Jurado do Jabuti diz que não sabia que livro foi ilustrado por IA e não teria indicado se soubesse

Edição de ‘Frankenstein’ feita com IA está entre semifinalistas. Vicente Pessôa diz que não informou uso na inscrição e diz que tecnologia é válida. Eduardo Baptistão, jurado da categoria, afirmou que não teria incluído livro na lista se soubesse dessa informação. ‘Estadão’ contatou a organização do Jabuti e a editora, mas não teve retorno até o momento

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Foto do author Julia Queiroz
Atualização:

O Prêmio Jabuti, uma das mais importantes premiações da literatura brasileira, indicou um livro feito a partir de inteligência artificial para a categoria de melhor ilustração do ano. Os semifinalistas de 2023 foram anunciados nesta quinta-feira, 9.

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A obra em questão é uma edição do clássico Frankenstein, de Mary Shelley, lançado pela editora Clube de Literatura Clássica em 2022. Ao Estadão, o designer responsável pela criação, Vicente Pessôa, defendeu o uso da tecnologia e esclareceu que não informou o uso da IA na inscrição, pois “não perguntavam”.

A reportagem procurou a organização da premiação e a editora Clube de Literatura Clássica, mas não teve retorno até o momento. Um dos jurados da categoria, Eduardo Baptistão, respondeu ao Estadão e afirmou que não sabia que o livro havia sido feito com IA - veja mais abaixo.

Após a divulgação de que o livro estava entre os indicados do Jabuti, o assunto teve grande repercussão nas redes sociais, inclusive com críticas ao prêmio. “Estou achando legal demais. Gosto de polêmica, gosto de gente chorando, esperneando, rasgando as vestes. Divulga meu nome e o Clube. Eu só acho que os ilustradores que estão achando realmente ruim vão ficar para trás. O IA está aí e veio para ficar”, diz Pessôa.

Edição de 'Frankenstein' da editora Clube de Literatura Clássica, feita com inteligência artificial, foi indicada ao Prêmio Jabuti 2023. Foto: Clube de Literatura Clássica/Divulgação

“A gente não falou, mas havíamos falado longamente na nossa divulgação no ano passado que esse era o primeiro livro da história do universo que foi inteiramente ilustrado por IA”, explica o designer sobre a inscrição.

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No lançamento da obra, a editora promoveu uma live do designer com Zé Lima, o gerente editorial do Clube. A transmissão ao vivo explicou o processo de desenvolvimento da capa e das ilustrações do livro.

Pessôa não vê necessidade em informar o Jabuti sobre a criação com IA. “Seria a mesma coisa que informar que utilizei uma câmera fotográfica, utilizei photoshop, illustrator ou xilogravura. É um negocio meio estranho”.

A escolha dos indicados e dos vencedores da categoria ilustração é feita por três jurados especialistas na área: André Dahmer, Eduardo Baptistão e Lucia Mindlin Loeb. O Estadão entrou contato com eles para esclarecer se sabiam que a obra foi feita por IA. Dahmer e Lucia não retornaram, mas Baptistão afirmou não saber que o livro havia usado a tecnologia.

“Quem atua como jurado sabe que isso iria acontecer em algum momento. Infelizmente, aconteceu cedo. Falo por mim, não sei o voto dos outros jurados. Evidente que eu não teria selecionado o livro se tivesse essa informação. As ilustrações me impressionaram pela qualidade, e havia uma unidade estética entre elas. Eu não tinha como saber que foram feitas por IA”, declarou.

Não sei se [os jurados] sabiam que era IA ou não, mas acho que em obras de arte isso não importa. Acho que eles sabiam porque ali tem vários elementos. Se eles têm algum conhecimento do que tem acontecido aí no campo de design e comunicação. Acho que para ser jurado do Jabuti, o cara tem que estar antenado. Se estiver, ele vai saber que é IA. Não sinto que enganei ninguém

Vicente Pessôa

O jurado ainda explicou que “o regulamento diz que o autor responde pela originalidade, autenticidade e/ou autoria do material inscrito”. “Na minha opinião, a IA não se enquadra nesses critérios. Mas quem vai determinar o que fazer neste caso é a CBL [Câmara Brasileira do Livro, que organiza o Prêmio Jabuti], baseada no parecer da sua assessoria jurídica”, completou.

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Segundo Pessôa, as ilustrações do livro foram realizadas com o software Midjourney através de “prompts” - comandos dados por escrito à inteligência artificial. “Foram feitas mais de 1.200 imagens, das quais a gente aproveitou 50. Talvez fosse menos trabalhoso ilustrar na mão″, explica.

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Frankenstein concorre com outras dez obras. Veja quais são:

  • A notável história do homem-listrado | Ilustrador(a): Fayga Ostrower | Editora(s): EDUFRN
  • Castelos de areia | Ilustrador(a): Odilon Moraes | Editora(s): ÔZé Editora
  • Feira feroz | Ilustrador(a): Daniel Kondo | Editora(s): VR Editora
  • Frankenstein | Ilustrador(a): Vicente Pessôa | Editora(s): Clube de Literatura Clássica
  • Lá fora | Ilustrador(a): André Neves | Editora(s): Companhia das Letrinhas
  • Minúscula | Ilustrador(a): Fran Matsumoto | Editora(s): Brinque-Book
  • Moby Dick, ou A baleia | Ilustrador(a): Letícia Lopes | Editora(s): Antofágica
  • O dedão do pé do gigante | Ilustrador(a): Bruna Ximenes | Editora(s): Editora do Brasil
  • O povo Kambeba e a gota d’água | Ilustrador(a): Cris Eich | Editora(s): Edebe Brasil
  • Sou mais eu | Ilustrador(a): Rogério Coelho | Editora(s): DarkSide

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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