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Opinião | Eike: Tudo ou Nada ou a fragilidade essencial de todos nós

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

Tardiamente, Rô e eu fomos ver Eike: Tudo ou Nada, dirigido por Andradina Azevedo e Dida Andrade. Digo que fomos vê-lo com atraso porque o filme já entrou em cartaz faz algum tempo, foi mal de bilheteria e está de saída do circuito - pelo menos aqui em Santos. 

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Fui ao cinema meio com o pé atrás. Não simpatizo com o personagem, nem li o livro da Malu Gaspar em que se baseia o filme, Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X. Já conhecia a dupla de diretores por filmes que apresentaram em Gramado, A Bruta Flor do Querer e 30 Anos Blues. Não posso dizer que seja apaixonado por qualquer dos dois filmes. 

Mas, enfim, Eike é um tipo brasileiro que todo mundo conhece. Foi tido, durante algum tempo, como o brasileiro mais rico, número 8 do mundo segundo a revista Forbes. Foi casado com a então mulher da hora, Luma de Oliveira (Carol Castro, no filme). Vivia nas colunas sociais. Teve o ápice. Depois decaiu, perdeu boa parte da fortuna, foi preso, saiu da cadeia, e agora - leio nas páginas de economia dos jornais - tenta ressurgir como coach empresarial. Não tenho ideia do que seja essa função e nem imagino o que Eike tenha a ensinar a quem quer que seja. Mas - admito - é um personagem e tanto. 

Assim foi tratado num filme que, outra surpresa, escapa ao naturalismo e abre-se para a imaginação, pelo menos em alguns pontos. A melhor parte, a meu ver, é aquela em que Eike (Nelson Freitas) experimenta um daqueles óculos de realidade virtual ofertados por um guru picareta, e dá um mergulho de alguns minutos, em forma onírica, em seu passado, do mais remoto ao mais próximo. 

No mais, investe-se (êpa!) no processo de consolidação do império X e em sua decadência depois de uma desastrosa incursão no ramo petroleiro em plena febre do pré-sal. O círculo íntimo de Eike é interpretado por um elenco afinadíssimo - Bukassa Kabengele, Thelmo Fernandes, Xando Graça, André Matos, Juliana Alves, etc. 

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Com tais performances, a gente não se aborrece no cinema, mesmo em meio à aridez dos temas econômicos. Estes, na verdade, servem para ilustrar o que está de fato em pauta - a desmedida ambição dos ricaços, o motor central do capitalismo. Têm muito dinheiro mas, como qualquer um de nós, morrem pelo desejo de reconhecimento. Tem que ser o maior, o melhor, o mais másculo, etc. Precisa estar sempre em ascensão, porque parar significa regredir e sumir. É a fragilidade do poderoso, que o iguala a todos. Como diz aquele samba de Billy Blanco, "Maior o coqueiro/maior é o tombo do coco/Afinal, todo mundo é igual/quando o tombo termina/com terra por cima/e na horizontal". Mas os candidatos a reis do mundo não sabem disso. 

Trabalhando nessa dimensão de ascensão e queda, e registrando alguns lances do círculo íntimo do empresário, o filme não escapa a alguns simplismos. Mas evita bem os clichês. O Eike composto por Nelson Freitas não é um herói nem um vilão. Visto de certo ângulo, não passa de um coitado em busca de notoriedade. Mas, como disse Freud a respeito do pastor Pfister, "é um pobre diabo...como todos nós". 

Resumo da ópera: o filme me surpreendeu positivamente. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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