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Opinião | Cine Ceará 2024: Um Lobo entre os Cisnes, a trajetória de um bailarino até o topo

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Na apresentação do filme, o intérprete, o bailarino e o mentor  

 

 

Diário crítico (2)

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FORTALEZA - Um Lobo entre os Cisnes, segundo longa em competição no Cine Ceará, é uma versão ficcionalizada da vida do bailarino brasileiro Thiago Soares. É dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki. 

O próprio Thiago participa de uma pequena sequência no filme. Na maior parte, é interpretado por Matheus Abreu. O mentor do bailarino, o mestre cubano Dino Carrera, é vivido pelo ator argentino Dario Grandinetti (dos filmes de Eliseo Subiela e de Fale com Ela, de Pedro Almodóvar). 

A história do personagem é a de um garoto do subúrbio carioca, craque do hip hop, que embarca numa problemática viagem à difícil arte do balé clássico. Ao entrar em contato com o professor Dino Carrera, que aprimora ao máximo o talento natural de Thiago até levá-lo ao estrelato, torna-se primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres. 

Dito assim, parece uma história de superação, entre tantas outras. Mas a roteirista Camila Agustini disse que a intenção era justamente não fazer uma história de superação, dessas que já se transformaram em clichês do cinema e da TV. De fato, conseguem evitar o óbvio. A história de Thiago, transfigurada pela ficção, torna-se bastante mais complexa. E, por isso, interessante. 

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Verdade que toda vida humana é por demasiado complicada, cheia de detalhes que não casam,  contraditória demais, a ponto que, levada para a ficção, exige ser, de certa forma, simplificada. A mesma roteirista disse que houve 36 versões diferentes para o roteiro, até chegarem, em parceria e talvez mentoria do craque Guillermo Arriaga, a uma versão definitiva. Esta seria a versão que mais se aproxima do Thiago real, ou se trata de um exercício de fantasia, convenientemente narrativa para sustentar uma ficção? Pergunta difícil de responder, mesmo se a formularmos ao próprio personagem. Importa, no fundo, que seja verossímil no contexto da obra. 

De modo que a realidade da vida e ascensão do um jovem bailarino é afunilada na relação entre Thiago e Dino, no embate entre discípulo e mestre, duas personalidades fortes que precisam se ajustar para conseguirem produzir algo em comum. E esse algo é a transformação de um amador cheio de talento em um bailarino fora de série, destaque numa atividade artística conhecida pelo rigor, pela exigência e competitividade. 

Nesse sentido, mostra-se especialmente bom o trabalho de Dario Grandinetti, ao funcionar na linha fina entre a rigidez exigente e o acolhimento, necessários para conduzir ao topo um jovem de imenso talento porém indisciplinado e autoindulgente. Essa relação caminha para o difícil estabelecimento da confiança mútua, cujo ápice é testado quando o destino resolve pregar uma peça em Dino. Bonito filme, tecnicamente bem trabalhado e atuado, que nos envolve e emociona. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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