Fico sempre em dúvida se digo 'a' Reserva Cultural ou 'o' Reserva. Afinal, é cinema, masculino. Fui ontem rever 'O Profeta' no Reserva, após o jogo do Brasil. Não havia muita gente - a Copa do Mundo é péssima para o negócio do cinema, mas eu insisto que vocês vejam o filme de Jacques Audiard com Tahar Rahim. Puta filme bom. Já havia gostado (muito) quando o vi em Cannes, no ano passado. Ontem, gostei mais ainda. E como é triste! A solidão do personagem, que consegue unir todo mundo contra, me destroçou, mas o final é ótimo. Não conto para não me acusarem depois de tirar a graça. Estou em casa, e cansado. Corri muito nesta segunda-feira, primeiro para tirar meu visto do México, depois para entrevistar a atriz de 'Flor do Deserto'. Que que é aquilo? Mulher mais linda, e inteligente, afetiva. Ainda não postei nada sobre 'Hoje tem Mazaropi'. O novo texto de Mário Viana está no Teatro União Cultural. Não sei se gosto tanto de Mazaropi quanto da representação que fazem dele outros artistas. Havia adorado 'Tapete Vermelho', de Luiz Alberto 'Gal' Pereira, com Matheus Nachtergaele como um pai que rasga coração para introduzir o filho pequeno no universo de Maza. O texto de Mário Viana agora imagina um primo do cômico e sua filha que não tem um pingo de talento, mas quer ser 'artista'. Como Mateus Nachtergaele, Júlio Lima cria um Mazaropi marasvilhoso. E o texto é ingênuo na medida certa, jogando com o maniqueísmo de forma inteligente. O próprio Mário Viana estava no teatro no sábado à noite. Trabalhei com o Mário no 'Estado'. Como autor, adora uma escatologia. Ele definiu 'Hoje Tem Mazaropi' com seu texto mais familiar e eu acrescento - 'em termos'. Numa das cenas, em busca da filha que partiu, Maza, a mulher e a irmã da garota vão parar na fazenda de um coronel que acaba de morrer. Seu filho aparece carregando um 'trabuco' no meio das pernas, uma indecência divertida, bem como o Mário gosta. Como o texto é cifrado, cheio de referências - para quem quiser identificar - fiquei pensando se não será, aquele 'exagero', por causa de Davi Cardoso, que usava umas calças muito apertadas, com a genitália escancarada. Era um perigo, o cara. Não por isso, claro, mas vejam o espetáculo. É bonito. E o Maza merece, com seu jeca que virou emblema do humor caipira - e popular - brasileiro.
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