Neuchâtel é uma pequena cidade suíça de 31 mil habitantes às margens de um lago de mesmo nome. Com vinhedos e um castelo medieval, é apresentada em sites de turismo como “um oásis de natureza com charme francês e toque mediterrâneo”. Há alguns dias, o local virou notícia em várias partes do mundo após seus médicos prescreverem um “remédio” diferente a pacientes com problemas de saúde mental e doenças crônicas: passeios em jardins públicos, galerias de arte e museus.
O projeto piloto foi lançado em fevereiro deste ano para ajudar moradores em dificuldades e promover atividade física, segundo reportagem da Reuters. Mas chamou a atenção mesmo por envolver centenas de prescrições médicas para visitas gratuitas a três museus e ao jardim botânico da cidade. A iniciativa será testada por um ano e poderá ser expandida para outras atividades, como teatro.

“Estou convencida de que, quando cuidamos das emoções das pessoas, permitimos que, de alguma forma, elas encontrem um caminho para a cura”, explicou à Reuters a médica Patricia Lehmann, participante do programa, destacando que contatos com arte e natureza permitem esquecer ao menos por um tempo preocupações, dores, doenças.
Instalado num edifício de 1885, o Musée d’Art et d’Histoire de Neuchâtel (MAHN), por exemplo, guarda obras-primas de Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir e Edgar Degas, além de murais de Leo-Paul Robert e uma coleção famosa de bonecas. É um dos museus das prescrições médicas.
Enquanto as autoridades locais torcem para que o projeto tenha pacientes suficientes para decolar e a cultura um dia seja coberta por seguros de saúde, vale uma reflexão por aqui também: poderia um programa como esse integrar alguma política pública de saúde no Brasil?
Para colaborar com a discussão, permitam-me lembrar uma médica e escritora americana que citei numa coluna meses atrás. Para Saundra Dalton-Smith, não basta sugerir descanso físico para pessoas com diferentes níveis de esgotamento mental. Segundo ela, da mesma forma que existem os descansos físicos passivo (dormir e cochilar) e ativo (fazer atividades restauradoras, como ioga e alongamento), há outros tipos de descanso que deveriam estar sempre no radar: o descanso mental (obtido por exemplo com pequenos intervalos na rotina), o sensorial (com a redução do bombardeio digital), o social (fugindo de relacionamentos sugadores de energia), o espiritual (incluindo algo superior na vida) e o emocional (podendo expressar sentimentos sem medo de julgamento alheio).
O último, mas não menos importante, é o que a autora americana chamou de descanso criativo. Para obtê-lo, Sandra recomenda não só apreciar a beleza da natureza ao ar livre como ter contato com a arte e com o que desperta admiração. “Você não pode passar 40 horas por semana olhando para um ambiente vazio ou confuso e querer se sentir apaixonada ou ter ideias inovadoras”, ensina.
Qualquer semelhança com a prescrição dos médicos suíços não é mera coincidência.