AFP - O anúncio na quinta-feira, 6, do Prêmio Nobel de Literatura levanta questões sobre se a Academia Sueca vai optar por um autor de renome ou vai continuar apostando em surpresas ao escolher um autor até então desconhecido.
Com a escolha da poeta americana Louise Glück (2020) ou do romancista de origem tanzaniana Abdulrazak Gurnah (2021), a Academia Sueca decidiu atribuir o mais prestigiado prêmio literário a autores pouco traduzidos e desconhecidos do grande público e também do mundo editorial.
“Depois do ano passado, acho ainda mais difícil adivinhar”, admitiu Lina Kalmteg, chefe de Literatura da rádio nacional da Suécia, lembrando a “surpresa total” quando o nome de Gurnah foi anunciado.
“Acho que eles estão procurando um nome mais conhecido este ano por causa da surpresa do ano passado”, previu Björn Wiman, chefe da seção Cultura do jornal sueco Dagens Nyheter.
A academia está se recuperando de uma longa crise, após o escândalo #MeToo em 2018 e a premiação no ano seguinte ao austríaco Peter Handke, escolha que gerou polêmica por suas posições a favor de Slobodan Milosevic.
“Agora a academia está obviamente preocupada com sua imagem, tanto em termos de diversidade quanto de representação de gênero, de uma maneira completamente diferente do que antes do escândalo de 2017-2018″, disse Björn Wiman à AFP.
Perante as críticas pela falta de diversidade na escolha dos vencedores, a Academia Sueca integrou em 2020 um grupo de especialistas externos de diferentes áreas linguísticas.
Após os choques do escândalo de Jean-Claude Arnault, marido de uma acadêmica acusada de violação, a instituição teve de adiar a atribuição do prêmio em 2018.
Desde então, o prêmio foi para duas mulheres: Glück e a polonesa Olga Tokarczuk e para um homem.
Isso pode ser considerado um bom presságio para a americana Joyce Carol Oates, as francesas Annie Ernaux e Maryse Condé, ou para a escritora canadense Margaret Atwood, bem colocadas nas apostas.
Desde a criação do prêmio, um total de 16 mulheres receberam este prestigioso prêmio, sendo a primeira delas a sueca Selma Lagerlöf em 1909.
Nesse sentido, entregar o prêmio à russa Ludmila Ulitskaia, que já foi mencionada em várias ocasiões, seria uma oportunidade para enviar uma mensagem contra o presidente russo, Vladimir Putin, após a invasão da Ucrânia.
“Isso geraria uma reação”, diz Wiman, lembrando que ela é uma autora contrária ao Kremlin e também traz à tona a cultura russa em um contexto de guerra na Ucrânia. “Este é o tipo de debate intelectual complexo que você quer ter em torno do Nobel.”
Nos sites de apostas, o francês Michel Houellebecq, frequentemente citado como um possível vencedor, aparece como o favorito à frente da poeta canadense Anne Carson ou do escritor Salman Rushdie.
Outros nomes que costumam soar nas especulações anteriores ao anúncio são o queniano Ngugi Wa Thiong’o, o húngaro Laszlo Krasznahorkai, ou os americanos Thomas Pynchon e Don DeLillo.
“Os romances americanos pós-modernos ainda não foram recompensados”, disse Jonas Thente, crítico literário do Dagens Nyheter.
Outros favoritos incluem os noruegueses Jon Fosse e Karl Ove Knausgaard, que podem levar o prêmio para a Escandinávia, mais de dez anos após o sueco Tomas Tranströmer ter sido homenageado.
Enquanto isso, Maria Hymna Ramnehill, crítica literária do diário Göteborgs-posten, se inclina para o franco-marroquino Tahar Ben Jelloun ou o croata Dubravka Ugresic.
“Acho que ambos têm, de maneiras diferentes, uma literatura que questiona e examina identidades”, explicou. “Eles falam de suas identidades de maneira complexa e destacam uma realidade complicada e difícil de entender, e que não pode ser explicada com soluções simples.”
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