Em Trumbo - Lista Negra, o diretor Jay Roach traça um perfil sintético do personagem. Pinça, da biografia de Dalton Trumbo (1905-1976), sua passagem mais marcante. Vítima da caça às bruxas do macarthismo, vai preso, resiste, continua a exercer seu ofício na clandestinidade e, com sua persistência, contribui para o fim de uma das páginas mais constrangedoras da história norte-americana recente. O filme não nos nega o contexto. Finda a 2ª Guerra Mundial, o mundo ingressa no período da chamada Guerra Fria, em que as suas superpotências se enfrentam. Na América, nasce um forte sentimento anticomunista, que se estende até Hollywood. O cinema era visto como poderoso veículo de formação de consciência. Era preciso controlá-lo. E expurgá-lo de maus elementos de tendências esquerdistas. Nasce a “lista negra”. Em 1947, Trumbo e outros nove diretores e roteiristas são chamados a depor. Trumbo negou-se a delatar, foi encarcerado por um período e seu nome não podia mais figurar nos créditos dos filmes. Bryan Cranston dá uma interpretação enxuta ao personagem. Cria um Trumbo sereno e sem nada de fanático, porém convicto de suas ideias e consciente do momento histórico. Humano, fraqueja diante da sobrecarga de trabalho clandestino que se vê obrigado a fazer. Escreve roteiros de filmes B, que são assinados por outros, ou com pseudônimos. Monta um pool de roteiristas proscritos, que produz em série. Há uma ideia genial por trás de tudo isso. O que importa é continuar a trabalhar. Não apenas porque cada um precisa do sustento, mas porque ceder seria decretar a vitória das forças obscurantistas de Joseph McCarthy.
Da história, alguns saem-se muito bem, além do próprio Trumbo. Kirk Douglas (Dean O’Gorman) chama Trumbo para escrever o roteiro de Spartacus. Produtor de filmes B, Frank King (John Goodman) garante emprego ao roteirista. Otto Preminger (Christian Berkel) vai além e coloca o nome de Trumbo nos créditos de Exodus. John Wayne (David James Elliott) é retratado como direitista empedernido. E a jornalista Hedda Hopper (Helen Mirren) é figura odiosa, manancial de intrigas e ideias retrógradas. Já o ator Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), que delatou colegas para livrar-se de acusações, é visto com complacência, vítima daquele estado de coisas. Se não deixa de louvar um herói da integridade, o filme vai além e aponta para o que existe de deletério quando pessoas passam a ser perseguidas por suas ideias. Inútil dizer o quanto isso tem de atual.
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