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Opinião | Em 'Nada será como Antes', a eterna juventude do Clube da Esquina

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

 

 

O Clube da Esquina não tem, nem nunca teve, sede física. Era apenas isso - uma esquina banal em Belo Horizonte, na qual se reunia um grupo de amigos para jogar conversa fora, e sobretudo, tocar suas músicas. Eram iniciantes e cheios de talento. Mas o mundo não sabia disso. E talvez eles mesmos não soubessem. Só que dessa esquina, então anônima (hoje há uma placa no local), saiu uma revolução musical que sacudiu a música brasileira nos anos 1970, com consequências até hoje. 

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Nada Será Como Antes - a música do Clube da Esquina, documentário de Ana Rieper que estreia hoje, propõe traçar o perfil desse grupo de músicos, tornados famosos no começo dos anos 1970 com o álbum duplo Clube da Esquina, assinado por dois deles, Milton Nascimento e Lô Borges. 

O fato é que esse trabalho era bastante coletivo, baseado na amizade sólida de rapazes, muito jovens, que, além de Milton e Lô, se tornaram a partir de então conhecidos do público, como Toninho Horta, Fernando Brant, Flávio Venturini, Nivaldo Ornellas, Wagner Tiso, Márcio Borges, Robertinho Silva e outros. 

Traçar um perfil coletivo é muito complicado, mas é um desafio enriquecedor que se concretiza neste filme. E que tem uma vantagem sobre congêneres - não se furta de esboçar o conjunto de influências que iria redundar nesse disco e em carreiras que depois tomaram outros rumos mas que marcaram para sempre a música brasileira. Esses meninos ouviam bossa nova, mas também jazz, os clássicos e, por fim, os Beatles, que fizeram a cabeça de muitos deles. 

Dando liga a esse coquetel sonoro comparecia algo meio místico como uma certa religiosidade mineira e mesmo a superposição rítmica talvez inspirada nas cadeias de montanhas de Minas Gerais, uma das quais circunda a capital, Belo Horizonte. "Em Minas o caldo engrossa, o tempero entranha, o sentimento se verticaliza", escreve Caetano Veloso no prefácio de Os Sonhos não Envelhecem - Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges (Geração Editorial).

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Além do mais, para sorte do filme, boa parte dos integrantes do Clube é muito articulada, como ocorre com os irmãos Borges, Márcio e Lô. Com muito humor e inteligência, evocam o passado para entender sua própria formação e identidade. O filme tem também muita música, tocada "ao vivo" durante as gravações, o que nos dá ideia do processo de criação do grupo. Filme de música precisa ter música, mas às vezes os documentaristas se esquecem disso.

Nada Será Como Antes (título tirado de uma das canções mais famosas da galera) produz no espectador uma sensação de euforia, algo como a alegria da juventude, que pode ter ficado no passado mas revive a cada vez que se ouve essa música. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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