Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião | Em sua 48ª edição, a Mostra de Cinema de São Paulo chega forte, com mais de 400 filmes, desafiando a resistência do cinéfilo

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
 

Como de hábito, a Mostra chega forte, este ano com um cardápio variado composto por 415 títulos, de 82 países, que ocuparão as telas de 29 salas na capital. A abertura para convidados foi com Maria Callas, de Pablo Larraín, sobre a célebre cantora lírica interpretada por Angelina Jolie. Larraín completa assim sua trilogia sobre mulheres de vida intensa e dramática como foram Jacqueline Kennedy (Jackie) e a princesa Diana (Spencer).

PUBLICIDADE

Quase aos 45' do segundo tempo, a Mostra marcou um golaço, anunciando a vinda de Francis Ford Coppola para o encerramento. Coppola trará a São Paulo seu filme mais recente, o gigantesco e controverso Megalópolis, e receberá da Mostra o troféu Leon Cakoff.

Entre abertura e fechamento muita água vai rolar por baixo da ponte. Entre as mais de 400 atrações, vão passar pelas telas da Mostra alguns dos filmes mais aguardados do ano, como Anora, de Sean Baker (vencedor de Cannes), Dahomey, de Mati Diop (vencedor de Berlim), além de vários outros que já passaram pelo principais festivais do mundo, como o italiano Vermiglio, indicado por seu país para disputar uma vaga no Oscar. 

O país homenageado será a Índia. Há mais de um motivo para isso, mas um dos principais é a capacidade do país gigantesco em garantir seu mercado de exibição interna, com uma produção exuberante. Servirá de exemplo para a cinematografia brasileira, que consegue produzir muito mas falha em colocar os filmes nos cinemas. 

O autor indiano homenageado com uma retrospectiva é o mais conhecido internacionalmente, Satyajit Ray (1921-1992), que ganha uma retrospectiva ampla, da qual faz parte sua famosa Trilogia de Apu. Não tenho ideia de há quanto tempo essa trilogia clássica não é exibida numa tela grande em São Paulo. 

Publicidade

Da produção indiana contemporânea, destaca-se Tudo que Imaginamos como Luz, de Payal Kapadia, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes, e que chega cheio de recomendações de quem o viu no festival francês. 

Além das atrações estrangeiras, um grande contingente brasileiro estará presente nas telas da Mostra. Destes, o mais esperado será Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, indicado pelo Brasil para disputar uma vaga na disputa pelo Oscar de melhor filme internacional. 

Mas há muitas outras opções para os que se interessam em um painel bem abrangente do atual cinema brasileiro, composto de cerca de 60 longas-metragens inéditos no circuito comercial.

Entre eles, alguns destaques: 

Malu, de Pedro Freire com Yara de Novaes interpretando a atriz Malu Rocha, mãe do diretor. O filme foi um dos vencedores do recém-encerrado Festival do Rio. 

Publicidade

Retrato de um Certo Oriente, de Marcelo Gomes, é uma bela adaptação para a tela do romance de Milton Hatoum.

Mário de Andrade, o Turista Aprendiz, de Murilo Salles é uma inventiva releitura da obra do escritor modernista. 

Odradek, de Guilherme de Almeida Prado, é um longo (mais de 4 horas de duração) filme-ensaio baseado no conto homônimo de Franz Kafka.  

São muitas as atrações brasileiras, inclusive de filmes que participaram de festivais internacionais, como Baby, de Marcelo Caetano, e Betânia, de Marcelo Botta. 

Vale apostar também em Malês, em que Antônio Pitanga aborda um episódio histórico importante e pouco explorado - a Revolta dos Malês na Bahia escravocrata. 

Publicidade

O resto é explorar os vários caminhos propostos pela Mostra. Como não é possível ver tudo, e nem mesmo uma parte significativa desse mar de filmes, o negócio é escolher. Ver os fundamentais e apostar em novas descobertas. A graça da Mostra é essa: encontrar as pepitas onde menos se espera. 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.