Prisca Augustoni, poeta, tradutora e professora de literaturas italiana e comparada na Universidade Federal de Juiz de Fora, ganhou o Prêmio Oceanos 2023 na categoria poesia com O Gosto Amargo dos Metais (7Letras). Seu livro, que parte do impacto dos desastres ambientais de Mariana e Brumadinho, já tinha vencido, antes, o Prêmio Cidade de Belo Horizonte. Prisca, que nasceu na Suíça e vive no Brasil há mais de 20 anos, ganhou R$ 150 mil. O escritor cabo-verdiano Joaquim Arena também ganhou, e levou o prêmio de R$ 150 mil - mas na categoria prosa, por Siríaco e Mister Charles (Quetzal), inédito no Brasil.
Os vencedores foram revelados na noite desta quinta-feira, 12, em cerimônia no Itaú Cultural.
Este foi o primeiro ano em que a premiação foi dividida em prosa e poesia. Antes, o Oceanos, que é organizado pela Associação Oceanos e pelo Itaú Cultural, não fazia distinção de gênero e os livros concorriam entre si.
O que chamou a atenção nesta edição é que não havia nenhum autor brasileiro entre os finalistas em prosa. Foram inscritos 1.466 livros nesta categoria e disputaram o prêmio com Arena as seguintes obras: A história de Roma, de Joana Bértholo (Caminho), A última lua de homem grande, de Mário Lúcio Sousa (Dom Quixote), Misericórdia, de Lídia Jorge (Dom Quixote) e Naufrágio, de João Tordo (Companhia das Letras Portugal)
Em poesia, foram 1.466 inscrições, e quatro brasileiros estavam entre os cinco finalistas. Concorreram com o livro de Prisca Alma Corsária, de Cláudia Roquette-Pinto (34), Diário da Encruza, de Ricardo Aleixo (Segundo Selo), Entre Costas Duplicadas Desce um Rio, de Guilherme Gontijo Flores (Ars et Vita) e Paraíso, de Pedro Eiras (Assírio & Alvim).
O júri final, que escolheu os vencedores na categoria prosa, foi formado por pelos brasileiros André Sant’Anna, Eliane Robert Moraes, José Castello e Schneider Carpeggiani, pelo moçambicano Nataniel Ngomane e pela portuguesa Clara Rowland. Já o júri que votou em poesia foi composto pelas brasileiras Célia Pedrosa, Maria Esther Maciel, Tatiana Pequeno e pelos portugueses Carlos Mendes de Sousa e Golgona Anghel. Ao todo, considerando todas as etapas, o Oceanos contou com 159 jurados de quatro países.
Quem são os vencedores do Oceanos 2023
- Prisca Agustoni
Nascida em Suíça em 1975, ela é poeta, tradutora e professora de literatura na faculdade de Letras na Universidade Federal de Juiz de Fora. Vive no Brasil desde 2002, escreve e se autotraduz em italiano, francês e português. Suas publicações mais recentes são Un ciel provisoire, Casa dos ossos, Animal Extremo, O mundo mutilado, L’ora zero e Língua sommersa.
- Joaquim Arena
Escritor formado em Direito, em Lisboa, ele nasceu em 1964 na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, é filho de pai português e mãe cabo-verdiana. Foi assessor do presidente Jorge Carlos Fonseca até 2021. É autor dos romance A Verdade de Chindo Luz e do livro reportagem Debaixo da Nossa Pele, sobre seus antepassados, escravizados e trabalhadores livres nos campos de arroz do Vale do Sado.
Conheça os livros vencedores
(sinopses do Prêmio Oceanos)
- O gosto amargo dos metais
A obra nasce do impacto dos crimes ambientais ocorridos em Minas Gerais, primeiro em Mariana e depois em Brumadinho, em que uma avalanche de lama de rejeito de mineração destruiu bairros inteiros, tirou centenas de vidas e tingiu de marrom o rio doce, um dos mais importantes do Brasil. “As imagens terrificantes que circularam me lembraram uma tragédia de proporções épicas, como se o mundo estivesse vivendo um novo fim – e, paradoxalmente, um estranho recomeço”, diz a autora no prefácio do livro.
- Síriaco e Mister Charles
O livro conta a história de uma amizade ficcional entre dois personagens reais. De um lado, o jovem cientista Charles Darwin. De outro, Siríaco, um desconhecido homem negro, ex-escravizado, que nasceu no Brasil, foi educado em Portugal e, por ter a pele marcada por vitiligo, integrou a chamada “corte exótica” da Rainha Dona Maria I, composta ainda por indígenas e pessoas com nanismo. No romance, os dois se encontram em Cabo Verde (e aqui tudo já é ficção), lugar em que Siríaco decidira viver após ancorar na Ilha de Santiago com a família real durante a fuga de 1807, e onde Darwin passou 16 dias no início de suas investigações naturalistas que teriam como resultado o livro A Origem das Espécies.
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