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Opinião | Fernanda: a força de uma interpretação contida

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

 

 

Foi lindo ver Fernanda Torres vencer e deixar para trás todas aquelas supostas favoritas ao prêmio de melhor atriz. Sua vitória pode ser fruto de uma campanha muito bem feita, mas tem tudo a ver com a qualidade excepcional de sua atuação como Eunice Paiva, uma vítima da ditadura que jamais entregou os pontos. 

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Na minha opinião, a força de interpretação de Fernanda em Ainda Estou Aqui vem da economia de meios com que ela encarna uma personagem que tinha tudo para se tornar melodramática. Ela se contém e, pela discrição, consegue transmitir - e nos envolver - com uma emoção que brota lá de trás e, portanto, cala mais fundo que qualquer sentimentalismo superficial. 

Esse prêmio - e todo buzz midiático que o acompanha - deve ter repercussão benéfica sobre a carreira de um filme que, para surpresa de muitos, caiu no gosto do público e já ultrapassou a casa de três milhões de ingressos vendidos. É bom para o cinema brasileiro. É ótimo para a cultura do país que seja relembrada a época da ditadura, ainda que pelo viés de um drama familiar. 

Esse prêmio pode ainda cacifar Fernanda Torres para o salto maior que seria a indicação ao Oscar de melhor atriz. Mas então o desafio é mais complicado. A composição da Academia de Hollywood é substancialmente diferente da do Globo de Ouro. Cerca de 300 jornalistas neste caso e quase dez mil votantes no outro. 

A vitória de Fernanda pôde se tornar realidade também pelo reposicionamento de marca do Globo de Ouro, premiação atingida por uma grave crise de credibilidade recente. Como resposta, abriu-se mais, convidou novos votantes em mais países e, com isso, pôde relativizar seu fanatismo anglo-saxão anterior.

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 Tanto Globo de Ouro como Oscar globalizam-se - em ritmos e dimensões diferentes. O que torna as premiações mais democráticas e também mais imprevisíveis. 

No mais, saíram fortalecidos da premiação Emilia Perez e O Brutalista. Devem chegar com força ao Oscar. Saem do Globo de Ouro meio que empatados. Emilia Perez ganha o troféu de melhor filme de comédia e O Brutalista, de melhor filme de drama. Emilia Perez fica com a estatueta de melhor filme em língua não-inglesa e O Brutalista com a de melhor diretor, Brady Corbet.

 Devem brigar palmo a palmo nas categorias do Oscar. São ambos bons filmes, originais e, cada qual à sua maneira, consistentes do ponto de vista da linguagem cinematográfica. Gostei dos dois. 

Os principais destaques do Globo de Ouro 2025

  • Fernanda Torres - Ainda Estou Aqui (melhor atriz de drama)
  • O Brutalista (melhor filme de drama e melhor diretor, para Brady Corbet)
  • Emilia Pérez (melhor filme musical ou comédia e filme em língua não inglesa)
  • Bebê Rena (melhor minissérie)
  • Hacks (melhor série de comédia ou musical)
  • Xógum: A Gloriosa Saga do Japão (melhor série dramática)
  • Demi Moore - A Substância (melhor atriz musical ou comédia)
  • Jeremy Allen White (melhor ator em série de comédia ou musical pelo 3.º ano consecutivo)

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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