José Saramago inicia um de seus Discursos de Estocolmo contando uma história sobre seus avós, ambos analfabetos, moradores de Azinhaga, vilarejo a nordeste de Lisboa. “No inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros (porcos menores) mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa.” A novidade é que a cama - esta exata cama - está na exposição Saramago - Os Pontos e a Vista, que abre no novo Farol Santander (Edifício Altino Arantes), em São Paulo, na próxima terça-feira, 6.
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A exposição tem entrada gratuita e fica aberta das 9h às 20h, de terça a sábado, e até as 18h no domingo, até dia 3 de junho. Também na terça-feira, 6, a Companhia das Letras lança uma coleção especial com as obras do escritor português. Um novo projeto gráfico traz capas com os títulos dos livros em caligrafias de nomes célebres como Chico Buarque, Milton Hatoum, Sebastião Salgado, Raduan Nassar e Fernanda Torres. A editora realiza um evento de lançamento, com a presença da escritora Pilar del Rio, viúva de Saramago, na Saraiva do Shopping Pátio Higienópolis, às 19h. A nova coleção será vendida apenas pela Saraiva e comemora os 20 anos do Nobel do escritor português.
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A exposição, com curadoria de Marcello Dantas, pretende mostrar a trajetória do escritor, “do nascimento em Azinhaga até a morte em Lanzarote”. Montada ao redor de vídeos do acervo do cineasta Miguel Gonçalves Mendes, captado nas gravações do filme José e Pilar, a mostra quer observar a dimensão humana e mais ao pé do chão de Saramago.
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“Os escritores deixam poucos elementos materiais como legado, então mantive essa economia espartana do Saramago também”, disse o curador em uma visita da imprensa à exposição na sexta, 2.
“Essa mostra começou em 2013, numa viagem minha a Lanzarote, quando conheci uma figura que trabalhava para ele e que me contou coisas da dimensão humana do Saramago, que ia além das obras”, explica. Depois, o curador também conheceu o cineasta Miguel Gonçalves Mendes, e perguntou sobre o material que “sobrou” das gravações para o filme de 2010. Dentro do enorme material disponível, e em boa parte inédito, selecionou alguns vídeos que agora estarão em exibição na mostra.
Em um deles, a imagem aparece embaçada, distorcida, num grau parecido com o da miopia de Saramago: óculos 3D à disposição ajudam o visitante a focar no vídeo. Em outra parte, uma reprodução de um táxi - um dos espaços preferidos do escritor para dar entrevistas no fim da vida - exibe vídeos de Saramago falando de seus assuntos caros, da literatura à religião.
O computador com que o autor escreveu parte de sua obra, um processador de texto, também veio de Portugal - um par de óculos deve chegar neste sábado, a tempo da abertura, trazido por Pilar del Rio, hoje presidente da Fundação José Saramago, que colaborou com a inédita exposição brasileira.
O curador conta ainda que a ideia inicial era montar a exposição no Museu da Língua Portuguesa, mas o incêndio de 2015 adiou os planos. Em seguida, veio a parceria com o Santander, que agora administra o espaço histórico no centro de São Paulo. Esta é a primeira mostra biográfica do novo projeto cultural, inaugurado em janeiro, no Edifício Altino Arantes, antigo prédio do Banespa. A mostra Saramago - Os Pontos e a Vista é apresentada pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet.
SARAMAGO - OS PONTOS E A VISTA
Farol Santander. R. João Brícola, 24; 3553-5627. Abre 3ª (6). 3ª a sáb., 9h/19h. Dom., 9h/17h. Até 3/6.
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