BRASÍLIA - Mais um Dia, Zona Norte, uma ode às pessoas comuns que sabem reinventar suas vidas em arte e beleza, foi o vencedor do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Dirigido por Allan Ribeiro, o longa-metragem carioca arrematou sete prêmios no total - além de melhor filme, ator e atriz coadjuvante (para Victor Veiga e Valéria Silva), trilha sonora e crítica e menções especiais.
Era mesmo um dos possíveis vencedores, já que outro candidato forte, o mineiro O Dia que te Conheci, tinha contra si a falta de ineditismo, já tendo sido apresentado em vários outros festivais. No entanto, mesmo assim, foi muito bem premiado - roteiro, ator (Renato Novais), atriz (Grace Passô) e Prêmio Zózimo Bubul. Só não conseguiu o candango principal.
O soturno longa brasiliense Cartório das Almas, que discute a finitude humana em registro de ficção científica, ganhou o prêmio do Júri Popular. Além dele, conquistou os candangos de edição de som e direção de arte. Ficou de bom tamanho, isso sendo condescendente.
Já A Transformação de Canuto, concorrente mais original deste ano, levou o candango de fotografia (Camila Freitas) e direção (Ariel Kuaray e Ernesto de Carvalho). É um filme a ser revisto e discutido, com seu trabalho em tempo indígena e camadas múltiplas de significado, incluindo a metalinguagem do filme dentro do filme.
O empolgante documentário de Sandra Kogut, No Céu da Pátria Nesse Instante levou o Prêmio Especial do Júri e o de montagem (Renata Baldi e Sandra Kogut). Além do seu pique frenético, inova, entre as recentes "meditações" cinematográficas acerca da turbulenta história política do país, ao tentar compreender, embora sem grande sucesso, o outro lado. O lado daqueles que apoiaram o ex-presidente em qualquer circunstância e, inconformados com o resultado da eleição, acamparam diante dos quartéis para tentar um golpe dia 8 de janeiro.
Entre os curtas-metragens se destacaram Pastrana (melhor pelo júri oficial), Vão das Almas (júri popular) e Remendo (direção para GG Fákòlàdé, júri da crítica e ator (Elidio Netto).
A Mostra Brasília consagrou Rodas de Gigante, de Catarina Accioly, cujo personagem é o diretor de teatro Hugo Rodas, já falecido, uma referência cultural da cidade. Além de melhor longa, levou os troféus de direção e montagem.
O belo Ecos do Silêncio, de André Luiz Oliveira, levou os troféus de de fotografia e ator (Thalles Cabral). Foi subavaliado, em minha opinião.
Ainda na Mostra Brasília, o documentário Não Existe Almoço Grátis, sobre as cozinheiras do MTST (movimento dos sem-teto), ganhou o júri popular. A sessão em que foi apresentado no Cine Brasília foi emocionante.
Para finalizar, alguns comentários de fim de festa. Realizado de afogadilho, na última hora, o festival foi bom, com filmes interessantes em suas mostras competitivas e, pelo menos em algumas sessões, um agito de público como o de tempos melhores.
Salvo um ou outro senão de curadoria, a seleção foi certeira. A premiação acabou sendo justa, com algumas ressalvas, em especial na Mostra Brasília.
Como tem feito nos últimos anos, Brasília se destacou mais uma vez pelo recorte inclusivo e a favor da diversidade. Isso tem implicações políticas e mesmo estéticas. Também influi no andamento dos debates e na circulação de ideias.
A discussão estética, antes dominante nos principais festivais de cinema, recuou e quase desapareceu, surgindo em seu lugar a defesa apaixonada de causas e uma certa intolerância em relação a discursos divergentes ou simplesmente menos apologéticos. Veremos como essa nova tendência vai impactar, no futuro, a reflexão cinematográfica que, em tempos idos, era feita, exercitada e debatida também nos festivais de cinema. Hoje, as paixões são outras.
Brasília ainda teve de enfrentar um contratempo de última hora. O filme programado para o encerramento, Raoni, uma Amizade Improvável, do belga Jean-Pierre Dutilleux, foi cancelado diante de notícias de uma briga entre o líder caiapó e o cineasta. Raoni teria acusado o diretor de explorar uma parceria de 50 anos para lucro próprio. O caso ainda precisa ser apurado. Mas, talvez temerosa de manifestações, a organização do festival resolveu cancelar a sessão.
LISTA DE PRÊMIOS DO 56º FESTIVAL DE BRASÍLIA
MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL | Troféu Candango
Longas-metragens
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Oficial
MAIS UM DIA, ZONA NORTE, de Allan Ribeiro
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Popular
CARTÓRIO DAS ALMAS, de Leo Bello
Melhor DIREÇÃO
ARIEL KUARAY ORTEGA E ERNESTO DE CARVALHO, por A Transformação de Canuto
Melhor ATOR
RENATO NOVAIS, por O Dia Que Te Conheci
Melhor ATRIZ
GRACE PASSÔ, por O Dia Que Te Conheci
Melhor ATOR COADJUVANTE
VICTOR VEIGA, por Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor ATRIZ COADJUVANTE
VALERIA SILVA, por Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor ROTEIRO
ANDRÉ NOVAIS OLIVEIRA, por O Dia Que Te Conheci
Melhor FOTOGRAFIA
CAMILA FREITAS, por A Transformação de Canuto
Melhor DIREÇÃO DE ARTE
MAÍRA CARVALHO, por Cartório das Almas
Melhor TRILHA SONORA
ALLAN RIBEIRO E TIBOR FITTEL, por Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor EDIÇÃO DE SOM
OLIVIA HERNANDEZ, por Cartório das Almas
Melhor MONTAGEM
RENATA BALDI E SANDRA KOGUT, por No Céu da Pátria Nesse Instante
Melhor ROTEIRO DE TEMÁTICA AFIRMATIVA
ARIEL KUARAY E ERNESTO DE CARVALHO, por A Transformação de Canuto
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
NO CÉU DA PÁTRIA NESSE INSTANTE, de Sandra Kogut
MENÇÃO HONROSA
SILVIO FERNANDES Mais Um Dia, Zona Norte
Curtas-metragens
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Oficial
PASTRANA, de Gabriel Motta e Melissa Brogni
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Popular
VÃO DE ALMAS, de Edileusa Penha e Santiago Dellape
Melhor DIREÇÃO
GG FÁKÒLÀDÉ, por Remendo
Melhor ATOR
ELÍDIO NETTO, por Remendo
Melhor ATRIZ
JHONNÃ BAO, por Erguida
Melhor ROTEIRO
CATAPRETA, por Dona Beatriz Ñsîmba Vita
Melhor FOTOGRAFIA
PEDRO RODRIGUES, por Helena de Guaratiba
Melhor DIREÇÃO DE ARTE
CARMEN SAN THIAGO, por Cáustico
Melhor TRILHA SONORA
DJ MACHINTAL, por Helena de Guaratiba
Melhor EDIÇÃO DE SOM
DAVID NEVES, por Axé Meu Amor
Melhor MONTAGEM
BRUNO CARBONI, por Pastrana
Melhor ROTEIRO DE TEMÁTICA AFIRMATIVA
JHONNÃ BAO, por Erguida
MENÇÃO HONROSA
CIDADE BY MOTOBOY, de Mariana Vita
VÃO DAS ALMAS, de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape
MOSTRA BRASÍLIA | 25º Troféu Câmara Legislativa
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Oficial
RODAS DE GIGANTE, de Catarina Accioly
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Oficial
INSTANTE, de Paola Veiga
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Popular
NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS, de Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Popular
NADA SE PERDE, de Renan Montenegro
Melhor DIREÇÃO
CATARINA ACCIOLY, por Rodas de Gigante
Melhor ATOR
THALLES CABRAL, por Ecos do Silêncio
Melhor ATRIZ
ROBERTA RANGEL, por Instante
Melhor ROTEIRO
ROBERTA RANGEL, PAOLA VEIGA e EMANUEL LAVOR, por Instante
Melhor FOTOGRAFIA
KRISHNA SCHMIDT E ANDRÉ CARVALHEIRA, por Ecos do Silêncio
Melhor DIREÇÃO DE ARTE
JOÃO CAPOULADE, JULIET JONES E SARAH GUEDES, por O Sonho de Clarice
Melhor TRILHA SONORA
CESAR LIGNELLI, por O Sonho de Clarice
Melhor EDIÇÃO DE SOM
FERNANDO VIEIRA E FRANCISCO VASCONCELOS, por O Sonho de Clarice
Melhor MONTAGEM
SÉRGIO AZEVEDO, por Rodas de Gigante
Menção Honrosa do Júri
ESTRELA DA TARDE, de Francisco Rio
NADA SE PERDE, de Renan Montenegro
NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS, de Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel
PRÊMIOS ESPECIAIS
Prêmio Zózimo Bulbul
entregue pela Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan) e pelo Centro Afrocarioca de Cinema para os filmes que têm o corpo negro na frente e por trás das câmaras e pela inovação estética e narrativa na abordagem de subjetividades negras
Melhor curta-metragem: ERGUIDA, de Jhonnã Bao
Melhor longa-metragem: O DIA QUE TE CONHECI,de André Novais
Menção Honrosa: A CHUVA DO CAJU, de Alan Scharvsberg
Prêmio Abraccine
entregue pelo Júri da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine)
Melhor longa-metragem: MAIS UM DIA, ZONA NORTE, de Allan Ribeiro
Melhor curta-metragem: REMENDO, de GG Fák??làdé
Troféu Saruê
entregue pela equipe do Correio Braziliense para o melhor momento, filme ou personalidade no Festival de Brasília
RODAS DE GIGANTE, de Catarina Accioly
Prêmio Canal Brasil
prêmio em dinheiro entregue pela emissora para o melhor curta-metragem, que passará a integrar a grade de programação do canal
PASTRANA, de Gabriel Motta e Melissa Brogni
Prêmio Like
prêmio em dinheiro, com apoio de mídia e publicidade em veiculação entregue pela emissora ao filme reconhecido como melhor longa-metragem pelo Júri Oficial
MAIS UM DIA, ZONA NORTE, de Allan Ribeiro
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