Diário crítico (4)
GRAMADO - Os longas da Mostra Gaúcha são apresentados às 14h no Palácio dos Festivais, tradicionalmente em sessões muito quentes, com grande afluxo de público local. O primeiro concorrente, Até que a Música Pare, de Cristiane Oliveira, foi recebido com entusiasmo pelo público que lotou o cinema. É um filme invulgar, em parte falado em "talian", mescla de italiano e português, herança dos imigrantes italianos do Vêneto, que vieram em grandes levas para o Rio Grande do Sul nos séculos 19 e 20.
Chiara (Cibele Tedesco) é a matriarca de origem italiana que passa a acompanhar o marido em suas vendas pela serra gaúcha. A relação é lacônica e, aos poucos, descobrimos que existe um trauma a atormentar a vida do casal.
Tudo é exposto em camadas, que se vão desvendando aos poucos, sem pressa, num filme de cadência suave e lenta, muito envolvente.
Uma alteração no cotidiano é a chegada de uma sobrinha que se casou na Itália com um rapaz versado na crença sobre a reencarnação. Pode ser que um ente querido morto volte na forma de um animal? Mesmo num porco, ou numa tartaruguinha? Tal ideia começa a obcecar Chiara e acaba por contaminar o marido.
Enfim, é a história de um trauma familiar contado com muita delicadeza, traços de humor e certo laconismo, típico desses descendentes de imigrantes, que deram um tremendo duro para ganhar a vida e continuam a trabalhar mesmo quando já deveriam estar aposentados.
O longa foi filmado em municípios gaúchos como Antônio Prado, Nova Roma do Sul, Nova Bassano e Veranópolis. O apuro visual na captação de imagens dessa bela região é outro elemento digno de nota, discreto, sem qualquer esteticismo.
Até que a Música Pare é um filme comovente; produz aquele tipo de emoção suave e sincera, como quase não se usa mais no cinema, e no audiovisual de maneira genérica. Quase démodé numa época em que domina a histeria e a tendência a tudo demonstrar, como se o espectador fosse burro ou insensível para detectar nuances.
CURTAS E DOCUMENTÁRIOS NO CANAL BRASIL
Neste ano excepcional, devido à catástrofe climática no Rio Grande do Sul, Gramado introduziu algumas modificações em sua programação. A principal delas é a exibição de curtas-metragens nacionais e documentários na grade do Canal Brasil. Os curtas terão exibição presencial no Palácio dos Festivais, em dois blocos de seis filmes. Serão exibidos também no Canal Brasil ao longo de quatro dias em séries de três filmes por dia, sempre às 19h. Já os documentários terão exibição exclusiva no Canal Brasil em quatro dias seguidos, sempre no horário das 20h20. Abaixo, os horários e os filmes.
Curtas-metragens
12.8.Segunda-feira, 19h
Maputo, de Lucas Abrahão
Ponto e Vírgula, de Thiago Kistenmacker
Castanho, de Adanilo
13.8.Terça-feira, 19h
Pastrana, de Melissa Brogni e Gabriel Motta
A Casa Amarela, de Adriel Nizer
Via Sacra, de João Campos
14.8. Quarta-feira
Movimentos Migratórios, de Rogério Cathalá
Navio, de Alice Carvalho, Larinha Dantas, Vitória Real
Fenda, de Lis Paim
15.8. Quinta-feira, 19h
Ressaca, de Pedro Estrada
A Menina e o Pote, de Valentina Homem
Ana Cecília, de Julia Regis
Documentários
12.8. Segunda-feira, às 20h20
Toquinho Maravilhoso, de Alejandro Berger Parrado
13.8. Terça-feira, às 20h20
Mestras, de Aila e Roberta Carvalho
14.8. Quarta-feira, 20h20
Velho Chico e a Alma do Povo Xocó, de Caco Souza
15.8. Quinta-feira, 20h20
Clarice Niskier - Teatro dos Pés à Cabeça, de Renata Paschoal
16.8. Sexta-feira, 20h20
Poemaria, de Davi Kinski