Era para eu ter me chamado Fernanda, costuma contar minha mãe, mas uma música acabou mudando tudo. Interpretada por Evinha, Cantiga por Luciana foi um sucesso na década de 1970, após vencer o Festival Internacional da Canção em 1969. Tanto que até hoje, quando encontro homônimas da mesma faixa etária por aí e pergunto se “foi por causa da música?”, a grande maioria das interlocutoras dá um sorrisinho e confirma: “Sim, foi”.
Imagino que os versos “Nasceu na paz de um beija-flor/ Em verso em voz de amor/ Já desponta aos olhos da manhã/ Pedaços de uma vida/ Que abriu-se em flor/ Luciana, Luciana” deva ter sensibilizado muitas mamães e papais da época. Assim como o “Sorriso de menina/ Dos olhos de mar/ Luciana, Luciana/ Abrace essa cantiga por onde passar”. O significado também é bonito: “aquela que tem luz”.
O que me intriga, no entanto, é por que, ao contrário de outros nomes antigos que têm ressuscitado ultimamente em lindas bebês, Luciana continua restrito às mulheres 40+ ou 50+. Será esse esquecimento falta de outra música de sucesso com esse nome? De algum personagem marcante em novela, filme ou série famosa? De um filho homônimo de artista ou jogador de futebol ganhando o noticiário? Ou, quem sabe, de uma influenciadora xará com milhões de seguidores?

O Censo Demográfico de 2010 indicou no Brasil a existência de 130 mil nomes diferentes. Se quiser ver o seu, dá pra consultar aqui. O País tinha então cerca de 200 milhões de habitantes e só foram computados na contagem nomes cuja frequência era maior ou igual a 20. Nesse ano, existiam 431.401 pessoas registradas com o nome Luciana - ou similares, tipo Lucianna, Lucyana, Lucyanna. Dessas, 429.769 se identificavam com o gênero feminino. A Região Sudeste era a campeã disparada no “Lucianômetro” - havia 113.049 em São Paulo, 51.030 em Minas e 50.248 no Rio.
Gráficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram, no entanto, a popularidade perdida de lá pra cá. Na cidade de São Paulo, por exemplo, enquanto em 1970 houve 15.590 bebês registrados como Luciana em cartórios, em 2000 havia caído para 615. Desde então, esse número deve ter despencado ainda mais.

Se continuar assim, em breve Luciana seguirá o destino de Ataíde, Clotilde, Delfina, Dolores, Agenor, Oswaldo, Neusa, Terezinha e outros nomes que estão desaparecendo no País, segundo levantamento do próprio IBGE com base no Censo de 2022. A não ser que algum outro hit exploda no YouTube e no TikTok. Ou um famoso com milhões de seguidores nas redes sociais o resgate das profundezas das décadas de 1970 e 1980.