Rio – A recessão recente fez o mercado editorial encolher 21% nos últimos doze anos, mostra pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) divulgada nesta quarta-feira, 30. As perdas de 2006 a 2017 somam R$ 1,4 bilhão. A expansão experimentada entre os anos de 2006 e 2011, quando o faturamento chegou a R$ 7 bilhões (corrigidos a valores de 2017 pelo IPCA) se seguiu de perdas nos últimos três anos, com queda de 20%.
Nesse período de crise, a partir de 2015, o setor mais afetado foi o de livros científicos, técnicos e profissionais: decréscimo de 32%. Mas na série histórica (2006-2017) o que mais caiu foi o setor de obras gerais (literatura adulta e infanto-juvenil, biografias etc): menos 42%. O menos impactado foi o de livros religiosos, menos 1,2% - é o melhor desempenho entre os quatro segmentos analisados (o quarto é o de livros didáticos).
++ Mercado editorial brasileiro fechou 2017 com queda no faturamento
A pesquisa foi encomendada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). A Fipe avaliou o desempenho real das editoras atualizando a série da década a contar de 2006 com os números sob o efeito da crise. O faturamento em 2006 foi de R$ 6,5 bilhões (corrigidos); em 2017, R$ 5,1 bilhões. A participação das vendas para o governo era 21% em 2006, chegou a 29% em 2011 e em 2017 era 24%.
Além da crise, a instabilidade política brasileira também impactou o setor livreiro, assim como a indústria nacional como um todo. “Independentemente do subsetor de livros analisado, o impacto da recessão foi forte, com quedas grandes desde 2015. A queda foi maior do que à observada no PIB, isso a despeito do crescimento da população”, diz a economista Leda Paulani, professora da Faculdade de Economia da USP e coordenadora da pesquisa desde 2008.
“A instabilidade política generalizada impactou também, adiou investimentos por parte da indústria e levou o consumidor final a ter insegurança na renda. Se a pessoa perde o emprego, pensa duas vezes antes de comprar um livro, a não ser que seja obrigatório”, ela aponta.
O número de livros per capita caiu. No caso das obras gerais vendidas pelas editoras para o mercado, o patamar era de 93,4 milhões de exemplares em 2006, chegou ao auge em 2012, com 208,9 milhões, e em 2017 desceu a 97,3 milhões. Os números não mudam muito na esteira de fenômenos pontuais de vendas.
“Espero que a gente tenha chegado ao fundo do poço. O mercado caiu de tal maneira que editoras e livrarias se reorganizaram, para começar a reverter o quadro. Neste ano, o varejo já viu crescimento. Em ano de Copa do mundo, há desvio de atenção muito grande e menos vendas, mas talvez não tenha impacto tão grande no resto do ano. A perspectiva para 2018 é boa”, acredita o presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira.
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