Os atos golpistas de 8 de janeiro me pegaram de férias, desconectada de redes sociais, minutos depois de um almoço. Uma mensagem no WhatsApp alertou para o que estava acontecendo.
- Você viu que invadiram o Congresso?
Ainda estava processando a informação quando os canais de televisão começaram a mostrar imagens de depredação e quebra-quebra. Mas o mais impactante para mim foi ver a excitação que tomou conta de algumas pessoas diante das cenas. Gente religiosa defendendo morte de ministro do Supremo Tribunal Federal, brados contra o comunismo - que eles não sabem bem o que é, mas veem como uma ameaça mais do que real -, xingamentos contra a imprensa e os jornalistas.
Não fazia diferença ali eu jamais ter defendido que o Brasil vire a Nicarágua e trabalhar num jornal que denunciou os maiores escândalos das gestões petistas. Não acreditar nas teses delirantes com que tentavam justificar a destruição dos prédios do STF, do Congresso e do Planalto transforma automaticamente qualquer interlocutor que apele à razão num infiltrado que não quer o bem do País e precisa ser combatido.
Saí de lá com a certeza de que o que ocorre hoje no Brasil é mais do que um problema de divergências políticas. É um fenômeno social que precisa ser estudado à luz da Psicologia de Massas e - no caso das pessoas mais radicais - tem características que o aproximam de uma seita religiosa.

O comportamento de seguidores que passam o dia inteiro sendo alimentados por fake news e acham patriótico depredar prédios públicos, cantar hino para pneu de caminhão e chamar extraterrestres para resgatar o País do apocalipse mostra o quanto eles estão vulneráveis ao fanatismo e à desinformação.
Desconexão da realidade e idolatria por um líder que veem imaculadamente sem defeitos não são novidade na história, mas ganharam proporção tal que extrapola totalmente o âmbito da Ciência Política. É urgente que a sociedade vá além de caçoar dessas situações bizarras e olhe com atenção para essas pessoas radicalizadas por grupos de WhatsApp, Facebook, Telegram e lives do TikTok.
Especialistas defendem que o primeiro passo nesses casos seria afastá-las das fontes que irradiam a desinformação e alimentam os comportamentos de seita. A questão é como ajudá-las nesse “detox do delírio”. Eu infelizmente ainda não descobri.