(Atualiazada às 17h30)
Jurado de morte pela máfia italiana depois de ter publicado Gomorra, sucesso também no cinema, e vivendo há oito anos sob proteção policial, o jornalista italiano Roberto Saviano é um dos destaques da 13.ª Festa Literária Internacional de Paraty, entre os dias 1.º e 5 de julho. A programação do evento, que terá Mário de Andrade como homenageado, foi anunciada na terça, 12, e inclui ainda nomes como Richard Flanagan, Sophie Hannah, Leonardo Padura, Colm Tóibín e Arnaldo Antunes.
A conferência de abertura, As Margens de Mário, ficará a cargo da crítica literária argentina Beatriz Sarlo, de Eliane Robert Moraes, que prepara o lançamento de Antologia da Poesia Erótica Brasileira, com poemas também do autor de Macunaíma, e Eduardo Jardim, que acaba de publicar Eu Seu Trezentos (Edições de Janeiro), a primeira biografia de Mário de Andrade. Ao longo de toda a programação, suas múltiplas ideias e interesses - do patrimônio à música - aparecerão. Pela primeira vez, haverá uma conferência de encerramento, e Miguel Wisnik foi convidado a “oferecer Mário de corpo inteiro”, nas palavras do curador Paulo Werneck. Vale lembrar que também pela primeira vez a Flip organizou um ciclo em São Paulo para ampliar o entendimento acerca do homenageado - a programação, em parceria com o Sesc, vai até 15 de junho.
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A Casa Azul, que organiza o evento, espera captar R$ 7,4 milhões - já conseguiu R$ 6,1 milhões e uma parte desse valor total, cerca de R$ 1,4 mi, será destinada às atividades realizadas com estudantes de Paraty durante o ano, à Flipinha e Flipzona. “Estamos vivendo um cenário dramático que se reflete em tudo o que se faz no Brasil. Imaginamos captar 15% (nominal) menos do que no ano passado”, disse Mauro Munhoz, diretor da instituição. Em 2014, a Flip custou mais de R$ 8 milhões. A realização do tradicional show de abertura não foi confirmada.
"Nesse contexto de crise, a programação tem a obrigação de ser ainda mais movimentada e viva. Todo mundo sabe que nos momentos de crise econômica e política, a cultura, em geral, é onde temos superávit. Mário de Andrade atuou num contexto político desastroso. Os anos 1930 foram uma tragédia, mas coisas aconteceram nesse contexto. Não podemos nos esquecer disso", comentou Werneck.
A organização da Flip parece tranquila com relação à vinda de Roberto Saviano. “Essa é uma questão dele, não temos muito como interferir e ele já tem o esquema pronto”, disse o curador. “Mas não sei se vai chegar para mim um peixe embrulhado num cartaz da Flip, ou uma cabeça de cavalo”, brincou. No ano passado, o líder indígena Davi Kopenawa participou da Flip numa situação semelhante à do italiano. E Salman Rushdie, quando veio pela primeira vez, em 2004, também inspirou atenção.
Em recente artigo no The Guardian, Roberto Saviano, que vive mudando de casa/esconderijo, comentou como é, para ele, viajar: “Se quero ir para fora do país, preciso informar o departamento de segurança do governo, com algumas semanas ou meses de antecedência, para onde irei e qual será a minha agenda, onde ficarei e as pessoas que encontrarei. Então, tenho que esperar a permissão - para descobrir se o país para onde quero ir me considera bem-vindo. Quando estou lá, leva dias para entrar em harmonia com a escolta policial. No início, há uma sensação de que sou um fardo, especialmente em eventos públicos”.
Além de Saviano, cujo livro mais recente publicado aqui é Zero Zero Zero, sobre o mercado da cocaína no mundo, participam da Flip outros 38 autores de diversas nacionalidades.Entre eles, Richard Flanagan, australiano que acaba de ganhar o Booker Prize pelo romance O Caminho Estreito para os Confins do Norte, que sairá pela Globo, e Sophie Hannah, escolhida pelo espólio de Agatha Christie para dar continuidade às histórias do detetive Poirot - Os Crimes do Monograma, que traz também o nome de Agatha Christie na capa, saiu pela Nova Fronteira em 2014; além desse, ela acaba de lançar A Vítima Perfeita pela Rocco, que tem planos de publicar outros títulos. E ainda o cubano Leonardo Padura, o argentino Diego Vecchio, o bósnio Saša Stanišic, o irlandês Colm Tóibín, o queniano Ngugi wa Thiong’o, o britânico David Hare, o franco-argelino Riad Sattouf (ex-Charlie Hebdo) e os brasileiros Reinaldo Moraes, Jorge Mautner, Karina Buhr, Ana Luisa Escorel, Roberto Pompeu de Toledo e Boris Fausto, entre outros.
Os ingressos aumentaram de R$ 46 para R$ 50 e começam a ser vendidos em 1.º de junho, pela Tickets for Fun. Quem não conseguir comprar, pode ver pelo telão, sem custo - e segundo Munhoz, a programação da Casa de Cultura também será gratuita.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA
Quarta, 1.º de julho 19 h Conferência de abertura - As Margens de Mário Beatriz Sarlo, Eliane Robert Moraes e Eduardo Jardim
Quinta, 2 de julho 10 h A Cidade e o território Antônio Risério e Eucanaã Ferraz
12 h (mesa Zé Kleber) Falando Alemão Geovani Martins, Deocleciano Moura Faião e Katjusch Hœ
15 h De Micróbios e Soldados Diego Vecchio e Saša Stanišic
17h15 A Poesia em 2015 Matilde Campilho e Mariano Marovatto
19h30 Encontro com Colm Tóibín
21h30 Do Angu ao Kaos Jorge Mautner e Marcelino Freire
Sexta, 3 de julho 10 h Encontro com Boris Fausto
12 h São Paulo! Comoção de Minha Vida... Roberto Pompeu de Toledo e Carlos Augusto Calil
15 h As Ilusões da Mente Eduardo Giannetti e Sidarta Ribeiro
17h15 Escrever ao Sul Ngugi wa Thiong'o e Richard Flanagan
19h30 Amar, Verbo Intransitivo Ana Luisa Escorel e Ayelet Waldman
21h30 Os Imoraes Eliane Robert Moraes e Reinaldo Moraes
Sábado, 4 de julho 10 h Turistas e Aprendizes Beatriz Sarlo e Alexandra Lucas Coelho
12 h Encontro com David Hare
15 h De Balões e Blasfêmias Riad Sattouf e Rafa Rocha
17h15 Os Homens que Calculavam Artur Ávila e Edward Frenkel
19h30 Encontro com Roberto Saviano
21h30 Desperdiçando Verso Arnaldo Antunes e Karina Buhr
Domingo, 5 de julho 10 h Música, Doce Música José Ramos Tinhorão e Hermínio Bello de Carvalho
12 h De Frente para o Crime Leonardo Padura e Sophie Hannah
14 h Conferência de encerramento José Miguel Wisnik
16 h Livro de cabeceira
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