O ano com dois superfestivais na agenda de São Paulo – um no primeiro semestre, o outro no segundo – reforça a ideia de potência musical da cidade, define o Autódromo de Interlagos como a “Cidade do Rock paulista” e sedimenta as duas frentes de música pop mais viáveis para plateias de massa. O Lollapalooza, que será de 24 a 26 de março, é bem resolvido com sua identidade original, apostando sobretudo nos nomes do rock, do funk, do eletrônico e do rap – todos essencialmente indie. É tudo o que existe no espaço aberto entre aquilo que é visto como hermético e sem potencial cool (jazz, choro e música instrumental, por exemplo) e aquilo que seja pop ou popular demais (samba, sertanejo ou rock pop de bandas como Jota Quest e Skank).
No pensamento oposto a esse, o The Town, “dos mesmos criadores do Rock in Rio”, como o empresário Roberto Medina gosta de apresentar, chega a São Paulo como uma ação ultrapop. Ele será realizado nos dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro, nos mesmos 350 mil metros quadrados de Interlagos, mas tentando demarcar um outro território. Ao mesmo tempo que joga para as plateias populares, escalando nomes como Post Malone, um ‘rap reggaer’ que se movimenta bem nos dois eixos, o cool e o pop, e mais Ludmilla (testada e aprovada na última edição do Rock in Rio), Foo Fighters (uma espécie de classic rock para quem tem 20 anos), Bruno Mars (esse vai dar o que falar, é o maior nome da edição) e Iza (ainda carece de um grande espetáculo que justifique seu nome em tantos festivais), o evento tenta capturar um pouco da alma de São Paulo. Para um palco chamado São Paulo Square, escalou nomes do jazz internacional. A baixista e cantora de jazz Esperanza Spalding (com shows dias 2 e 3), o guitarrista Stanley Jordan (7 e 9) e o espetacular baixista e cantor camaronês Richard Bona (dia 10).
Mais maleável do que o Lolla, que prefere não abrir espaços secundários a expressões que fujam do conceito rocker, o The Town é pop, mas aposta num interessante crossover. Prevendo uma procura mais familiar do que seu concorrente – que tem plateias com adolescentes e jovens sem os pais – eles criam com o São Paulo Square um refúgio aos que não quiserem saber de Luisa Sonza, Jão e Criolo. As contas feitas por Medina indicam que 500 mil pessoas devem passar por ali, muitas delas com familiares. Serão mais de 235 horas de música espalhada por cinco palcos. A cenografia será toda inspirada em ícones da arquitetura paulistana e a ideia será explorar a “diversidade” dos povos paulistanos. Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, a previsão do impacto econômico na cidade durante os dias de evento está na casa dos R$ 1,7 bilhão, e a geração de 19 mil empregos diretos.
LOLLAPALOOZA. Sedimentado no calendário de São Paulo desde 2012 – e ninguém usou a data redonda para celebrar esses dez anos –, tem sua força menos no conceito e mais no lineup, nas atrações. Há muitas bandas realmente desconhecidas, ao menos do grande público, mas isso é justamente a graça do evento. É um ótimo lugar para se fazer grandes descobertas também. Dos grandes, o festival terá Billie Eilish na sexta, dia 24, um dos nomes mais esperados; as bandas Tame Impala e Twenty One Pilots, no sábado, 25; e os blockbusters Drake e Rosalía no encerramento, domingo, 26. O Blink-182 estava na programação como atração principal do sábado, mas cancelou sua vinda depois que, conforme alegaram, o integrante Travis Barker foi submetido a uma cirurgia no dedo. Outros destaques serão Jane’s Addiction, The 1975, Armin Van Buuren, Melanie Martinez, Jamie XX, Aurora, Tove Lo e Kali Uchis. Dos brasileiros, Ludmilla (sim, a única a estar nos dois festivais), L7nnon, Filipe Ret, Pitty, Pedro Sampaio, Anavitória e Paralamas do Sucesso.l
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