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Opinião | Documentário 'Memórias de um Esclerosado' vence o Cine PE 2024

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
 

RECIFE - Com o destaque dado aos longas documentais Memórias de Um Esclerosado e Invisível, o Cine PE 2024 torna-se o festival da inclusão. Memórias fala de um cartunista portador da síndrome da esclerose múltipla. Invisível retrata o cotidiano de um casal surdo-cego, que mantém vida comum há 15 anos. Dois casos de PCD, sigla que circulou muito pelo ambiente do festival: Pessoas Com Deficiência.

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Quem pensa que, por essa opção, o festival se tornou palco de lamúrias, denúncias e histórias de superação, engana-se. Entre os diretores dos filmes premiados e seus personagens prevaleceu o humor e a alegria de viver. São lições de viver? Sim, sem dúvida. Mas eles parecem muito pouco preocupados em lecionar formas de se comportar ou dar lições de moral aos outros. Talvez por isso, e pela simpatia que irradiaram, tenham conquistado o carinho do público, jornalistas e frequentadores do festival. As poucas reclamações que fizeram se referiam à falta de acessibilidade no Cinema Teatro do Parque, uma edificação antiga, de 1915.

Em termos estritamente cinematográficos. Memórias de um Esclerosado era mesmo o filme a ser contemplado com o prêmio principal. Mereceu vencer e conquistar outras tantas Calungas - o troféu do festival. Muito bem construído, alternando a presença do personagem com animações feitas a partir dos seus próprios desenhos, é um longa dinâmico, que, sem esconder as dificuldades de Rafa Corrêa, tempera problemas com imbatível senso humor, ironia e nenhuma autopiedade.

Invisível também é bom, sem o mesmo brilho de Memórias de um Esclerosado. Achei um tanto redundante, em especial na parte final, embora tenha ganho o prêmio de montagem, entre outros.

O fraco No Caminho Encontrei o Vento recebeu o prêmio de ator para Alexandre Guimarães. Não está mal dado, mesmo porque não havia alternativa - e esse foi um dos problemas dessa edição do Cine PE: havia apenas dois longas de ficção em disputa de vários prêmios. Desse modo, alguns se tornaram obrigatórios, como os das atrizes de Cordel do Amor sem Fim, Márcia de Oliveira, a principal, Helena Ranaldi e Patrícia Gasppar, coadjuvantes.

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Rafael Corrêa, personagem de Memórias de um Esclerosado, foi contemplado como ator coadjuvante. Não escondeu a surpresa: "Não sou ator". Não é mesmo, a não ser que se empregue a palavra num sentido muito extenso, o de que somos todos atores de nossas vidas.

De qualquer forma, todos os longas receberam prêmios, o que não chega a ser distributivismo, pois na seleção não havia nem filmes excepcionais e nem execráveis. Uns eram melhores que os outros, e o júri assinalou essa diferença na premiação. Acho que não há do que reclamar.

Entre os curtas, os prêmios choveram para a animação Hoje Só Volto Amanhã, visão multifacetada do carnaval de Olinda. Multifacetada, mesmo porque exigiu 10 diretores (e diretoras), 10 diretores de arte, etc., para, dessa maneira trabalhosa, expressar diferentes pontos de vista sobre essa linda festa popular

Mas curta vencedor da Calunga principal foi Das Águas, registro documental do cotidiano de homens e mulheres que pescam nas águas do Capibaribe, rio que, segundo os pernambucanos, se junta ao Beberibe para formar o Oceano Atlântico.

Premiação

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MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS

Melhor Filme - Memórias de um esclerosado, de Thais Fernandes e Rafael Corrêa (RS);

Júri Popular - Memórias de um esclerosado, de Thais Fernandes e Rafael Corrêa (RS), com 67% dos votos;

Melhor Direção - Carolina Vilela e Rodrigo Hinrichsen, por Invisível (RJ)

Melhor Roteiro - Thais Fernandes, Rafael Corrêa e Ma Villa Real, por Memórias de um esclerosado (RS)

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Melhor Fotografia - Luciana Baseggio e Mari Moraga, por Geografia afetiva (SP)

Melhor Montagem - Rodrigo Séllos e Fernando Nicolletti, por Invisível (RJ)

Melhor Edição de Som - Rosana Stefanoni, por Geografia afetiva (SP)

Melhor Direção de Arte - André Cortez, por Cordel do Am (SP)

Melhor Trilha Sonora - André Paz, por Memórias de um esclerosado (RS)

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Melhor Ator - Alexandre Guimarães, por No caminho encontrei o vento (PE)

Melhor Atriz - Marcia de Oliveira, por Cordel do amor sem fim (SP)

Melhor Ator Coadjuvante - Rafael Corrêa, por Memórias de um esclerosado (RS)

Melhor Atriz Coadjuvante - Helena Ranaldi e Patrícia Gasppar, por  Cordel do amor sem fim (SP)

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS

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Melhor Filme - Das águas, de Adalberto Oliveira e Tiago Martins Rêgo

Júri Popular - Náufrago, de Vitória Vasconcellos, com 37% dos votos

Melhor Direção - Adalberto Oliveira e Tiago Martins Rêgo, por Das águas

Melhor Roteiro - Pedro Melo, por Emocionado

Melhor Fotografia - Adalberto Oliveira, por Das águas

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Melhor Montagem - Douglas Henrique, por Emocionado

Melhor Edição de Som - Romero Coelho, por Moagem

Melhor Direção de Arte - Letícia Rodrigues, por Mãe

Melhor Trilha Sonora - Marolas Crew e todo o conjunto da obra, por Das águas

Melhor Ator - Guilherme Alves, por Mãe

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Melhor Atriz - Mariana Castelo, por Emocionado

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS

Melhor Filme - Hoje eu só volto amanhã (PE), de Diego Lacerda, Luan Hilton, Chia Beloto, Marila Cantuária, Juliette Perrey, Marcelo Vaz, Yuri Shmakov, Raul Souza, Gio Guimarães, Gabriel de Moura e Rubens Caetano

Júri Popular - Hoje eu só volto amanhã (PE), de Diego Lacerda, Luan Hilton, Chia Beloto, Marila Cantuária, Juliette Perrey, Marcelo Vaz, Yuri Shmakov, Raul Souza, Gio Guimarães, Gabriel de Moura e Rubens Caetano, com 45,6% dos votos

Melhor Direção - As crianças e adolescentes da Comunidade de Macambira, por Flores da Macambira (ES)

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Melhor Roteiro - Diego Lacerda, por Hoje eu só volto amanhã (PE)

Melhor Fotografia - Ma Villa Real, por Zagêro (RS)

Melhor Montagem - Vinicius Lima e Rafael Souto, por Resistência (RO)

Melhor Edição de Som - Nicolau Domingues e Rafael Travassos, por Hoje eu só volto amanhã  (PE)

Melhor Direção de Arte - Diego Lacerda, Luan Hilton, Chia Beloto, Marila Cantuária, Juliette Perrey, Marcelo Vaz, Yuri Shmakov, Raul Souza, Gio Guimarães, Gabriel de Moura, Bruno Luna e Rubens Caetano, por Hoje eu só volto amanhã (PE)

Melhor Trilha Sonora - Vovô Romário, por Flores da Macambira (ES)

Melhor Ator - Victor di Marco, por Zagêro (RS)

Melhor Atriz - Juliana Araújo, por Jogo de classe (SP)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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