Nélida Piñon organizou a própria morte após diagnóstico errado em 2015

Médico havia dado apenas ‘seis meses’ de vida à escritora, que morreu mais de sete anos depois, neste sábado, 17; relembre sua última entrevista ao ‘Estadão’

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Por Redação

Nélida Piñon, escritora e primeira mulher a ser presidente da Academia Brasileira de Letras, morreu aos 85 anos de idade neste sábado, 17. Ao longo da vida, deu diversas entrevistas em que falou sobre sua obra e sua vida e, inclusive, já havia feito diversas preparações para a ocasião de sua morte.

Isso porque, em 2 de dezembro de 2015, foi informada por um oncologista de que tinha um câncer e provavelmente teria só mais cerca de seis meses de vida. Os anos se passaram e o diagnóstico se mostrou equivocado.

Nélida Piñon em foto tirada em maio de 2019 Foto: Wilton Junior/Estadão

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Quatro anos depois, em 2019, continuava viva e com saúde, aos 82, quando relembrava o tema ao Estadão: “Percebi que estava mais habilitada para a morte. Lamentei apenas os livros que deixaria para trás, e também não continuar com meus propósitos de ofício literário. Mas organizei a vida que estava prestes a terminar. Preparei uma lista de recomendações, que incluíam desde as músicas que seriam apresentadas em meu velório até a decisão de não ser enterrada vestindo o fardão da Academia Brasileira de Letras”.

“Quando superei o falso diagnóstico, senti as mudanças que se operavam em mim. Percebi que nunca mais se é a mesma pessoa. O convívio com a morte representou uma transformação: é talvez a grande metamorfose da vida”, refletia.

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Mesmo com a correção do diagnóstico meses depois, continuou escrevendo um diário em que costurou reminiscências ao mesmo tempo que refletia sobre a arte da escrita. A união desses textos resultou em Uma Furtiva Lágrima, livro que tanto traz memórias como faz a defesa da liberdade criadora. Clique aqui para ler mais sobre o livro e a íntegra da entrevista da escritora ao Estadão em 2019.

Nélida Piñon, que dizia ter aprendido a “cruzar vários gêneros” ao longo da carreira, ainda se autodefinia: “Sou mulher, brasileira, escritora, cosmopolita, aldeã, criatura de todas as partes, de todos os portos. Sou alguém que tem o hábito de criar, de pensar. É consequência da minha própria existência. Busco, em minha obra, cobrir o repertório humano. Tenho a pretensão de falar com a voz coletiva, pois o escritor tem as vozes do mundo, o que lhe permite encarnar uma voz mais fidedigna”.

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