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Opinião | A Academia escolheu Marte Um para tentar o Oscar

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

Fiquei sabendo que o comitê recrutado para escolher o representante brasileiro no Oscar optou por Marte Um, de Gabriel Martins. É o que eu teria escolhido também caso fizesse parte do grupo, embora houvesse excelentes alternativas entre os outros cinco da short list divulgada dias atrás pela Academia. 

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Vai dar certo? Marte Um chegará entre os finalistas ao Oscar de melhor filme internacional? Ninguém pode garantir. Se chegar, dirão que a escolha foi certa. Se não, que foi equivocada. É assim. Como no futebol, os comentários baseiam-se no resultado e, finda a partida, todos se esforçam em criar teorias para explicar como inevitável o que aconteceu. Engenharia de obra pronta. 

De antemão, não se pode dizer nada. O que esperam os votantes da Academia de Hollywood? Um filme baseado no afeto e na esperança, como este? Um filme típico de país subdesenvolvido, denunciando suas mazelas? Outra coisa qualquer? A questão é temática ou estética? Ou ambas? Não sei. Ninguém sabe. Busca-se o melhor e o resto fica em mãos alheias. Resta apenas torcer. 

Abaixo, minha crítica do filme, já publicada no Estadão. 

Marte Um 

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Luiz Zanin Oricchio

 

Marte Um, de Gabriel Martins, tem aquela rara qualidade de emocionar, fazer rir, chorar, e, ao mesmo tempo, propor reflexões ao distinto público. Como seus colegas da produtora Filmes de Plástico, Gabriel ambienta seus trabalhos em Contagem, na Grande Belo Horizonte. O tom é naturalista, descomplicado. Os diálogos, bastante trabalhados, soam naturais, do jeito que as pessoas falam, num mineirês delicioso. Contagem é seu microcosmo, seu mundo, o lugar onde tem os pés no chão - naquele sentido em que Tolstoi recomendava que, para ser universal, basta ao artista retratar sua aldeia.                                                                                                                                                                                       

De Contagem também se vislumbra o universo, já que um dos seus personagens é o garoto fascinado por astronomia. A família Martins (mesmo sobrenome do cineasta, não por acaso), compõe-se do pai, Wellington (Carlos Francisco, da mãe, Térsia (Rejane Faria), e um casal de filhos, o adolescente Deivinho (Cícero Lucas) e Eunice (Camilla Damião). 

O pai, zelador de um prédio em Belo Horizonte, sonha para Deivinho o futuro de jogador de futebol. A mãe é empregada doméstica. O garoto joga bola, mas sua cabeça vive antenada em coisas da ciência. A estudante de Direito Eunice, planeja um jeito de contar aos pais que procura um apartamento para morar com outra pessoa. 

Eis aí: uma família como tantas outras nesse Brasil. Vive-se o ano de 2018, quando é eleito o presidente de extrema-direita, em todo contrário aos anseios dessa família simples. A referência política, no entanto, não estabelece uma ligação causal, mecânica, entre o presidente disfuncional e os problemas que começam a acontecer.  É mais a sensação difusa de um ambiente tóxico que se instala e passa a afetar a vida de todos. 

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No entanto, o que mais encanta em Marte Um é seu retrato vivo da intimidade dessas pessoas comuns, gente igual a todos nós. Aos poucos - e isso por obra tanto do roteiro afinado, do ritmo e direção segura, quanto do elenco - nos sentimos parte daquela família. Rindo com eles ou nos emocionando quando enfrentam dificuldades. O filme tem humor e amor, além de muita música. Tudo nele passa verdade, esse efeito sempre buscado pelo cinema e raro de ser encontrado. Na luta pela vida, vence a ternura. 

Cotação: ÓTIMO

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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