No Dia mundial do livro, obras para conhecer a vida de escritores e suas bibliotecas

Dois livros sobre Fernando Pessoa ao emocionante discurso de um Nobel de literatura, entre outros títulos

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Foto do author Matheus Lopes Quirino
Atualização:

Autor confirmado na próxima edição da Feira do Livro do Pacaembu, que acontece entre os dias 7 e 11 de junho, ele vem lançar uma colossal (e definitiva) biografia de Fernando Pessoa. Pesquisador norte-americano, radicado em Portugal desde os anos 1980, Richard Zenith ficou anos debruçado no tomo que soma mais de mil páginas. Pessoa: Uma Biografia (Companhia das Letras) traz detalhes da vida do poeta de “várias faces’, que explica a criação de cada um dos heterônimos, dos mais conhecidos como Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos aos discretos que apareceram até uma única vez. Zenith dá vida aos itinerários do escritor, que morou em Durban, e depois mudou-se para Lisboa, participando da cena cultural.

Amigo de Mário de Sá Carneiro, grande figura de sua geração, Fernando Pessoa ganhou poucos prêmios em vida: o sucesso do autor de Mensagem foi amplificado depois de sua morte, em 1935, e por décadas ele continuou uma figura misteriosa no imaginário popular – aspecto bastante explorado na biografia, inclusive, com informações inéditas e documentos descobertos. Uma viagem ao universo pessoano que demanda tempo. Já para uma leitura “de uma sentada”, há uma outra publicação muito bem editada para se iniciar na vida do poeta português. É o recém-lançado Ler Pessoa, primeiro volume da coleção dirigida pelo pesquisador e editor Jerónimo Pizarro, que acaba de ganhar um volume pela Tinta-da-China Brasil.

Obra do poeta Fernando Pessoa , um dos maiores poetas do seculo 20, ganha novas edições Foto: EVELSON DE FREITAS/Estadão

Bibliotecas

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Para os bibliófilos de carteirinha, duas boas pedidas. A primeira, é o encantador Encaixotando Minha Biblioteca (Companhia das Letras), em que Alberto Manguel expõe seu amor pelos livros e conta sobre o processo de compor um acervo de títulos variados – de ficção científica, romances policiais, poesia e filosofia antiga à culinária. O editor, que hoje dirige a Biblioteca Nacional da Argentina, conta de suas viagens e os dramas que o acompanharam no momento de, justamente, começar a desmontar suas coleções preciosas.

Quem também escreveu sobre esses monumentos babélicos foi o editor italiano Roberto Calasso. Recentemente reeditado por aqui, Como Organizar uma Biblioteca (Companhia das Letras) traz os pensadores essenciais que ajudaram Calasso a formar um pensamento crítico, plural e refinado. Um prato cheio para os amantes da crítica literária e, mais, para quem quer alcançar outros horizontes com indicações de um mestre.

Na prisão

Retrato da jornalista Nellie Bly em 1890 Foto: Library of Congress / WashingtonPost

A jornalista norte-americana Nellie Bly (1864-1922) foi pioneira em questionar os métodos de tortura e internação da temível Blackwell’s Island, um sanatório situado numa ilha de Nova York – famoso, à época, pelos relatos de tortura e abusos. A jovem, então, resolveu investigar a fundo o lugar, o que foi difícil pela dificuldade em chegar à ilha. Para isso, com ajuda de seu editor do jornal New York World, ela simulou um diagnóstico, enganou policiais, psiquiatras e burocratas para se tornar paciente. Estando no local, vivenciou uma série de violências que viraram reportagens corajosas publicadas no jornal, após o seu resgate. Um clássico do jornalismo investigativo, Dez Dias num Hospício (Fósforo) ganhou tradução aqui por Ana Guadalupe.

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Dorothy Parker e sua língua afiada; Joan Didion, sempre na hora e local certos, dona de um olhar certeiro; Janet Malcolm, a destemida repórter dos tribunais; Susan Sontag, formadora de opinião muito antes do termo virar moda. São essas e outras mulheres que dão as caras em Afiadas (Todavia), uma antologia com ensaios e artigos de algumas pensadoras (todas colaboraram com a imprensa) responsáveis por abrir caminhos e empoderar o ponto de vista de muitas mulheres na mídia.

Vozes

O prêmio Nobel Kazuo Ishiguro em 2017, quando discursou na Academia Sueca Foto: Fredrik Sandberg/Reuters

O escritor japonês Kazuo Ishiguro, que recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 2017, teve seu discurso de posse transformado em um pequeno livro intitulado Minha Noite no Século Vinte e Outros Pequenos Avanços (Companhia das Letras), nele o autor reflete sobre eventos marcantes da sua formação literária, como a infância no Japão, a importância de clássicos (como Proust, uma de suas maiores referências) e uma visita ao campo de concentração de Auschwitz, um relato aterrador. Ao evocar o poder da memória em sua literatura, Ishiguro, que é radicado na Inglaterra há tempos, coloca em discussão aspectos do racismo, tendo em vista que ele é um dos poucos autores orientais a receber a efígie da Academia Sueca.

Também prêmio Nobel de Literatura, a francesa Annie Ernaux tem conquistado um público cativo no Brasil. No ano passado, quando veio à Flip, a editora Fósforo lançou um box com vários de seus relatos lançados no País. Ernaux é franca ao falar sobre relacionamentos, feminismo e aborto, começando em uma época em que havia muita repressão contra as autoras – e estamos falando de meados do século 20! Para começar, O Jovem (Fósforo) talvez seja um convite para a obra da escritora, que narra um affair com um homem mais novo.

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