prazenteira/ a justiça que me impede/ à genuína fazendeira/ Cleonice Berardinelli”.



Em 2013, ela dividiu uma mesa, na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, com Maria Bethânia. Durante uma hora e meia, leram poemas de Pessoa selecionados por Dona Cleo. A simpatia do público pelo carisma da professora foi imediata. O carinho foi retribuído nos autógrafos do então seu novo livro, Antologia Poética, na mesma noite. “Fiquei exausta, mas virei notável, foi um sucesso”, comentou, divertida.

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Entre as suas principais obras estão Estudos camonianos, de 1973 e ampliada em 2000; Obras em prosa: Fernando Pessoa, de 1986; A passagem das horas de Álvaro Campos, de 1988; Poemas de Álvaro Campos, impressa em Lisboa em 1990; Fernando Pessoa: outra vez te revejo..., de 2004; e Gil Vicente: autos, de 2012.


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