Um dos maiores clássicos da literatura brasileira também é o livro que movimenta o debate literário mais antigo do País: Capitu traiu Bentinho? É a pergunta que todo leitor de Dom Casmurro se faz durante e após a leitura do célebre romance de Machado de Assis (1839-1908).
Lançado em 1900 (embora conste a data de 1899 no volume, indicando que a obra foi impressa meses antes do lançamento), o romance acompanha Capitu e Bentinho, casal que foi criado lado a lado e se apaixona na adolescência. O jovem, no entanto, é enviado a um seminário para se tornar padre, onde conhece Escobar, de quem se torna melhor amigo. Anos depois, ambos abandonam o monastério e se casam - Escobar com Sancha e Bentinho com Capitu.
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Os casais vivem em harmonia até a morte de Escobar, quando Bentinho começa a desconfiar de que o amigo possa ter vivido um caso com Capitu. A desconfiança se dá pela semelhança física e comportamental de seu filho, Ezequial, com o amigo. A partir daí, Bentinho alimenta uma desconfiança que se torna quase insuportável e que o acompanha em todo o romance.

Como é Bentinho o narrador da trama, o leitor segue todos os acontecimentos por meio de seu ponto de vista, de forma que é impossível chegar a uma conclusão objetiva sobre a traição.
O livro de Machado de Assis é considerado revolucionário para a literatura brasileira, e segue sendo tema de aulas para ensino fundamental e médio e cobrado em provas de vestibular por todo o País. Mas o que o torna tão especial? É uma leitura difícil? Apesar da obrigatoriedade nas escolas, é uma leitura que fica melhor à medida que amadurecemos?
O Estadão conversou com especialistas em literatura brasileira e na obra de Machado de Assis para entender a dimensão da obra e o que a faz tão essencial mesmo 125 anos após a sua publicação.
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Quem responde
- Wilton José Marques, professor de literatura brasileira da UFSCar e autor de Machado de Assis e as Primeiras Incertezas (Alameda, 2022). Leia também: Pesquisador descobre livro de Machado de Assis ignorado por um século e meio e nunca publicado
- Luiza Helena Damiani Aguilar, mestre em Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa pela FFLCH-USP com a dissertação Machado de Assis em jornal e livro: diferentes suportes e sentidos dos três contos de Papéis Avulsos publicados antes de Memórias Póstumas de Brás Cubas (2020) e doutoranda com a tese O mistério do feminino visto por três narradores machadianos: As mulheres enigmáticas de Dom Casmurro, Singular Ocorrência e Missa do Galo (em andamento)
- Luana Chnaiderman, escritora e professora de língua portuguesa
- João Cezar de Castro Rocha, escritor e historiador, autor de Machado de Assis: Por uma Poética da Emulação (Civilização Brasileira, 2013)
Por que Dom Casmurro é um dos livros mais importantes da literatura brasileira?
Wilton José Marques: Os chamados romances da maturidade de Machado de Assis são obras fundamentais da literatura brasileira. E a virtude de toda grande obra é a sempre possibilidade de se amplificar as visadas interpretativas. E o caso de Dom Casmurro não é diferente. Gerações de críticos e leitores têm se debruçado sobre esta obra machadiana, o que, ao longo do tempo, tem gerado variadas leituras. E, sem dúvida, Dom Casmurro é o romance mais genial e intrigante do autor carioca, sobretudo pela ambiguidade narrativa, e que, ainda hoje, contínua a fascinar os leitores e as leitoras.
Luiza Helena Damiani Aguilar: Existem inúmeros fatores que contribuem para a importância de Dom Casmurro não só no panteão da nossa literatura, mas também no imaginário brasileiro – afinal de contas, a grande “polêmica” do livro viraliza nas redes sociais com relativa frequência. Machado de Assis como autor era imensamente prestigiado por seus pares, e sua obra tem caráter atemporal. Na contramão de muitos literatos do período, que presavam pela importância da “cor local” em suas obras, Machado acreditava que a literatura podia ser, ao mesmo tempo, local e universal, e essa visão se reflete em suas criações artísticas. Dom Casmurro, assim como o resto de sua produção, é ao mesmo tempo uma obra oitocentista brasileira e uma história que quebra barreiras espaço-temporais.
Acredito, porém, que uma frase de Ítalo Calvino, em seu Por Que Ler os Clássicos, traga o motivo principal: “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. O livro de memórias de Bento Santiago continua a ressoar com os leitores mais de 100 anos depois porque ele nunca se esgota. Sempre há algo de novo para ser desvendado, conversas novas a serem desencadeadas – tanto nos círculos acadêmicos quanto nas conversas casuais com amigos –, e algum aspecto da obra que nos surpreende, mesmo nas inúmeras releituras.
Luana Chnaiderman: O que faz o livro importante passa, é claro, pela qualidade literária mas também por aquilo que o livro se tornou e se torna em termos sociais e históricos. Dom Casmurro é uma referência, uma influência, e também uma revolução. Talvez todo o grande livro seja assim. Um livro que é lido e relido através dos tempos e a cada leitura se renova, a cada leitura é um novo livro. Por exemplo, a leitura de que Bentinho pode ser o “vilão’ da história e não a vítima de uma menina danada como a Capitu é uma leitura que não se fez desde sempre. O livro permanece o mesmo, as leitoras e leitores mudam, mas o livro continua cheio de significados e camadas de significados que não só fazem sentido como dizem muito sobre estruturas sociais brasileiras, no caso, as marcas da sociedade patriarcal, escravocrata para falar de grandes linhas.
Além disso, é um livro que fez escola, mostrou uma nova maneira de narrar uma história, criou personagens que são citados, relidos, imitados, ensinou muita gente a escrever melhor. Então, a importância se dá pelas qualidades intrínsecas ao livro, mas também pela comunidade de leitoras e leitores (escritores e não escritores) que o livro teve e tem e o torna uma referência incontornável para quem quer entender não só a literatura brasileira mas o próprio Brasil. A revolução que Dom Casmurro traz é o tratamento dado à linguagem, muito cuidada, muito pensada, inovadora e lapidada da primeira à última linha.
João Cezar de Castro Rocha: Porque Machado de Assis inventou uma forma literária que exige uma leitura que deve ser uma “leitura-montagem”. Pense em dois capítulos: O retrato e A fotografia. No romance, estão distantes um do outro. Agora, leia os dois capítulos em sequência! Um curto-circuito interpretativo ocorre. Eis aí toda a estrutura do romance.
Por que ler Dom Casmurro? O que o leitor vai encontrar lá?
Wilton José Marques: Como se sabe, toda leitura é sempre uma forma privilegiada de se ter acesso ao aprendizado humano. E, no caso específico deste romance, para entender como o ciúme doentio do personagem narrador estrutura o próprio andamento narrativo, é preciso que o leitor, acima de tudo, se atente para todos os detalhes do enredo, que às vezes podem passar desapercebidos. Ou seja, somente assim o leitor conseguirá entender as segundas intenções do narrador em relação à Capitu.
Luiza Helena Damiani Aguilar: Embora muitos reduzam Dom Casmurro à polêmica da possível traição de Capitu – talvez a maior de nossa literatura –, o leitor que se debruçar sobre a obra vai encontrar inúmeros temas, escondidos à plena vista. Além dos elementos relativos aos ciúmes ou ao adultério, o romance também toca em questões como o papel da mulher na sociedade oitocentista, discussão trabalhada não só com a figura de Capitu, como também a de Dona Glória e, mais marginalmente, de Dona Fortunata e de Sancha; ou a mobilidade social, já que, apesar de vizinhos, a família Pádua enfrenta dificuldades financeiras, diferentemente dos Santiago. A desigualdade social, aliás, é central para a digressão realizada nos capítulos sobre Manduca, jovem doente, pobre e um dos moradores da rua de Mata-cavalos com quem Bentinho travara uma breve relação discutindo a guerra da Crimeia: o seminarista é impedido de frequentar o enterro de Manduca porque isso seria dar ao evento o “lustre de sua pessoa”.
Luana Chnaiderman: Em primeiro lugar, a leitora encontrará em Dom Casmurro uma boa história. Isso é importante. Tem ali uma história interessante, que envolve amor, interesses, ciúmes e poder. É uma história legal, com personagens complexos e, ao mesmo tempo, reconhecíveis na nossa experiência. Há muitos Bentinhos por aí, homens herdeiros, bonachões, bem humorados, com uma cultura superficial, que estudaram pouco mas se diplomaram muito e que são, por trás de um lustre culto e engraçado, extremamente violentos e autoritários. Mas note que mesmo essa descrição que estou fazendo do Bentinho - este homem que ao final da vida não é mais Bentinho e sim o Dom Casmurro, aquele que se fechou e é um homem solitário e fechado que vai narrar a história do porquê dessa transformação - é uma das leituras possíveis, que pode ser debatida, dada a riqueza do texto. Há muitas Capitus, mulheres fortes e inteligentes que por algum motivo estão em um meio social mais rico que o da sua origem e tem que sempre negociar seu pertencimento a este meio, sempre enfrentar uma desconfiança e sarcasmo. Para cada personagem, para cada situação, há correspondência profunda e real no mundo a nossa volta.
João Cezar de Castro Rocha: Uma reflexão que só tem paralelo em William Shakespeare: o ciúme é uma questão muito mais epistemológica do que psicológica. Ou seja, o ciumento é alguém que radicalmente não sabe se algo de fato teve lugar. Daí, ele se torna um fabulador involuntário de fantasias de adultério. E quanto menos evidências encontra, mais histórias imagina!

É difícil ler Dom Casmurro?
Wilton José Marques: A despeito de que a busca de qualquer conhecimento sempre dependa de algum esforço intelectual, já que nada é dado de graça, pode-se dizer que não há grandes dificuldades em ler um livro como Dom Casmurro, já que a prosa machadiana, permeada pelo estilo intertextual e irônico, é um tanto econômica. De todo modo, escolher uma boa edição do livro – e há várias –, de preferência com boas notas explicativas, resolve a maior parte das eventuais dificuldades que o leitor possa vir a ter com os referenciais histórico-literários ou mesmo com a própria linguagem.
Luiza Helena Damiani Aguilar: Eu diria que muitas das obras do cânone literário brasileiro – especialmente as mais antigas – causem essa impressão de serem difíceis. Não acredito que seja o caso de Machado, no entanto. É natural que a leitura venha acompanhada de alguns obstáculos: o autor faz referências a episódios históricos que eram de conhecimento geral de seus contemporâneos, mas que nem sempre estão frescos na memória de um leitor do século 21; algumas palavras que poderiam ser mais comuns nos anos 1800 caíram em desuso e podem exigir uma consulta ao dicionário. No entanto, assim que o leitor transpuser certas barreiras, a leitura de Machado é fluída e cheia de humor, com personagens riquíssimos e tramas muito interessantes.
Luana Chnaiderman: Tem a questão da distância do tempo. A linguagem é viva, muda através do tempo, e a linguagem (vocabulário, expressões, sintaxe e assim por diante) de Machado não é a mesma dos dias de hoje. Então tem essa travessia para fazer. Como quem visita um outro lugar, que fala um português que é o mesmo, mas um tanto diferente, tem esse estranhamento inicial. Devo dizer que logo passa, o estranhamento. Mas que ele também é interessante, pois faz parte da literatura causar estranheza, incômodo, algum desassossego com a forma e não só com o conteúdo. Nem toda leitura precisa ser fácil, os estranhamentos são importantes, e é com eles que a gente aprende e enriquece nossa visão de mundo e das coisas. Mas talvez haja uma outra dificuldade, mais profunda, que é a compreensão da ironia. Estamos cada vez mais literais. E isso não dá certo se você vai ler Machado de Assis. Nem nenhuma grande obra. É necessário entender que Dom Casmurro é um personagem, que é diferente do autor, que a fala dele é construída pelo que mostra mas também pelo que oculta, que no estilo retórico está também uma das forças de poder e autoritarismo, e assim por diante. E entender ironia. A compreensão da ironia é um índice da boa leitura, e está tão em falta ultimamente que, quando vamos ser irônicos nas redes sociais, por exemplo, usamos um aviso: contém ironia. O que é uma desgraça. E acaba com toda a ironia.
João Cezar de Castro Rocha: Machado de Assis é um autor profundamente coloquial: não há dificuldade alguma em sua leitura.
Capitu traiu Bentinho?
Wilton José Marques: Tenho a impressão de que depois do aparecimento da leitura feita pela crítica norte-americana Helen Caldwell, que foi a primeira a enfatizar a parcialidade do narrador casmurro, essa pergunta já não faz mais sentido. Pois, de antemão, o narrador tem “absoluta” certeza da traição, e foi para provar isso que escreveu o livro. Dessa forma, o problema do romance é deslocado para as artimanhas do narrador, que, a todo momento, tenta convencer o leitor da suposta traição. Assim, ao contrário de Brás Cubas, que desrespeita constantemente o leitor para demarcar o seu lugar social, Bento Santiago tenta estabelecer uma relação de maior cordialidade com o leitor, tentando seduzi-lo para a tese da traição.
E o mais genial do livro é que, ao longo do enredo, o próprio narrador deixa várias pistas para que o leitor – ao menos, o atento – perceba tal parcialidade, como, por exemplo, quando afirma sobre as curiosidades de Capitu que “há conceitos que se devem incutir na alma do leitor, à força de muita repetição”. E assim, ao longo do livro, sobretudo nas partes da infância e da adolescência, Bento Santiago vai construindo – reiteradas vezes – uma imagem ingênua de si em contraposição à imagem sagaz de Capitu. Em outras palavras, se o leitor acredita piamente no narrador, ele lê uma versão da história, se não acredita, lê outra. O que, mais uma vez, atesta a não confiabilidade do narrador.
Luiza Helena Damiani Aguilar: De uma perspectiva analítica e acadêmica, essa é uma pergunta sem resposta: um dos grandes charmes do livro é justamente a dúvida. Ao escolher o ponto de vista de um narrador em primeira pessoa, Machado oferece ao leitor um olhar limitado, diferente daquele disponibilizado por um narrador onisciente. Esse é também um dos elementos que diferencia Dom Casmurro de outras grandes obras com temas similares, como O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, Otelo, de Shakespeare (peça com a qual o romance machadiano seria comparado na década de 1960 pela pesquisadora Helen Caldwell) ou mesmo Ressurreição, publicado pelo próprio autor quase 30 anos antes. O narrador-protagonista pouco confiável de Dom Casmurro, com seus lapsos de memória, omissões e contradições, deixa em aberto a discussão, convidando o leitor a participar ativamente da construção da obra.
Contudo, se eu fosse responder essa pergunta apenas com o coração daquela leitora de 15 anos que se apaixonou por Dom Casmurro desde as primeiras páginas? Não, Capitu não traiu Bentinho!
Luana Chnaiderman: O mais legal é que nunca saberemos.
João Cezar de Castro Rocha: Ninguém sabe! Por isso seguimos discutindo o romance.
O livro é leitura obrigatória em escolas. Mas ele fica melhor se o lemos já adultos?
Wilton José Marques: A presença literária de Machado de Assis na escola é um acontecimento importante para fornecer um repertório formativo e cultural para os novos leitores, daí a importância do professor como mediador de leitura, quando a obra é bem apresentada, ela acaba ficando na memória do aluno. Mas, obviamente, com o passar do tempo, é preciso aprofundar a sensibilidade da leitura, o que sempre acontece na releitura. E o caso do Machado também não é diferente, quando se melhora a capacidade de leitura, melhora-se a capacidade de compreensão do que é lido, sobretudo porque se enxerga novos detalhes. E no mais, uma grande obra nunca se esgota na primeira leitura, sempre existe alguma coisa a ser percebida ou algum segredo a ser decifrado. Aliás, talvez por causa dessa mesma percepção, é que o escritor italiano Italo Calvino, num livro famoso, tenha observado a respeito dos clássicos, como é – por óbvio – o caso de Dom Casmurro, que “são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: estou relendo e nunca estou lendo”.
Luiza Helena Damiani Aguilar: A leitura obrigatória de livros em escolas é sempre um tema polêmico. Acredito que muitos estudantes encarem os obstáculos mencionados anteriormente – as referências históricas, o vocabulário mais antigo – e se desanimem com a leitura. Por isso, seria muito importante que as escolas não só preparassem seus professores para que eles fossem capazes de trazer material de apoio à leitura, como também que recomendassem aos alunos edições bem anotadas, que aliviassem o fardo de pesquisa. No entanto, essa abordagem tomaria tempo, e tendo em vista a linha mais conteudista que muitas escolas adotam para poderem se adequar às provas de ingresso no ensino superior, ela raramente é feita, o que pode afastar alguns leitores mais jovens da obra.
Na idade adulta, porém, algumas coisas mudam de figura. A leitura não é mais feita apenas por obrigação. O leitor tem mais tempo e gosto por pesquisar aquilo que não compreendeu, ou mesmo mais bagagem cultural para deduzir alguns elementos. Os anos de experiência também interferem na forma como a obra vai ser apreciada. Faço releituras constantes de Dom Casmurro porque o romance é objeto de meu doutorado, mas vivi, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, a experiência de realizar a primeira leitura aos 13 anos e voltar à obra 10 anos depois. Aos 23, pude absorver elementos da obra que não tinham me encantado na adolescência, e pretendo fazer disso uma tradição, voltando a ela de tempos em tempos. Assim, acredito que, se não melhor, a experiência de reler qualquer obra em diferentes fases da vida é, no mínimo, fascinante.
Luana Chnaiderman: Eu não sei se o livro fica melhor se lido por adultos. Sei que a leitura obrigatória pode estragar muito o prazer de se ler um livro. Ler um livro para ir bem numa prova também é uma espécie de desgraça, né?
João Cezar de Castro Rocha: Não deveria ser leitura obrigatória! Talvez somente no terceiro e último ano do ensino médio. Todo livro sempre se torna outro numa segunda leitura.
Como você definiria o livro em uma frase?
Wilton José Marques: Dom Casmurro é, de longe, o principal romance de Machado de Assis. Numa palavra, indispensável.
Luiza Helena Damiani Aguilar: Uma obra sobre como os demônios de um indivíduo, sejam eles reais ou não, podem levar a ruína não só de sua vida, como também da de todos à sua volta…
Luana Chnaiderman: Não sobra pedra sobre pedra.
João Cezar de Castro Rocha: O livro sobre o que não se sabe; não se pode saber.
O que ler, de Machado de Assis, depois de Dom Casmurro?
Wilton José Marques: De saída, a melhor porta de entrada na prosa machadiana é a dos contos. Depois deles, os romances ficam mais fáceis de se ler. No mais, ler as obras de Machado de Assis é sempre um risco interessante, já que, na maioria das vezes, existe a possibilidade real de o leitor – ainda que desprevenido – sair dos livros um pouco melhor do que quando entrou. E isso, de todo modo, já é um ganho significativo.
Luiza Helena Damiani Aguilar: Como grande admiradora do autor, eu poderia tranquilamente recomendar todas as obras que ele já produziu. Acredito que mesmo alguns de seus textos menos investigados pela crítica – como suas peças de teatro ou sua poesia, por exemplo – sejam de imenso valor e podem interessar aos mais diversos tipos de leitores. Eu também poderia recomendar seus romances mais basilares. No entanto, vou seguir um caminho diferente: acho que os contos machadianos não recebem do público a atenção que é geralmente destinada aos seus romances. Machado era excelente contista, criando alguns de seus personagens mais intrigantes e universos mais curiosos – alguns deles até com toques de literatura fantástica – em poucas páginas. Assim, acredito que a leitura de coletâneas como Papéis Avulsos ou Várias Histórias seja uma boa pedida para que o leitor possa se apaixonar por uma diferente faceta do maior autor de nossa literatura.
Luana Chnaiderman: Aí vai para o Memórias Póstumas. E também os contos. Os contos do Machado são primorosos e talvez seja um jeito legal de conhecer e se aprofundar na linguagem e estilo desse autor tão extraordinário.
João Cezar de Castro Rocha: Contos e crônicas do mesmo autor.