‘Ulysses’ e ‘Mrs Dalloway’ são dois pilares da literatura moderna

Nesta quarta-feira, 16, leitores celebram o Bloomsday e o Dalloway Day e os escritores James Joyce e Virginia Woolf

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O escritor irlandês James Joyce e a escritora inglesa Virginia Woolf conseguiram a proeza de entrar para o calendário de festejos literários anuais, o que não é comum, graças às datas em que se passam seus romances: Ulysses, de Joyce, no dia 16 de junho de 1904, e Mrs Dalloway, de Woolf, no dia 13 (como parte da crítica costuma afirmar) de junho de 1923. 

'Ulysses' foi publicado em 1922 e 'Mrs Dalloway', em 1925 Foto: Raptis Rare Books

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Para homenagear o protagonista de Ulysses, o judeu errante irlandês Leopold Bloom, criou-se o Bloomsday, ou Dia de Bloom, que foi celebrado pela primeira vez em 1924; hoje, a data já é tradicional e espalhou-se por muitas cidades ao redor do mundo. 

Recentemente, passou-se a celebrar também o Dalloway Day, em homenagem à protagonista do romance, a socialite inglesa Clarissa Dalloway.

Ulysses e Mrs Dalloway são semelhantes em muitos aspectos. Ambos se valem de fluxos de consciência, flashbacks, pequenas epifanias e narrativas entrecruzadas. Em Ulysses, Leopold Bloom sai de casa pela manhã não apenas para trabalhar, mas também para acompanhar o enterro de um amigo, caminhar pela praia, ir ao bordel, etc. Já no romance de Woolf, Clarissa Dalloway percorre as ruas de Londres a fim de comprar flores para um jantar que dará naquela noite e, nesse percurso, passa por um parque, pelas vitrines das lojas... 

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Tanto em Ulysses como em Mrs Dalloway vislumbramos a vida daqueles que cruzam o caminho de seus protagonistas. O enredo de ambos os romances destaca as banalidades do dia a dia, mas também traz à tona temas importantes como, por exemplo, a guerra, no caso do romance de Woolf, e o papel da igreja e da Inglaterra na Irlanda, no caso do romance de Joyce. 

Mrs Dalloway se passa num momento de aparente tranquilidade, num dia aprazível, mas a guerra segue sendo um pesadelo que atormenta particularmente um de seus personagens que, sempre tomado por um medo terrível que o paralisava, opta por se suicidar.

Em Ulysses, os traumas de uma nação colonizada e vivendo sob o jugo da igreja católica ganham destaque e são o pesadelo da história do qual os irlandeses gostariam de despertar. 

Coincidentemente, Joyce e Woolf têm o mesmo ano de nascimento e o mesmo de morte, mas com vidas muito diferentes: a inglesa vinha de uma família privilegiada e assumiu um papel importante entre os artistas do seu seleto círculo inglês, enquanto Joyce, ao contrário, foi um exilado que, sem recursos, teve que lutar muito para sobreviver na Europa continental e ter sua obra reconhecida. 

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É interessante pensar que Harriet Shaw Weaver, editora e mecenas de Joyce, tentou convencer Leonard e Virginia Woolf a publicar Ulysses na Hogarth Press, editora que o casal comandava, mas eles não aceitaram a proposta. Aliás, Virginia teria escrito em uma carta que, de fato, Joyce era subestimado, mas nenhum livro a teria aborrecido mais do que Ulysses. 

E cá estamos celebrando esses dois pilares da ficção moderna. * ESTÁ ORGANIZANDO A TRADUÇÃO INTEGRAL E CONJUNTA DE FINNEGANS WAKE, SOB ‘O TÍTULO FINNEGANS RIVOLTA’ (ILUMINURAS)

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