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Coluna quinzenal da jornalista Luciana Garbin que traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião | Resiliência, empreendedorismo, determinação: História da viúva Clicquot vai muito além do champanhe

Tema de filme em cartaz em São Paulo, trajetória de francesa que enfrentou crises, críticas e preconceitos para manter vinícola do marido falecido na época das Guerras Napoleônicas transcende mundo das bebidas

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Foto do author Luciana Garbin
Atualização:

Muito tempo antes de se começar a falar em empreendedorismo feminino, uma francesa entrou para a história por revolucionar a indústria de bebidas até então dominada por homens. Seu nome era Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, mas provavelmente você a conhece de outro jeito: veuve Clicquot - ou, do francês, viúva Clicquot. Se pensou no famoso champanhe acertou.

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Em 1805, com apenas 27 anos, Barbe assumiu a vinícola da família após a morte do marido. E, com determinação e ideias ousadas, a transformou num negócio de sucesso internacional em pouco mais de uma década. O detalhe é que fez isso na época das Guerras Napoleônicas, em que mulheres não podiam sequer ter conta bancária na França. Essa história inspiradora é o mote de um filme em cartaz em São Paulo.

Dirigido por Thomas Napper e protagonizado por Haley Bennett, A Viúva Clicquot: A Mulher que Formou um Império conta detalhes da vida da filha de um fabricante têxtil de Reims nascida em 1777 e criada para casar, ter filhos e cuidar do lar. Aos 20 anos, Barbe virou esposa de François Clicquot, num casamento arranjado entre as famílias. Quando ele morreu, Claude Möet fez uma oferta de compra da vinícola ao sogro de Barbe. Mas ela, já mãe de uma menina, implorou para manter o negócio que tinha aprendido com o falecido marido, que de tão apaixonado pelas videiras até cantava para elas.

Haley Bennett como a viúva Clicquot em cena do filme em cartaz em São Paulo Foto: Paris Filmes/Divulgação

Barbe passou então a enfrentar críticas, preconceitos e muitas dificuldades financeiras - a ponto de ter de pagar os agricultores com toalhas de casa e vender móveis para saldar o prejuízo de uma carga de bebidas perdida. Mas promoveu também inovações na elaboração do champanhe que depois acabaram copiadas não só pelos concorrentes locais como mundo afora. Entre elas, clarificou o espumante, desenvolveu técnica para remover os sedimentos do processo de fermentação e reduziu o tamanho das bolhas.

O filme é inspirado no livro de mesmo nome, escrito pela americana Tilar J. Mazzeo. Ambos têm o mérito de resgatar uma história que transcende o mundo das bebidas e envolve resiliência e quebra de obstáculos. Numa das cenas finais, Barbe vê detalhes de sua vida privada expostos num tribunal. Mas se vale de um item perdido no Código Napoleônico que tornava as viúvas as únicas mulheres com permissão para administrar um negócio. Não por acaso, adotou de vez o nome veuve.

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“Quando lutam para sobreviver, (as videiras) tornam-se mais confiantes de sua própria força”, diz ela no filme. Que empreendedora não se identificará com isso?

Retrato da verdadeira viúva Clicquot pintado no século 19 Foto: Reprodução

Com dois séculos e meio de história, a Veuve Clicquot mantém hoje algumas iniciativas para incentivar o empreendedorismo feminino. Entre elas estão o Bold Open Data Base, um banco de dados de empreendedoras do mundo todo, e os prêmios Bold Woman Award e Bold Future Award, dados respectivamente a mulheres reconhecidas pelo sucesso profissional e a empreendedoras que criaram ou assumiram o negócio há menos de cinco anos. As vencedoras da versão Brasil deste ano foram anunciadas ontem na Pinacoteca de São Paulo. Marcella Zambardino, cofundadora da Positiv.a, venceu o Bold Woman Award e Mariana Torres, cofundadora da Diversa Jobs, o Bold Future Award.

“Desde 1972, a Maison Veuve Clicquot dá continuidade ao legado de Madame Clicquot recompensando e promovendo mulheres empreendedoras ousadas que impactam seu setor de atividade e a sociedade”, diz o site da empresa. Nele é possível conhecer um pouco mais também sobre a história de Barbe, imortalizada por amigos e rivais como “La Grande Dame de Champagne”.

Opinião por Luciana Garbin

Editora executiva no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos

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